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Com protagonismo histórico, mulheres enfrentam gargalos na ascensão da carreira da ciência política

Mulheres ocupam espaço considerável nos cursos de mestrado e doutorado em ciência política no país

equidade de gênero na ciência tem se mostrado como condição importante para o avanço científico e enriquecimento de debates, entre eles, o político. Embora sejam retratadas popularmente com baixo engajamento pelo assunto, as mulheres tiveram protagonismo na fundação da disciplina de ciência política no Brasil, mas ainda enfrentam dificuldades para ocupar postos estáveis na carreira acadêmica da área. As constatações estão no livro Dois Gêneros, Duas Histórias? A Fundação da Ciência Política no Brasil, lançado nesta quinta (4), pela editora EdUERJ.

Guiada pelas relações de gênero, a publicação assinada pela cientista política Marcia Rangel Candido, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), passeia pela história da formação da ciência política no país, desde a criação de revistas especializadas na década de 1950, e estruturação de pós-graduações nas universidades brasileiras, na década de 1960, até a trajetória e ascensão de cientistas políticas no Brasil. A autora compara o contexto de emergência da disciplina com contextos da vizinha Argentina e dos Estados Unidos, sendo este último país considerado o berço da área.

Como resultado desta análise que se iniciou como tese de doutorado e conquistou premiação, Candido mostra que as mulheres tiveram peso significativo na história da formação da ciência política no Brasil, embora não sejam devidamente retratadas como protagonistas pela literatura e pelo senso comum.

Ela revela ainda que essas pesquisadoras aspiraram e conquistaram posições de relevância como fundadoras da disciplina, com impacto na produção científica, comumente associada apenas aos chamados pais fundadores.

Dentre as fundadoras, as que se destacaram, mesmo comparadas aos homens, liderando em métricas tradicionais de avaliação da ciência foram as pesquisadoras Eli Diniz, Maria Hermínia Tavares de Almeida, aposentadas da UFRJ e USP, e Maria Regina Soares de Lima, professora da UERJ. Diniz é a autora que soma mais citações ao conjunto de sua obra, Tavares de Almeida tem a maior internacionalização da produção científica e Soares de Lima tem maior quantidade de estudantes orientados. Essas métricas servem para avaliar o impacto e a importância acadêmica de suas pesquisas.

“Dois Gêneros, Duas Histórias?” mostra ainda que atualmente as mulheres ocupam espaço considerável na formação acadêmica da ciência política, se equiparando aos homens. Em 2019, último ano analisado no livro, elas ultrapassaram os homens no mestrado e se aproximaram da paridade no doutorado. Isso, no entanto, não é o suficiente para lançá-las ao topo da carreira. Ou seja, os homens ainda são mais cotados para cargos considerados mais estáveis, com posições mais estimadas e de prestígio.

Assim como nas ciências exatas, o chamado ‘efeito tesoura’ – que corta a participação feminina à medida em que se avança na carreira – também é perceptível na ciência política, segundo o estudo. Mas, a autora chama a atenção para um dado divergente entre as áreas, que é a proporção considerável de mulheres se titulando em cursos de mestrado ou doutorado. De acordo com dados da pesquisa, por exemplo, as mulheres foram proporção considerável das matriculadas em cursos de ciência política nos últimos anos, chegando, em 2019, a ser maioria no mestrado (53%) e quase metade no doutorado (45%).

“Não falta mão de obra especializada, como em algumas carreiras das exatas, onde as mulheres são minoria já nas formações de ensino superior. Isto quer dizer que as mulheres chegam a investir longos anos de suas vidas em especialização na ciência política, mas não conseguem conquistar postos mais estáveis na carreira acadêmica, como a posição de docente/pesquisador em universidades públicas’’, alerta a pesquisadora.

Segundo ressalta a obra, a falta de mulheres em espaços de liderança na ciência política se reflete na forma como a área estuda o seu objeto e retrata a mulher na própria política institucional. “É bastante ilustrativo, por exemplo, que cientistas políticos homens atribuíssem a sub-representação feminina na política a uma suposta falta de interesse das mulheres no tema. Em contrapartida, mulheres que se dedicaram a desenvolver pesquisas sobre o problema matizaram tal preconceito, mostrando que o grupo é alvo de violências específicas, recebe menos financiamento e estímulo para candidaturas’’, finaliza a autora.

Fonte: Agência Bori
Foto: Cecília Bastos / Imagens USP

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