Técnica de nanoencapsulamento com zeína pode ser a chave para medicamentos com Cannabis com maior biodisponibilidade
Uma proteína do milho pode transformar completamente os tratamentos para a saúde com Cannabis. A zeína, extraída do endosperma do grão de milho, está sendo testada para aumentar a biodisponibilidade de medicamentos com canabinoides em um processo que envolve nanotecnologia e duas das plantas mais cultivadas no mundo.
Com a zeína é possível produzir nanopartículas ideais para o encapsulamento de substâncias de origem vegetal, como óleos essenciais e canabinoides. As características dessa proteína oferecem uma barreira que protege contra umidade, altas temperaturas e agentes oxidantes.
Desse modo, a zeína conseguiria controlar a liberação de canabinoides, fazendo com que passem pelo estômago e sejam absorvidos no intestino delgado. Assim nosso corpo absorve melhor os compostos da Cannabis, possibilitando efeitos mais intensos com doses menores.
Canabinoides têm medo d’água
Tanto o canabidiol (CBD) quanto o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) e os outros canabinoides da Cannabis são substâncias que não se diluem na água (hidrofóbicas), sendo solúveis em gorduras (lipofílicas) ou álcool.
Algumas análises indicam que a biodisponibilidade de óleos com canabinoides via oral é baixa, cerca de 6%, devido a essa característica lipofílica. Geralmente, os medicamentos com esse perfil são melhor absorvidos quando chegam ao intestino delgado e a chave para aumentar a biodisponibilidade é proteger os princípios ativos durante a passagem pelo estômago.
Nesse contexto, pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências Médicas, em Pequim, realizaram análises para avaliar o emprego de nanopartículas de zeína para melhorar a biodisponibilidade de um produto com CBD.
A vantagem da proteína do milho em relação a outras técnicas de nanoencapsulamento seria uma incidência mais baixa de efeitos colaterais, como irritação e náuseas.
Protegendo o CBD para aumentar sua biodisponibilidade
A nanotecnologia é uma ciência que cria e manipula materiais em uma escala minúscula, geralmente a um bilionésimo de metro. As pesquisas nesse campo estão avançando em várias áreas, principalmente na saúde. Essa nova área do conhecimento expande as possibilidades utilizando substâncias que já são conhecidas.
Os resultados da análise estão no artigo Enhanced oral bioavailability of cannabidiol by flexible zein nanoparticles: in vitro and pharmacokinetic studies, publicado na revista Frontiers in Nutrition. No laboratório, os pesquisadores modificaram a zeína com ácido para torná-la mais flexível. Assim, conseguiram envolver moléculas de CBD com essa capa de proteção em escala nanométrica.
Chamadas pelos pesquisadores pela sigla FZP-CBD, as nanopartículas a partir da zeína foram capazes de proteger o canabidiol da degradação pelos sucos gástricos no estômago. Em seguida, quando atingiram o intestino, os cientistas observaram uma liberação rápida do canabinoide. De acordo com o artigo, a liberação no intestino delgado ocorreu por conta de uma enzima chamada tripsina.
Na conclusão, os cientistas destacaram a melhora na biodisponibilidade do CBD.
“Neste estudo, o FZP-CBD conseguiu controlar a libertação de CBD no trato intestinal e promover a sua absorção no intestino delgado. Portanto, este estudo pode valorizar a utilização do CBD e ampliar o escopo de aplicação da zeína. A zeína flexível pode ser usada como um potencial transportador do medicamento altamente lipofílico CBD, o que fornece uma nova ideia para alcançar a libertação controlada de medicamentos altamente lipofílicos no intestino e a aplicação do CBD na indústria farmacêutica.”
A equipe visualizou esses resultados em testes in vitro e in vivo, abrindo caminho para mais análises e o desenvolvimento de formulações farmacêuticas com maior eficácia terapêutica.
Fonte: Cannabis e Saúde
Foto: Reprodução