No Brasil, enquanto a taxa de participação dos homens no mercado de trabalho situa-se na faixa de 80-90% desde 1992, a taxa de participação das mulheres só alcançou a faixa de 60-65% nos anos 2000. Este é um dos dados apresentados pela pesquisadora Diana Gonzaga, da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em seu artigo que compõe a publicação Série Estudos e Pesquisas (SEP 109) Panorama das Mulheres na Bahia, lançada pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), em evento de mesmo nome, na última quinta-feira (14), no Museu de Arte da Bahia.
“As normas sociais de gênero impedem que as mulheres acessem os empregos que são mais valorizados”, relatou a pesquisadora doutora da UFBA, ao explicar que as normas de gênero são culturalmente definidas e atribuem às mulheres o papel e a responsabilidade com o cuidado. “As ocupações aceitas socialmente para as mulheres são as ‘tipicamente’ femininas, como o trabalho doméstico, ocupações nas áreas de cuidados, como saúde, educação, limpeza, e ocupações nas áreas administrativas, como secretárias. Não é uma realidade só da Bahia e do Brasil, mas do mundo, apesar dos avanços maiores nos países desenvolvidos. No Brasil, de 2011 a 2022, não houve avanço significativo nesse retrato no mercado de trabalho”, disse.
Diana ressaltou ainda os custos do trabalho de cuidado doméstico e de reprodução que recaem sobre a mulher, motivo pelo qual vem havendo grande redução nas taxas de natalidade, além de mudanças culturais em curso, com a ampliação da independência e emancipação da mulher.
A jornada dupla da mulher e a condição de vulnerabilidade das trabalhadoras domésticas foram pontuadas por Creuza Oliveira, doutora honoris causa pela UFBA e representante do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas do Estado da Bahia (Sindoméstico-BA). “Eu faço parte de uma categoria em que a maioria é mulher, só na Bahia são cerca de 500 mil, em Salvador, cerca de 150 mil mulheres, uma categoria muito antiga e grande. É uma categoria de mulheres, que saem para trabalhar na casa de alguém, e quem cuida da sua casa? Quem cuida dos filhos dela? A gente vê essa juventude sendo morta e a cobrança vai para essa mulher”, relatou.
Camila Garcez, advogada da ordem dos Advogados da Bahia (OAB-BA), reforçou a questão racial e a violência enfrentada pela mulher negra e periférica, recorte de maior vulnerabilidade entre as mulheres. E a pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM/UFBA), doutora Silvia Lúcia Ferreira, lembrou a importância de ampliar os espaços da mulher na política para promover avanços.
O diretor-geral da SEI, José Acácio Ferreira, agradeceu ao ex-deputado Jurandy Oliveira pela emenda parlamentar destinada à realização da publicação e do evento. “Este é o primeiro Panorama das Mulheres, agradecemos muito pela verba destinada especialmente a este tema e esperamos tornar este um evento do calendário anual da SEI, assim poderemos ampliar a contribuição com a geração de informação e com o amadurecimento das discussões”, disse o diretor.
Também participaram do evento a analista da SEI Carlota Gottschall, a superintendente da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) Camilla Batista e a coordenadora do Cuidado por Ciclo de Vida e Gênero da Sesab, Olga Sampaio.
O evento foi aberto com uma apresentação da Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) e encerrado com a apresentação musical de Dona Salvadora e as Morenas de Itapuã e participação de Amélia da Cuica.
Fonte: Ascom/SEI
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