Pesquisadores revelam como o CBD interage com o sistema endocanabinoide e pode ajudar no tratamento de diversas condições
O canabidiol (CBD) é conhecido por seus múltiplos efeitos terapêuticos, que vão desde a redução da ansiedade e dores até o controle de convulsões e distúrbios metabólicos. Para entender como esse composto tem uma ação tão ampla, pesquisadores do Canadá e dos EUA realizaram um estudo sobre como o CBD interage com o sistema endocanabinoide, especialmente com o receptor CB1 no cérebro.
Diferente do delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), o CBD não ativa diretamente o receptor CB1. Em vez disso, ele se liga a um local específico do CB1 que modula sua atividade sem ativá-lo diretamente. Dessa forma, o CBD pode “ajustar” a função do receptor, reduzindo os possíveis efeitos colaterais da ativação direta.
Sistema endocanabinoide: o regulador do equilíbrio do corpo
Para entender as propriedades terapêuticas do CBD, é fundamental compreender também o funcionamento do sistema endocanabinoide (SEC). O SEC é como um “controlador” do corpo, ajudando a manter o equilíbrio ao regular funções como humor, dor, fome, sono e até a resposta imunológica quando estamos doentes. Ele faz isso utilizando três componentes principais:
- Endocanabinoides: os dois principais endocanabinoides são a anandamida e o 2-AG. O corpo os produz quando algo está fora do equilíbrio
- Receptores CB1 e CB2: presentes em algumas células, são os responsáveis por receber as mensagens dos endocanabinoides para restaurar o equilíbrio. Os receptores CB1 estão principalmente no cérebro e regulam humor, memória e dor, enquanto os receptores CB2 estão presentes no sistema imunológico e ajudam a controlar a inflamação e a resposta do corpo a doenças.
- Enzimas: depois que os endocanabinoides fazem o seu trabalho, o corpo precisa das enzimas para interromper as mensagens e evitar que eles fiquem ativos por tempo demais.
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O CBD no sistema endocanabinoide
Os compostos da Cannabis, principalmente o CBD e o THC, interagem com o sistema endocanabinoide de forma muito semelhante aos endocanabinoides. O THC, por exemplo, se liga diretamente ao receptor CB1, imitando a anandamida. Essa interação produz efeitos que associamos ao consumo de produtos à base de Cannabis, como relaxamento, euforia e mudanças na percepção.
O CBD, por outro lado, não se encaixa diretamente nos receptores, mas modula o sistema, gerando efeitos terapêuticos amplos. Os pesquisadores norte-americanos analisaram essa interação indireta e apontam que o estudo pode levar ao desenvolvimento de medicamentos mais eficazes e seguros para condições como dor crônica, distúrbios metabólicos e obesidade, além de explicar por que o canabidiol tem tantos efeitos terapêuticos diferentes.
Entendendo a polifarmacologia do CBD
Usando técnicas avançadas de simulação computacional e experimentos de laboratório, os pesquisadores observaram que o CBD se liga a uma região específica do receptor CB1, chamada sítio alostérico, localizada entre as hélices transmembranares 2, 6, 7 e 8. Essa região atua como um “ponto de controle”, regulando a atividade do receptor.
Além disso, os cientistas notaram que esse sítio alostérico se parece com outros em diferentes receptores do corpo. Isso sugere que o CBD pode ter efeitos semelhantes em outras áreas, ampliando seu potencial terapêutico.
Esse estudo não apenas aprofunda nosso entendimento sobre como o CBD funciona, mas também abre portas para o desenvolvimento de novas terapias à base de canabinoides. Com essas informações, será possível desenvolver tratamentos mais personalizados para diferentes condições de saúde. O futuro da terapia com os compostos da Cannabis pode envolver moléculas que atuem de forma mais precisa nos receptores CB1, o que é uma alternativa interessante para quem precisa evitar o consumo de THC.
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Condições tratáveis com medicamentos à base de Cannabis
Embora seja menos conhecido do que outros sistemas do corpo, como o nervoso ou o circulatório, o sistema endocanabinoide é fundamental para a saúde e o bem-estar. Quando ele não funciona corretamente, pode estar envolvido no desenvolvimento de diversas condições de saúde, como:
- Dor crônica
- Ansiedade e depressão
- Doenças neurodegenerativas (Parkinson, Alzheimer)
- Distúrbios metabólicos (obesidade, diabetes)
- Doenças inflamatórias (artrite, doença de Crohn)
Nesses casos, a modulação do sistema endocanabinoide por meio de medicamentos à base de Cannabis pode ser uma estratégia promissora para restaurar o equilíbrio do corpo e aliviar sintomas.
Como começar um tratamento com canabinoides
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) possui regras rigorosas para o uso de derivados da Cannabis em tratamentos para a saúde. As exigências têm o objetivo de garantir a segurança dos pacientes e o acesso a produtos de qualidade.
Portanto, se você deseja iniciar um tratamento com medicamentos à base de Cannabis, é necessário que passe por uma avaliação com profissionais de saúde.
Fonte: Cannabis & Saúde
Foto de Anna Shvets