Algoritmos estão presentes na rotina da sociedade, do entretenimento a serviços de transporte, o que permite entendê-lo como uma instituição social
Os algoritmos estão presentes em decisões cotidianas da vida das pessoas, seja no uso individual de um aplicativo de transporte ou em tomadas de decisão coletivas para definir quem deve ter acesso a uma política social específica ou prioridade na fila de transplantes. Em livro lançado pela Editora Oxford University Press nesta segunda (11), pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal de Goiás (UFG) propõem pensar nos algoritmos como instituições emergentes das sociedades contemporâneas, como mídia e política.
As reflexões da publicação “Institucionalismo Algorítmico: as mudanças nas regras da vida social e política” (em tradução livre) levam em conta os impactos sociais e políticos dos algoritmos na sociedade. Eles são um conjunto de regras que ajudam a estruturar normas e contextos em que seres humanos e máquinas agem e, por isso, influenciam comportamentos individuais e impactam áreas diversas, da segurança pública às estruturas de governo.
O pesquisador Virgílio Almeida, vencedor do Prêmio de Ciência da Fundação Conrado Wessel em 2023, comenta que, no livro, os pesquisadores exploram o algoritmo como instituição nas suas mais diversas faces. “O algoritmo surge para mediar o conhecimento e influenciar o comportamento dos cidadãos e consumidores em processos complexos”.
Os autores argumentam que, assim como outras instituições complexas foram democratizadas no passado, é preciso pensar como algoritmos podem ser democratizados, de modo a controlar os riscos que representam para a sociedade contemporânea. Ricardo Mendonça, um dos autores, explica que “o livro supre uma lacuna importante ao oferecer um olhar mais amplo sobre um problema complexo, que traz muitos desafios políticos no contemporâneo”.
Os algoritmos, incluindo os de inteligência artificial, se popularizaram porque oferecem uma solução para um determinado problema a partir de uma sequência de ações. Esse é o caso de aplicativos de transporte, de relacionamentos e outros, que prometem soluções ágeis e personalizadas ao seu usuário a partir de grandes volumes de dados.
No entanto, o livro também aborda o fato deles reforçarem “bolhas políticas” na internet, que levam à polarização social, e preconceitos e injustiças. Diversos estudos mostram, por exemplo, que os algoritmos têm reforçado, em diferentes áreas, decisões e visões racistas, o que se convencionou chamar de racismo algorítmico. Para Fernando Filgueiras, professor e um dos autores do livro, “algoritmos são novas e intrigantes instituições que requerem avanços da teoria institucional para compreendê-las”.
Fonte: Agência Bori
Foto: AZAMAT E / UNSPLASH