A reputação dos jornalistas está sob ataque na América Latina e no resto do mundo. O estudo “Não apenas palavras: Como os ataques à reputação prejudicam os jornalistas e minam a liberdade de imprensa” [“Not just words: How reputational attacks harm journalists and undermine press freedom”, no original] descobriu que a maioria dos jornalistas entrevistados sofreu danos à própria reputação pelo menos uma vez por mês, sendo os políticos e as autoridades as fontes mais comuns dessas agressões.
O estudo foi liderado pelo Global Reporting Centre da Universidade de British Columbia em colaboração com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, o The Disinformation Project da Universidade Simon Fraser e o PEN Canadá. E os seus resultados provêm de uma pesquisa global com 645 jornalistas e de entrevistas detalhadas com 54 profissionais de meios de comunicação.
Dos 645 jornalistas que responderam à pesquisa, 156 eram da América Latina. E, dos 54 jornalistas entrevistados, 17 eram da América Latina.
No Brasil, que ocupa o 110º lugar entre 180 países no ranking de Liberdade de Imprensa da Repórteres sem Fronteiras, 32% dos jornalistas entrevistados disseram que enfrentaram ataques semanais à reputação. Nada menos do que 59% identificaram políticos ou funcionários públicos ligados ao governo como fonte desses ataques, em 2022.
Segundo o levantamento, as consequências desses ataques à reputação atingem diretamente os profissionais da mídia e também a sociedade, visto que 59% dos entrevistados disseram que sofreram danos na saúde mental, 59% alteraram ou evitaram informar sobre questões devido devido a ataques à reputação e 39% pensaram seriamente em abandonar o jornalismo devido a ataques à reputação e assédio.
“Cada vez mais vemos líderes de países supostamente democráticos depreciarem os meios de comunicação social, classificando os jornalistas como ‘inimigos do povo’, indignos de confiança. Não admira que os corruptos, os abusadores do poder, semeiem essa narrativa”, disse Jodie Ginsberg, presidente do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, no relatório.
“Infelizmente, porém, essa narrativa está cada vez mais disseminada entre a população em geral, que desconfia cada vez mais de todos os jornalistas. Isto mina a credibilidade do jornalismo e contribui para uma crescente insegurança para jornalistas ao redor do mundo”, completa.
Números da FENAJ corroboram
Para a presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Samira de Castro, os dados do estudo da Universidade de British Columbia vão ao encontro dos números do Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil 2022, lançado pela entidade em janeiro desse ano, que mostram a descredibilização da imprensa como a principal categoria de violação ao exercício do jornalismo no país, com 23% dos casos no ano passado.
A dirigentes sindical reforça, ainda, que o levantamento da FENAJ também apontou Bolsonaro e seus apoiadores como principais agressores de jornalistas. “O ano de 2022 encerrou o ciclo de Bolsonaro na Presidência da República, um período em que houve uma institucionalização da violência contra jornalistas, por meio de uma prática governamental sistemática de descredibilizar a imprensa e atacar seus profissionais”, afirma.
Segundo a FENAJ, em 2019, foram registrados 208 casos de violência contra jornalistas, 54,07% a mais do que os 135 episódios de 2018. No ano de 2020, houve uma verdadeira explosão do números de casos: 428, significando um aumento de 105,77% se comparado com 2019. Em 2021, 430 ocorrências estabeleceram um novo recorde e, no ano passado, 376 casos foram registrados.
“Nos quatro anos, o principal agressor foi Jair Bolsonaro, que atacou pessoalmente a imprensa e ainda incentivou seus apoiadores a também se tornarem agressores”, pontua Samira de Castro. De 2019 a 2022, Bolsonaro realizou 570 ataques a veículos de comunicação e aos jornalistas, numa média 142,5 de agressões por ano; uma agressão a cada dois dias e meio.
Com informações de LatAm Journalism Review
Fonte / Imagem: ASCOM FENAJ