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Sala de Vacina: como a imunização mudou o Brasil e o mundo

Novo podcast marca os 50 anos do Programa Nacional de Imunizações.

“Se tem uma coisa mais brasileira do que samba e futebol, é a marquinha da vacina BCG no braço”.

É com essa frase que o podcast Sala de Vacina começa uma jornada em cinco episódios para entender como a vacina mudou o mundo e o Brasil, e virou parte da nossa identidade nacional.

A série original da Radioagência Nacional e do jornalismo da Rádio Nacional marca os 50 anos do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que faz aniversário neste 18 de setembro.

Além de ser direcionado ao ouvinte final, as rádios podem baixar o conteúdo e incluir em suas programações.

A cada segunda-feira, você vai conhecer como a vacina funciona e que doenças já conseguiu erradicar, como o nosso país passou da histórica Revolta da Vacina para ser referência mundial em imunização – e por que as taxas de cobertura vacinal  aqui no Brasil vêm caindo anualmente, além de entender como os profissionais da área estão tentando mudar esse quadro.

No primeiro episódio, Da Vaca, a jornalista Tâmara Freire conta como bovinos, ordenhadeiras infectadas com varíola e um menino de 8 anos se juntam ao médico Edward Jenner, em 1796, na história da primeira vacina do mundo.

O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, explica o princípio geral da vacina que foi descoberta nessa ocasião, e que até hoje vem mostrando resultado para outras tantas doenças.

“As vacinas foram desenvolvidas, todas elas, independente da sua tecnologia, com o mesmo intuito: estimular o nosso sistema imunológico, as nossas defesas a produzir os anticorpos, sem que isso cause a doença na pessoa. Ou seja, nós enganamos o nosso sistema imune, apresentamos a ele algo que se pareça com o agente causador da doença, para que estimule uma resposta. Para quando nós encontrarmos de fato esses microrganismos na vida real, nós já estejamos com uma resposta imune para não adoecer. Ou adoecer de forma mais leve”.

Essa “atriz” fez longa carreira, erradicou a varíola do mundo todo na década de 1970 e elevou a expectativa de vida das pessoas como nenhuma outra invenção já fez, segundo o médico Guido Levi, que tem um longa carreira em instituições públicas ligadas à vacinação, e atualmente é membro da Comissão Permanente de Assessoramento em Imunizações da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo.

“O Centros de Controle de Doenças dos Estados Unidos publicou, em 1999, uma avaliação com os fatores que mais aumentaram o tempo de vida média da população americana e a diminuição das doenças que causavam problemas sérios nessa população. Vários fatores foram valorizados, mas em primeiro lugar vieram as vacinas. Isso vale para o mundo todo. Para ter ideia, calcula-se que no mundo todo nos últimos 200 anos as vacinas seriam pessoalmente responsáveis por um aumento no tempo de vida média de cerca de 30 anos. Mas isso no Brasil ocorreu num período muito mais curto e mais recente. Em 50 anos, houve um aumento de 30 anos no tempo de vida média da população. Qual foi o fator que desencadeou essa mudança rápida? Eu diria que foi a criação do programa nacional de imunizações”.

No Brasil, não foi só a varíola que parou de circular. Com a vacina, o país venceu a poliomielite, doença muito conhecida pela paralisia infantil, que atingia uma em cada 200 pessoas infectadas. Consequência que não era a única nem a mais grave: entre 5% e 10% dos pacientes morriam porque os músculos respiratórios paravam de funcionar. E quando não matava, a pólio colocava crianças em uma máquina batizada de “pulmão de aço”, sem previsão de saída, como lembra Guido Levi.

“É uma máquina que fazia respiração dessas crianças, elas entravam para ficar lá dentro até o resto da vida. Eu ainda tive a ocasião de visitar a enfermaria de pulmão de Aço do Hospital das Clínicas e posso dizer que foi uma das coisas mais chocantes que aconteceu na minha carreira profissional. Ver todas essas crianças dentro dessas máquinas, inclusive alguns adultos, mas principalmente crianças, e elas sabiam que nunca saíram de lá. E hoje não tem mais essa enfermaria. Ela foi fechada porque não tem mais nenhum paciente no Brasil no pulmão de aço por causa de pólio. E nós não temos mais crianças com necessidade de muletas e pernas mecânicas causadas pela doença.”

O tétano materno e neonatal também parou de circular no país por causa da vacinação. O “mal dos sete dias” provocava a morte de bebês de forma rápida e aguda, com contrações musculares generalizadas. E também a rubéola, outra grave doença que provocava morte ou malformações ainda nos fetos.

O país ainda tinha se livrado do sarampo, mas ele voltou a circular por aqui depois que a cobertura vacinal passou a cair ano a ano. E essa queda não se dá só em relação às doses contra sarampo, mas de forma generalizada.

E esse é o grande desafio da atualidade: retomar as taxas de cobertura vacinal que tornaram o Brasil uma referência mundial. A consultora da Organização Pan Americana de Saúde (Opas), Carla Domingues, explica que o benefício da alta imunização não se limita ao fim das doenças, mas ajuda na assistência a outras doenças não transmissíveis.

“Se hoje nós temos leitos para cuidar de acidentes de trânsito e cuidar de doenças não transmissíveis como câncer, diabetes, é porque a gente não tem mais esses leitos sendo utilizados com doenças imunopreveníveis. Se a gente voltar a ter surto dessas doenças, a gente vai ter um esgotamento do sistema de saúde. Como exemplo, a gente acabou de ver com a covid-19. Essas doenças deixaram de ser tratadas porque a gente tinha que tratar basicamente só covid. A gente vai competir com a gente mesmo, e vamos criar problemas que já foram controlados e podem ser evitados só com vacinação”.

No próximo episódio, o Sala de Vacina vai traduzir os termos técnicos e processos científicos que envolvem a fabricação de um imunizante e os testes que comprovam sua segurança e eficácia.

Fonte: Agência Brasil
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