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Cultura movimenta R$ 230 bi e gera 7,4 milhões de empregos

Os números foram levantados pelo Observatório Itaú Cultural

Em 2020, as mais de 130 mil empresas ligadas aos setores da cultura e das indústrias criativas no Brasil (3.930 somente na Bahia) movimentaram R$ 230,14 bilhões, o equivalente a 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no período. 

No mesmo período, o setor automotivo respondeu por 2,1% do PIB (dado IBGE), um ponto percentual a menos. 

E ficou pouco abaixo de outro setor muito importante para a economia do país, o de construção, que correspondeu a 4,06% do PIB em 2020.  

A cultura e a economia criativa responderam por 7,4 milhões dos empregos formais e informais no Brasil em 2022 (dados do quarto trimestre), ou seja, 7% do total dos trabalhadores da economia brasileira. O número é 4% maior que o verificado em 2021. Só no ano passado, a cultura e a economia criativa geraram 308,7 mil novos postos de trabalho no país.


Evolução dos postos de trabalho na Economia Criativa, Brasil (4º trimestre/2021 – 4º trimestre/2022) 

Os números foram levantados pelo Observatório Itaú Cultural, que desenvolveu uma nova metodologia para mensurar os impactos do setor, com base em microdados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O setor da economia da cultura e indústrias criativas engloba segmentos como moda, atividades artesanais, indústria editorial, cinema, rádio e TV, música, desenvolvimento de software e jogos digitais, serviços de tecnologia da informação dedicados ao campo criativo, arquitetura, publicidade e serviços empresariais, design, artes cênicas, artes visuais, museus e patrimônio.

“O que a gente quer chamar a atenção é a oportunidade de crescimento que tem aí e o quanto isso é gerador de emprego e renda”, disse Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, instituição à qual o Observatório Itaú Cultural está integrado.

Na Bahia

Em 2020, o setor gerou receita de R$ 6,59 bilhões na Bahia, ocupando 279.640 pessoas, cerca de 5% da mão-de-obra empregada no Estado, com rendimento médio de R$ 2.304, superior ao registrado quando se inclui os demais setores da economia baiana (R$ 1.795)

Crescimento

A economia criativa demonstrou expressivo crescimento em seu nível de emprego no 3º trimestre de 2022, comparativamente ao 3º trimestre de 2021, um aumento de 9%, com a criação de cerca de 616 mil de postos de trabalho. Dentre esses, os trabalhadores de apoio foram responsáveis por cerca de 413.652 mil novos postos de trabalhos, cerca de 67% do total.

A taxa de aumento no emprego da economia criativa mostrou-se bem menos expressiva – apresentando inclusive uma leve queda entre 2022.2 e 2022.3 (-1%) –  do que a da economia brasileira, que apresentou um aumento de 11% no nível de emprego no mesmo período.

Entre o 3º trimestre de 2021 e o 3º trimestre de 2022, todos os segmentos da economia criativa apresentaram crescimento expressivo em seus níveis de emprego, com destaque para os trabalhadores de apoio, que tiveram um crescimento de 16% no emprego (mais 410 mil postos de trabalho).

Os trabalhadores incorporados também apresentaram variação significativa no período (cerca de 195 mil postos de trabalho).

Por fim, destacam-se os trabalhadores especializados culturais, com uma variação positiva de cerca de 51 mil postos de trabalho, e os especializados criativos, que, com uma redução de cerca de 43 mil postos de trabalho no período, foi o único segmento a apresentar uma variação negativa para o período (2021.3 – 2022.3).

Entre o 3º trimestre de 2021 e o 3º trimestre de 2022, Maranhão (37%), Mato Grosso (19%) e Roraima (17%) foram as unidades federativas com as maiores taxas de crescimento no emprego na economia criativa, puxadas principalmente pelas categorias de Moda e Atividades Artesanais.

Apesar de apresentar menores variações percentuais, os estados que apresentaram maior crescimento em número de postos de trabalho no período foram São Paulo (295.576), principalmente devido às categorias de Tecnologia da Informação e Publicidade e Serviços Empresariais, e Rio de Janeiro (79.962), devido às categorias de Tecnologia da Informação e Cinema, Música, Fotografia, Rádio e TV.

No período entre 2020.3 e 2022.3, todos os estados apresentaram variações positivas, com exceção de Sergipe (-35%), com uma queda de 21.499 postos de trabalho. 

Negros

A participação de negros (agregado de pretos e pardos) na economia criativa mostra-se menos expressiva do que para o agregado da economia brasileira e, mesmo, comparativamente à composição étnico-racial da população brasileira.

Enquanto 56% dos cidadãos brasileiros com 10 anos ou mais se autodeclararam pretos e pardos (IBGE, 2021), entre o 3º trimestre de 2021 e o 3º trimestre de 2022, a participação de trabalhadores negros no total de ocupados na economia criativa foi de, em média, 41%, ante os 54% observados na economia brasileira.

A participação de brancos no mercado de trabalho da economia criativa (58%, em média) é mais expressiva do que para o agregado da economia brasileira (45%).

Quanto aos trabalhadores criativos (trabalhadores especializados e incorporados), observa-se que os pretos e pardos possuem participação mais significativa no emprego nas ocupações culturais (ou seja, nas áreas de Atividades Artesanais, Artes Cênicas e Artes Visuais, Cinema, Música, Fotografia, Rádio e TV e Museus e Patrimônio) do que nas demais ocupações criativas (Arquitetura, Design, Editorial, Gastronomia, Moda, Publicidade e Serviços Empresariais e Tecnologia da Informação).

Ao se considerar pretos e pardos, os trabalhadores de ocupações culturais representam pouco mais de 50% do total somente no segundo trimestre de 2022.

Em relação à remuneração média, todos os grupos raciais têm aumentado seu nível salarial nominal ao longo dos anos na economia criativa.

Em 2022.3, a média salarial na economia criativa (R$ 3,8 mil) supera a média salarial para o agregado da economia brasileira (R$ 2,7 mil) em cerca de 40%. Contudo, os salários médios de pretos e pardos seguem sendo cerca de 50% menores do que os dos trabalhadores brancos da economia criativa – esta diferença é ainda maior no agregado da economia, com pretos e pardos recebendo cerca de 70% menos que trabalhadores brancos.

Parte dessa explicação está na diferença do nível de escolaridade dos trabalhadores do setor cultural e criativo para diferentes grupos raciais.

Dentre os trabalhadores brancos predomina a formação de ensino superior completo, enquanto para trabalhadores pretos e pardos predomina a formação de ensino médio completo.

Por gênero

As mulheres recebem menos do que os homens em todos os grupos raciais analisados, mas os trabalhadores brancos de ambos os gêneros recebem mais do que os trabalhadores pardos e pretos.

As grandes diferenças refletem questões raciais e de gênero ao longo de toda série histórica: o salário das mulheres pretas mantém, ao longo da série histórica, uma média quase 70% menor do que a dos homens brancos da economia criativa.

No agregado da economia brasileira esta diferença é ligeiramente menor – ainda que bastante intensa -, com mulheres pretas e pardas recebendo um salário 55% menor que homens brancos.

Em 2022.3, na economia brasileira, enquanto homens brancos recebem em média R$ 3,8 mil, homens pretos e pardos recebem em média R$ 2,2 mil; as mulheres brancas, por sua vez, recebem R$ 2,9 mil e as mulheres pretas e pardas cerca de R$ 1,8 mil.

Em relação à média nacional brasileira, homens brancos trabalhadores da economia criativa recebem, em média, salários que são cerca de 40% maiores que de homens brancos, 90% maiores que o de mulheres brancas, 150% maiores que o de homens pretos e pardos e 200% maiores que o de mulheres pretas e pardas.

Hábitos Culturais

Desde 2020, o Itaú Cultural, em parceria com o Datafolha, realiza a pesquisa “Hábitos culturais” para mapear o consumo de cultura do brasileiro. Iniciada durante a pandemia, ela se manteve pelos anos seguintes.

A primeira edição revelou a vontade de 66% dos entrevistados em retomar as atividades culturais com a flexibilização das restrições, sendo o cinema a atividade mais desejada.

Outro estrato possível foi quanto às desigualdades quanto ao acesso à cultura/equipamentos culturais.

Pessoas residentes em cidades do interior do país, com idade entre 45 e 65 anos, pertencentes às classes econômicas D e E, e com escolaridade até o ensino fundamental, foram as que menos realizaram atividades culturais entre 2019 e 2020.

Em 2021, o tema saúde mental foi incluído com o objetivo de compreender como as atividades culturais colaboram para a promoção da qualidade de vida dos brasileiros, para a redução da ansiedade e do estresse, para uma melhora no relacionamento em casa e para a diminuição da sensação de solidão e de tristeza.

Na estratificação por classe econômica, a diminuição da sensação de solidão foi especialmente importante para indivíduos pertencentes à classe C.

Sobre as atividades culturais realizadas, o consumo on-line cresceu à medida que os brasileiros passaram mais tempo conectados.

Entre 2020 e 2021, o acesso a apresentações artísticas de teatro, dança e música dobrou para 40%, o consumo de podcasts chegou a 39%, de jogos subiu 11%, chegando a 43%, e o de filmes e séries saiu de 68% para 75%. última edição, em 2022, mostra que, com o fim da pandemia, a retomada às atividades culturais presenciais não foi como o esperado.

Cerca de 62% dos entrevistados afirmaram não ter voltado presencialmente às atividades culturais com a mesma frequência.

O cinema, citado como a atividade mais desejada para a volta, só foi prestigiado por 26% dos entrevistados.

Gastos com cultura foram incluídos na pesquisa da terceira edição (2022). O gasto médio com atividades culturais on-line é de R$ 128; com as presenciais, R$ 178. Em um recorte por classe social, a pesquisa mostra que as classes D e E comprometem muito de seu salário com atividades culturais presenciais (R$ 173 em média) e, ao mesmo tempo, é o grupo com maior porcentagem de pessoas que não gastam nada.

A última edição da pesquisa, em 2022, revela que entre realizar a mesma atividade no online ou no presencial, a preferência é nitidamente para o presencial. Apenas em “projeto artístico guiado” há empate entre as opções; seminários são a segunda das atividades testadas com maior vocação para a participação online.

De modo geral, as três edições da pesquisa revelam que, indivíduos pertencentes à classe A/B, pessoas com ensino superior e jovens entre 16 e 24 anos são os que mais fazem atividades culturais tanto na versão online quanto na presencial.

Como consome: a preferência é sempre pelas atividades presenciais, quando elas acontecem também no on-line.

As motivações principais para essa escolha são o contato pessoal, a credibilidade e a emoção. Para quem prefere o on-line, a comodidade, a flexibilidade de horário e a não necessidade de deslocamento são os principais motivadores, além da questão de economizar dinheiro, que aparece em quinto lugar.

Metodologia

O PIB da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas do Observatório Itaú Cultural foi elaborado principalmente a partir do critério de renda, o que engloba massa salarial, massa de lucros e outros rendimentos auferidos por empresas e indivíduos no país.  

A metodologia foi desenvolvida por um grupo de pesquisadores, liderado por Leandro Valiati, professor e pesquisador da University of Manchester, no Reino Unido, e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O indicador seguirá em constante aprimoramento. 

Para determinação do PIB da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas foram utilizados dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNADc/IBGE), da Relação de Informações Sociais (RAIS), do Programa de Avaliação Seriada (PAS) e da Pesquisa Anual de Comércio (PAC), além das Tabelas de Recursos e Uso do IBGE (TRU)para contabilização dos impostos e o histórico de prestação de contas da lei Rouanet. 

Como algumas bases de dados não foram totalmente atualizadas em relação a 2021 e 2022, o primeiro levantamento do PIB da cultura do Observatório Itaú Cultural só conseguiu determinar o valor da geração de riquezas produzido da cultura e indústrias criativas até 2020. O Observatório do Itaú Cultural seguirá atualizando a plataforma e aprimorando os indicadores.  

Para a formulação do modelo foram considerados como indústrias criativas os segmentos de moda, atividades artesanais, indústria editorial, cinema, rádio e TV, música, desenvolvimento de software e jogos digitais, serviços de tecnologia da informação dedicados ao campo criativo, arquitetura, publicidade e serviços empresariais, design, artes cênicas, artes visuais, museus e patrimônio.  

O primeiro levantamento do Observatório Itaú Cultural com a metodologia mostra que o PIBdaEconomia da Cultura e Indústrias Criativas (ECIC) vem crescendo de forma mais acelerada que o total da geração de riquezas no país nos últimos anos. De 2012 a 2020, o PIB dos segmentos criativos, em números absolutos, experimentou crescimento de 78%, enquanto a economia total do país avançou 55%. A participação do PIB da ECIC era de 2,72%, em 2012, e saltou para 3,11%, em 2020.  

De acordo Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, instituição à qual o Observatório Itaú Cultural está integrado, “a nova plataforma traz a real dimensão da contribuição da cultura e das indústrias criativas para o desenvolvimento econômico do Brasil”.  Segundo Saron, o novo modelo traz dados confiáveis para orientar corretamente as políticas públicas. “Agora temos um indicador para nortear o debate. A economia da cultura e das indústrias criativas são fundamentais para a geração de emprego e renda no país”. 

“A construção do indicador foi um processo longo e bastante cuidadoso e envolveu consultas a especialistas no Brasil e no exterior”, diz Leandro Valiati, coordenador do novo PIB da Cultura e das Indústrias Criativas. “Fizemos pesquisas qualitativas com pesquisadores nacionais, oficinas com pesquisadores internacionais, verificamos especificidades da economia brasileira e tendências internacionais para chegar ao indicador, que é comparável internacionalmente”, observa. O trabalho envolveu quatro pesquisadores estrangeiros e 30 brasileiros que são referência no tema. 

De acordo com o Observatório do Itaú Cultural, a participação do PIB dos segmentos no país é maior do que o verificado na África do Sul (2,9%), Rússia (2,4%) e México (2,9%), para dar alguns exemplos internacionais. 

Fonte / Imagens: Reprodução LeiaMaisBa

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