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CFQ cria grupo para estudar Cannabis

O setor quer estar preparado quando a regulamentação brasileira permitir a exploração de toda cadeia produtiva da Cannabis, que vai muito além do uso medicinal da erva.

Uma das prioridades do Conselho Federal de Química (CFQ) para 2024 é se aprofundar sobre as possibilidades do uso industrial e medicinal da Cannabis e capacitar os profissionais para atender a regulação e o mercado já possíveis no Brasil.

Para isso, o colegiado criou um Grupo de Trabalho (GT) com o objetivo de estudar os fitoquímicos presentes na planta e desenvolver pesquisas.

O setor quer estar preparado quando a regulamentação brasileira permitir a exploração de toda cadeia produtiva da Cannabis, que vai muito além do uso medicinal da erva.

A Química na cadeia produtiva da Cannabis

Desde a escolha da semente, aos nutrientes necessários para o cultivo, à clonagem, rastreabilidade e extração dos canabinoides, tudo passa de alguma forma pelo conhecimento químico.

Para completar, outros componentes presentes na biomassa da planta, ou seja, caules, sementes e outras matérias descartadas no processo de produção medicinal (utiliza apenas as flores), são insumos alternativos sustentáveis de interesse da indústria química.

Conhecer cada cepa da Cannabis

“Queremos desenvolver pesquisa exploratória – com base científica – para entender quais são os biopolímeros presentes nas cepas da Cannabis. A ideia é que a Química possa auxiliar toda a cadeira produtiva da planta”, explica o Conselheiro Federal do CFQ, Ubiracir Lima.

O mestre em Química de Produtos Naturais e pós-doutor em Tecnologia de Formulações afirma que assim como o setor já orienta a indústria farmacêutica na produção de medicamentos e fitoterápicos, a partir de componentes extraídos de inúmeras plantas medicinais, a Cannabis também pode se beneficiar do que o setor químico pode ofertar.

Gerar informação e conhecimento

Conselheiro Federal do CFQ, Ubiracir Lima. Foto: CFQ.

“O trabalho desse grupo dentro do CFQ, que conta ainda com o conselheiro Luiz Miguel Skobot Junior e com o presidente do CRQ Paraná, Edward Borgo, é processar e digerir tudo que está acontecendo na indústria da Cannabis e transpor para a área química, além de levar informação de forma simples e aplicável às empresas e demais profissionais da área”, sintetiza o químico.

Segundo com Lima, é o que já foi feito em algum momento com outras plantas como o boldo, o maracujá e o chá de quebra-pedra… “Para qualquer fitoterápico o trabalho inicial é o mesmo: isolar e caracterizar a substância/metabólito ativo contido naquela planta e compreender seus mecanismos de ação”.

Conhecer o vegetal quimicamente

Ao caracterizar esse metabólito, de forma isolada, ou em associação com outras moléculas da planta é possível reconhecer e confirmar a etnofarmacologia do vegetal, explica o especialista.

“As pesquisas com plantas são iniciadas a partir do conhecimento popular, que indica ao pesquisador o melhor caminho a seguir para desvendar as aplicações e riscos.

As plantas podem ser processadas e trabalhadas de várias formas diferentes, explica o Conselheiro do CFQ.

Dossiê do Desenvolvimento Clínico do Medicamento

“É uma série de estados e estudos até que o remédio seja reconhecido eficaz e seguro, e chegue até o paciente. E a química atesta todos esses processos. Desenvolvemos e apresentamos todos os aspectos de caracterização e pureza no Dossiê do Desenvolvimento Clínico do Medicamento para aprovação na Anvisa, por exemplo”.

No caso da Cannabis não é diferente. Os fitoquímicos da planta, sensíveis a diversos fatores externos, reagem e podem ser manipulados quando provocados, pela química.

A planta reage

“Se seu sistema de biossíntese é perturbado pelo ambiente externo, a planta reage. Essa simples alteração da luz, por exemplo, pode aumentar ou reduzir a quantidade dos canabinoides”, orienta Lima.

Esse conhecimento técnico-científico é valioso no sentido de potencializar a produção e baratear os custos para que o acesso à medicamento e insumos sustentáveis sejam democratizados no país.

Efeito sinérgico da planta

“Na Cannabis, por exemplo, é observado que o conjunto das substâncias promovem o efeito entourage ou efeito comitiva, que na química chamamos de efeito sinérgico. Quando uma molécula, associada a outra substância da própria planta, pode alcançar uma atividade terapêutica mais potente do que a já observada”, ensina Ubiracir Lima.

Mercado em franca expansão

Isso é química! Para o Conselheiro, essa sinergia entre os fitocanabinoides e corpo atuando para equilibrar os demais sistemas do organismo é o que explica a expansão do mercado desde 2015, quando a Anvisa editou a primeira resolução autorizando a entrada de produtos à base de Cannabis, como forma de uso compassivo.

“Porque aumentou a demanda? Os próprios médicos, a partir da cobrança dos pacientes, começaram a experimentar e observar as respostas. Essa resposta é a principal observação dos médicos. ‘Não sou eu que não estou te falando: olha aqui!’. Está claro que o paciente ganhou qualidade de vida!”, enfatiza Lima.

Bandeira política

Essa resposta terapêutica tão eficiente já virou até bandeira política de alguns parlamentares. Ubiracir lembra que a senadora, Mara Gabrilli (PSD/SP), por exemplo já declarou em Audiências se tratar com medicamentos da Cannabis.

A discussão no meio político é fundamental para o avanço da pauta. Ciente da importante contribuição do setor, só em 2023 o Conselheiro Ubiracir Lima participou de cinco audiências públicas no Congresso sobre Cannabis.

Dados e informação científica

“Nós temos dados e informação científica. Quando falam em desvio de finalidade, nós demonstramos que podemos rastrear um cultivo através dos biomarcadores da planta. Isso já foi feito. Nós já pesquisamos, inclusive, biomarcadores de petróleo, capazes de rastrear e verificar o grau de maturidade para a extração e até origem do material. De uma planta, então, é perfeitamente possível”.

Para além do cultivo, o Grupo de Trabalho também está de olho no desenvolvimento de produtos biodegradáveis a partir da fibra da Cannabis.

Cânhamo na indústria química

O cânhamo, uma cepa da Cannabis mais fibrosa e sem poder psicoativo, tem sido utilizado na indústria na produção de papel, tijolo, madeira, bioplástico e fibras têxteis biodegradáveis.

“O grupo começou com um foco e já expandiu. Agora queremos estudar na produção de papel. Estamos busca de apoio financeiro aos pesquisadores. O pesquisador precisa de equipamento, reagente, estagiário, fomento, insumo…”, enumera Lima.

Em busca de investimentos

A ideia é montar projetos científicos para buscar financiamento por meio das bolsas de pesquisas disponíveis nas Universidades e fomento via Ministério da Ciência e Tecnologia, por exemplo.

“Vamos atrás dos editais púbicos, provocar os órgãos para que emitam editais para que todos os profissionais possam atuar com o suporte do governo. Temos 100% de apoio do CFQ. Nós estamos presentes em todos os estados da federação e isso nos traz responsabilidade e credibilidade”.

Curso de capacitação em Cannabis

Paralelamente ao Grupo de Trabalho, o Sistema CFQ/CRQs também promove um curso de capacitação em Cannabis, por meio da unidade do Conselho de Química do estado de São Paulo, o CRQ IV – SP.

São 16 horas de aula divididas em quatro dias. O Conselheiro Ubiracir Lima é quem coordena academicamente o curso que ainda conta a coordenação administrativa da servidora Sabrina Miyazaki, daquele Conselho.

Preparar os profissionais

“Nesse curso os profissionais da Química vão se familiarizar com os fitocanabinoides da planta, conhecer suas mais diversas aplicações na área medicinal e industrial. Nosso objetivo é preparar os profissionais para essa indústria do futuro”, conclui Ubiracir Lima

De acordo com dados do CFQ, há mais de 216 mil profissionais de Química registrados no país. E a ideia é que todo conhecimento gerado nesse Grupo de Trabalho da Cannabis seja multiplicado para abrir oportunidades de trabalho para quem deseja trabalhar nessa área.

Fonte: Cannabis e Saúde
Foto: Divulgação

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