O artista plástico Rodrigo Siqueira inaugura a exposição “Owo Mimó” no próximo dia 19 de outubro, às 19h, na Casa 29, na Rua Gregório de Mattos 29, no Pelourinho. A mostra reúne 11 belíssimas peças de arte sacra afro-brasileira – esculturas, mobiliário, joias e objetos rituais – que refletem a criação e o pensamento artístico de Rodrigo, amazonense de Parintins, morador da Bahia, que busca ultrapassar o conceito de arte sacra, que na maioria das vezes aparece relacionado às obras de arte católicas e aos monumentos.
Rodrigo Siqueira tem modificado através de intervenções artísticas algumas comunidades de terreiros, onde as obras de arte não são novidade. Desde cedo, elas aparecem dentre os objetos apreendidos pela polícia na fase da repressão, nos acervos dos Institutos Geográficos Históricos e em coleção de particulares. São esculturas, objetos rituais, joias e sobretudo mobiliário como cadeiras. Todavia, estes elementos quando aparecem não são catalogados como “obras de artes”, são às vezes como “arte primitiva” e, se associados a religiosidade, algo considerado primitivo e inferior.
O artista considera que ainda está longe de se pensar a expressão arte sacra relacionada aos símbolos e elementos que compõem o rico, complexo e diversificado cenário das religiões de matriz africana, e luta contra isso. Os trabalhos de Rodrigo Siqueira são impactantes, ora pelo tamanho, pela harmonia estética, pelos objetos utilizados como conchas e pedras semipreciosas, e por fim, pelas visões de mundo africanas, indígenas e tantas outras com as quais ele consegue dialogar. Fontes, painéis, máscaras e esculturas com mais de cinco metros contrastam com um trabalho de joalheria em ouro e prata marcado pelas delicadezas, todo inspirado em motivos africanos. Destaque para as joias de crioula e as “paramentas dos orixás,” além de colares, pulseiras, correntes e brincos criados pelo artista.
Rodrigo Siqueira – A sua trajetória como artista começou na sua cidade natal, Parintins, onde teve o primeiro contato com algumas técnicas e de lá para cá, nunca mais parou. Na Bahia o primeiro trabalho aberto ao público foi uma coleção que reunia 18 cabeças representativas de orixás africanos da tradição iorubá, intitulada “Ori Orixá”, no ano de 2011.
O despertar para o resgate de uma ancestralidade negra africana através da arte se deu, segundo o artista, no terreiro onde foi iniciado na cidade de Manaus. Hoje ele materializa seu trabalho na comunidade terreiro onde está à frente, o Ilê Oba L Ókê, situada na cidade de Lauro de Freitas. Com o decorrer do tempo as suas obras ultrapassaram a sua comunidade, o espaço dos livros e exposições e outras comunidades de terreiros e espaços culturais passaram a solicitar o seu trabalho. Rodrigo Siqueira já fez intervenções artísticas em mais de 30 espaços. Seus trabalhos estão espalhados na cidade de Salvador e sua Região Metropolitana, mas também no Recôncavo e recentemente na região do semiárido da Bahia de forma que já se reconhece que o artista iniciou um processo de transformação nos terreiros de candomblé através de esculturas, painéis e ferramentas talhadas a partir da valorização e consolidação de uma arte sacra de origem africana, chamada por ele de arte sacra afro-brasileira.
O trabalho do autor tem inspirado outros artistas a valorizar traços de origem africana que ficaram a margem do processo de sua criação e da concepção de arte até então como conhecemos. Através da valorização de elementos civilizatórios negro-africano, as obras de arte têm possibilitado às comunidades terreiros, enquanto espaços culturais, reafirmar a sua história independente da matriz ritualística (também chamada de nação de candomblé) a qual está ligada.
São exemplos disso a presença de trabalhos no Terreiro de Lemba, situado no município de Camaçari e no Terreiro de Santa Bárbara na cidade de Lauro de Freitas, de nação angola; as obras do Terreiro Kwe Vodun Zo, de nação jeje savalu, situado na Liberdade; as obras no Terreiro Raiz de Airá, comunidade centenária situada na cidade de São Félix, de nação nagô vodun; as obras do Terreiro Ilê Obalajá situado na cidade de Muritiba, de nação nagô ijexá, as obras do Ilê Alabaxé, situado na cidade de Maragogipe de nação ketu, sem contar as obras do ilê Oba L´Okê, uma espécie de Museu a “céu aberto” que na atualidade é a comunidade terreiro que possui o maior acervo afro-brasileiro do estado.
Fonte: Assessoria de Imprensa – Doris Pinheiro
Foto: Divulgação