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Hipismo: Marina Azevedo, course-designer brasileira, é a primeira mulher a armar um Pan-americano no Chile 2023

“A minha maior expectativa não é ser a primeira mulher, o que para mim não faz muita diferença. Mas nesse Pan, pela primeira vez, nós vamos ter todos os países com o melhor time porque não temos nenhum país das Américas classificado para Paris 2024”, afirma Marina.

A elite do esporte nas Américas já está em forte contagem regressiva para os Jogos Pan-americanos 2023, entre 20/10 e 5/11, em Santiago, no Chile. Para os Times Brasil de hipismo, a disputa nas três modalidades olímpicas – Salto, Adestramento e Concurso Completo de Equitação na Escola de Equitação do Exército Quillota na região de Santiago – vale vaga do país para os Jogos Olímpicos 2024.

No Salto, porém, a escalação da course-designer internacional brasileira Marina Azevedo – que traz na bagagem quase três décadas de experiência armando os melhores concursos internacionais – é um grande diferencial. “Para mim foi uma surpresa, fiquei bastante feliz em poder desenhar o Pan-americano no Chile. Eu comento com os colegas que nunca tive isso como objetivo na minha carreira”, contou Marina Azevedo, logo após sua atuação com delegada técnica nos Jogos Sul-americanos – Odesur 2022 no Paraguai, onde o Time Brasil de Salto garantiu ouro e carimbou o passaporte para Pan. “Na verdade, o que mais estou criando expectativa não é ser a primeira mulher, isso para mim não faz muita diferença. Mas nesse Pan, pela primeira vez, nós vamos ter todos os países com o melhor time porque não temos nenhum país das Américas classificado para Paris 2024.”

Para Fernando Sperb, presidente da CBH, a convocação da armadora brasileira “foi primeiramente um mérito individual da Marina, que além de sempre estar atualizada tem um talento peculiar de preparar percursos agradáveis, seguros, mas ao mesmo tempo muito técnicos e difíceis de serem superados sem faltas. Chama muito a atenção, também, como a Marina consegue desenhar um percurso que em todos os lugares podem surgir faltas e dificuldades, mas sempre permitindo a boa equitação e a evolução de cavalos e atletas. Para além de tudo isso, é mais uma course- designer honrando as cores do Brasil e mostrando a qualidade dos nossos oficiais mundo afora. Um orgulho!”

De fato, construir uma carreira, até o mais nível do course-design, requer muito trabalho e experiência. Marina também competiu com sucesso na modalidade Salto, o que, sem dúvida, é mais um importante diferencial. “Eu acho que faz todo sentido, talvez não necessariamente ter montado, mas a pessoa tem que viver o cavalo entender o esporte e a modalidade. Eu por exemplo, jamais poderia ser juíza de Adestramento”, coloca a course-designer.

“No entanto, ter montado, ajuda muito a entender o cavalo, no plano, na batida e no cansaço, depois de três, quatro, dias competição. Cheguei a saltar GPs, fui campeã mineira de Junior, vice brasileira Mirim e campeã brasileira Senior a 1.45m”, lembra Marina.

Grandes nomes do course-design internacional são parte do aprendizado de Marina, seja como assistente em Pan-americanos, Olimpíadas, Copas do Mundo, atuando ao lado ou em cursos com os alemães Arno Guego, Christa Jung, Frank Rothenberger, Olaf Peterson, o venezuelano Leopoldo Palacios, a norte-americana Linda Allen, o espanhol Javier Paz, além, é claro, o brasileiro Guilherme Jorge, armador dos percursos na Rio 2016 e no Pan Rio 2007, onde Marina também atuou como assistente.

O cavaleiro olímpico e medalhista pan-americano Vitor Alves Teixeira, um dos mais premiados ginetes brasileiros de todos tempos e renomado treinador, também fez a diferença na carreira de Marina. “O Vitor também foi responsável pelo meu aprendizado, porque foi meu treinador e quando comecei a armar sempre me orientou e apoiou muito nesse processo. Pelo fato de ter montando, sempre contei com sugestões e críticas positivas dos cavaleiros brasileiros em geral. A gente brinca que quem arma no Brasil pode armar em qualquer lugar, porque nossos cavaleiros são muito críticos e nos fazem cada vez melhores.”

Atualmente, Marina, no Exterior, atua especialmente em eventos nos EUA, México, além de fazer parte do time em Pan-americanos, Finais de Copas do Mundo e Mundiais, CHIO Aachen. “Nos Pan-americanos Rio 2007 e Toronto 2015, atuei como assistente. No Pans da República Dominicana 2003 e Guadalajara 2011 fui voluntária. Também fui assistente em Final de Copa do Mundo em Las Vegas, CHIO Aachen e nos Jogos Equestres Mundiais 2010 em Kentucky, voluntária”, conta Marina, course-designer oficial em Concursos 5* HITS Thermal, HITS Saugerties, Traverse City, Ocala, nos EUA, e grandes eventos no México. No Brasil, é claro, Marina já armou edições de todos os principais GPs e Campeonatos.

Porém, Marina, diretora do Colégio Múltiplo – Internacional em Campinas e mãe de família, esposa, precisa administrar bem seu tempo. E fica também a pergunta: como mulher ser course-
designer é difícil, o meio é machista?

Várias pessoas me fazem essa pergunta. Eu não acho que o meio seja machista. Eu nunca senti que por ser mulher eu tenha sido menosprezada, nem pelos cavaleiros, nem as pessoas que trabalham na pista. Mas, penso que, nesse mundo, a princípio tem muito homem. Eu brinco que o clube dos homens acaba gerando relacionamento que gera mais opções de trabalho em concursos para os homens”, analisa Marina.

“Quando você tem família é muito difícil passar quatro, cinco semanas fora. Hoje meu filho do meu primeiro casamento já é adulto. Quando jovem, era complicado levá-lo nas viagens e participar dos eventos na escola, aniversários e assim por diante”, lembra Marina. “Quanto à minha profissão como diretora de uma escola particular internacional, o processo online ajuda muito. Mas mesmo assim, ao longo do ano, eu só trabalho em 15 concursos. Considero que para viver do course-design um armador tem que fazer no mínimo 30 concursos ao ano.”

Finalmente, Marina também analisou o desenvolvimento do esporte nos últimos anos, considerando a evolução dos pisos, criação e outros pontos. “Esse piso rápido, que passou a ser usado há cerca de 15 anos, faz com que o cavalo tenha uma chegada mais rápida, mudando as distancias”, explica Marina.

“Por exemplo quando eu montava uma linha de 21 metros era de cinco lances. Hoje em dia, em 25, 24 e 23 metros o cavalo pode dar cinco lances. Mas antes isso era impossível, porque o cavalo pisava mais fundo. Hoje, como piso é muito rápido, o cavalo dá menos lances, porque a passada/o galão dele é maior”, complementa a course-designer. “A criação mudou muito também, com o estudo das melhores linhagens, o esporte nos últimos 15 anos vem sofrendo uma mudança enorme. O nível técnico dos conjuntos está cada vez mais elevado, com cavaleiros e cavalos mais preparados. Temos mais percursos sem faltas, o que é bom para o público também, porque sempre o processo de desempate é muito legal.”

E, sem dúvida, a armação também é fundamental para evolução do cavaleiro e cavalo. “Isso faz parte do nosso trabalho, principalmente quando a gente arma para cavalos novos e crianças, é sempre ter o intuito de prepará-los para algo maior”, enfatiza. “A gente precisa saber diferenciar muito bem quando desenhamos um estadual, nacional, internacional ou um campeonato.”

Faltando apenas cinco meses para Pan-americano 2023 a expectativa tende a crescer. “Realmente teremos um Pan de padrão altíssimo. Por enquanto estou calma, mas acredito que a partir de agosto quando preparar os desenhos estarei nervosa”, explica Marina, que acompanha todo o processo desde a pesquisa cultural no Chile para preparar os obstáculos, a idealização, que são aprovados pelo Ministério da Cultura no Chile, a licitação para confecção dos mesmos e quantidade. Além, é claro, de todo maquinário, técnico e humano, necessário para uma competição de salto. “Eu tenho que agradecer a todos que estiveram comigo ao longo desses anos. Agradeço aos tratadores, professores, cavaleiros, países que me receberam e todas pessoas e organizadores que me deram a oportunidade de trabalhar”, finaliza Marina. 

Fonte / Foto: ASCOM CBH

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