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Você tem filhos?

A educação dos filhos é uma tarefa desafiadora e, ao mesmo tempo, envolve uma combinação de amor, paciência, compreensão e disciplina. Com base em meus estudos acadêmicos, empíricos e pessoais, tenho algumas propostas que considero que possam ajudar os pais a promoverem um desenvolvimento saudável e feliz para seus filhos. Lembrando que cada criança é única e os pais devem adaptar sua abordagem de comum acordo entre si, a partir da observação em relação aos filhos.

Estabelecendo um apoio de amor e segurança, onde os filhos sintam-se amados e seguros em seu ambiente familiar, construímos uma base sólida para seu desenvolvimento emocional e confiança em si mesmos.

As crianças aprendem muito observando as atitudes dos adultos ao seu redor. Portanto, é importante ser um modelo positivo, um bom exemplo, agindo de acordo com os valores, atitudes e comportamentos que você deseja vincular aos seus filhos.

Gere um ambiente onde seus filhos sintam-se à vontade para expressar seus pensamentos, sentimentos e preocupações. Na psicanálise chamamos esse movimento de “estimular a comunicação aberta”. Isso fortalece o vínculo entre pais e filhos e promove a confiança. Por experiência própria, posso garantir que funciona. Quando estiverem adultos, com 25 anos de idade, eles ainda vão te procurar para uma conversa e vão te ouvir e considerar o que você diz.

Estabelecer limites não vai fazer com que seus filhos não gostem de você. Eles ficam bravinhos na hora, contudo é importante definir limites adequados para o comportamento de seus filhos e garantir que sejam conscientemente aplicados, ou seja, que eles entendam por qual motivo estão vivenciando esse momento. Isso ajuda as crianças a entenderem suas expectativas e desenvolverem a autodisciplina. As crianças precisam entender o que é certo e errado para a família na qual estão inseridas. É primordial que você, pai/mãe, faça de forma consistente, pensando naquela criança com 30 anos, não como naquela criancinha linda e indefesa que amamos mais que tudo no mundo, que está chorando na sua frente. Eles choram quando não estão entendendo o motivo da disciplina. Você choraria se não compreendesse por qual motivo o seu superior quer o trabalho da forma dele e não da sua. Portanto, com amor e respeito, você vai ajudar a ensinar a responsabilidade e a consequência de suas ações e, principalmente, vai ajudá-los que aos 30 anos de idade eles tenham habilidade para lidar com seu superior dentro de uma empresa, com seu sócio, com seus funcionários, com seu cônjuge. Com a disciplina bem elaborada, você vai encorajar nos seus filhos a autonomia e tomada de decisões.

Reconheça e elogie o que seu filho faz de bom. Isso fortalece sua autoestima e incentiva a repetição de boas atitudes quando damos a ele reforço positivo. Você também pode, junto com o elogio, incentivar seu filho a encontrar soluções para os desafios que enfrenta, incentivando-o a pensar de forma criativa e considerar diferentes perspectivas.

As crianças aprendem melhor quando estão envolvidas em atividades lúdicas e de exploração. Então, enquanto pais incentivarem a curiosidade e a descoberta, fornecendo oportunidades para que seus filhos explorem o mundo ao seu redor, será maravilhoso. Nem preciso dizer que essa parte deve ser acompanhada por vocês de maneira segura e supervisionada, não é mesmo?

Agora eu vou dizer o que eu acho primordial, indispensável, essencial, e que deveria ser uma prática constante e diária: Dedique tempo exclusivo para estar com seus filhos, seja brincando, lendo histórias, conversando ou fazendo atividades juntos. Você que vai sair para lavar o seu carro no posto? Leve seus filhos, explique para eles sobre o carro, sobre a necessidade do carro ser limpo; será uma ótima oportunidade para você explicar a participação deles na higiene interna do carro. Você que vai preparar um feijão para cozinhar? Mostre aos seus filhos que existem grãos que não estão muito bons (por óbvio se for criança que não leva mais esse tipo de objeto na boca). O nome disso na psicanalise é “tempo de qualidade” e fortalece laços, e cria memórias preciosas. Você que vai à feira, se for um ambiente salutar e não algo grande, leve seus filhos, mostre a eles as verduras, frutas, legumes, mostre a eles a pessoa que traz o alimento para casa, aquela pessoa que passou a semana colhendo, separando e limpando para poder fornecer à sua família o alimento sagrado.

Eu poderia falar muito mais sobre esse assunto. Eu fui educada dessa forma, pois meus pais, pessoas simples que mal tinham o ensino médio e que foram para o Centro-Oeste do Brasil junto com Juscelino Kubitschek construir Brasília, tiveram sua primeira filha, minha irmã primogênita em 1962, a do meio (eu que vos escrevo) em 1969, e a mais nova em 1975.

Meus pais foram sábios em conversar sobre nossa educação. Minha mãe ficava em casa conosco e meu pai trabalhava. Logo, a mãe era a mais dedicada na educação. Agora imagina com filhas de idades tão diferentes?! Ela foi malabarista. Minha mãe não fazia um relatório para meu pai do que havia acontecido em relação aos desafios na educação e com disciplina, mas ela falava o que a tínhamos feito de bom e meu pai, todo orgulhoso vinha nos elogiar, o que garantiu nossa autoestima.

Lembro-me de quando eu tinha uns oito anos de idade, e esperava meu pai chegar para ouvirmos juntos o radinho dele após o jantar. Ouvíamos de tudo: futebol, música, política e até sobre a guerra fria, que o meu pai explicava. Sabem o que foi isso? Tempo de qualidade. Não durava muito mais que uma hora por noite, ou às vezes ele chegava mais tarde, pois fazia plantão e ligava para minha mãe para avisá-la e ela me sinalizava que “eu podia ficar no radinho, mas que o pai ia demorar”. Eu sentia ele me levando para o berço quando chegava do plantão. Isso é mais “tempo de qualidade”, apenas para eu não ficar esperando, e, com isso, não desenvolvi o sentimento de abandono em relação ao meu amado pai. Entendem a sutileza de uma boa educação? Pequenos atos. Não o precisa de um iPad/iPhone todo o tempo na mão da criança. Quem tem precisado disso nas mãos dos filhos são os pais.

Ter filhos não é fácil em época nenhuma, não podemos acreditar que no tempo de nossos avós e pais era mais fácil. Não. Não era! Minha mãe não permitia novelas na televisão, apenas desenhos e ainda recebia críticas do meu pai sobre a questão da TV. E, graças a isso, eu sei muito sobre música, muito mesmo, politica, futebol, literatura.

Quantas boas memórias… Todas as épocas tivemos desafios. Imagine seu filho indo para a Segunda Guerra Mundial? Imagina seu filho hoje na guerra da Ucrânia?

Sejam dedicados, sejam pais amigos, sejam gratos por seus filhos serem agitados, pois estão saudáveis. Saiam com eles, brinquem com eles. Meu filho hoje neste momento que escrevo está na Espanha, primeira viagem internacional. Trabalha aqui em Brasília. Foi convidado para fazer uma visita na sede em Barcelona. Me falou feliz que ia dar um rolê na Espanha. Sabe o que eu disse a ele, primeiramente? Filho, se te convidarem para ficar na Espanha, fique. Eu resolvo tudo com seu cachorro e sua namora para irem depois. Ele se assustou e disse: não, só vou conhecer. Mas, e se ele for convidado e tiver receio de aceitar por deixar o pai, a mãe, namorada o cachorro? Não é fácil em época alguma, em nenhum momento. Eu eduquei aquele garotinho sempre pensando que ele seria um homem de 1.94cm e que, quando ele olhasse para baixo para falar comigo, tivesse o mesmo respeito que tinha quando olhava para cima. Ele me abraça e me beija na testa sempre quando entra e sai de casa, faz o mesmo com o pai.

Sejam sábios, aproveitem suas crianças, tirem muitas fotos. Um dia eles vão para o mundo e o elo que terão com vocês serão as boas memórias, as piadas internas, a confiança e o prazer de voltar para casa.

Um sábio provérbio oriental nos lembra que: “Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes”.

E é claro que eu estou aqui nesses escritos, falando para uma família estruturada, sem pais com dependência química, distúrbios de personalidades e tantas coisas que assistimos que fazem nossas crianças estarem nas ruas, correndo riscos inimagináveis. Por óbvio falarei desses casos também e como podemos tentar ser mais ativos nisso, sem contar só com a ajuda do governo.

Angélica Bessa | @angelicaabessa

Foto: Canva

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1 comentário

Duda Julho 6, 2023 at 9:48 pm

Excelente artigo.

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