Um novo estudo sobre o uso de terapia assistida por psilocibina para tratar o transtorno do uso de metanfetamina sugere que o tratamento “foi viável para implementação em um ambiente ambulatorial, não apresentou preocupações de segurança e mostrou sinais de eficácia que justificam uma investigação mais aprofundada”.
O relatório, publicado como preprint na The Lancet no final de janeiro, ainda não passou pela revisão por pares. A pesquisa revelou que, em um pequeno grupo de participantes de um programa de tratamento para estimulantes, “o desejo pela metanfetamina diminuiu, enquanto a qualidade de vida, depressão, ansiedade e estresse melhoraram entre a linha de base e os acompanhamentos de 28 e 90 dias”.
A equipe de pesquisa, composta por oito autores da Austrália, observou que atualmente há poucas opções eficazes para tratar o transtorno do uso de metanfetamina.
Quatorze pessoas participaram da terapia assistida por psilocibina, todas com 25 anos ou mais e que usavam metanfetamina pelo menos quatro dias por mês. Nenhum dos participantes tinha doenças mentais graves ou condições médicas que desqualificassem o uso de psilocibina.
Após três sessões preparatórias, elas receberam uma dose oral única de 25 miligramas de psilocibina, seguida de duas sessões de psicoterapia ao longo de uma semana. Treze dos 14 participantes completaram a avaliação de acompanhamento pós-dose de 90 dias.
Nenhum evento adverso grave foi relatado, mas alguns participantes relataram dor de cabeça, náuseas e sensibilidade ao som na semana após a administração de psilocibina.
O uso autodeclarado de metanfetamina caiu de uma mediana de 12 dias nos 28 dias anteriores à linha de base para uma mediana de zero dias um mês após a administração de psilocibina. Após 90 dias, o uso de metanfetamina era de apenas dois dias nos últimos 28 dias.
Resultados Promissores
Cinquenta e sete por cento dos participantes (oito pessoas) permaneceram abstinentes do uso de metanfetamina durante o período de 28 dias após a administração de psilocibina—resultado confirmado por uma triagem de urina. Após 90 dias, 29% (quatro pessoas) ainda não usaram metanfetamina.
“Ao longo do período de acompanhamento de 28 e 90 dias, as medidas de desejo por metanfetamina, bem-estar mental, depressão, ansiedade e estresse apresentaram melhorias significativas”, afirmam os autores.
Os autores destacam que o estudo é o primeiro a explorar a terapia assistida por psilocibina no tratamento do transtorno do uso de metanfetamina. Eles sugerem que os resultados demonstram a viabilidade do tratamento em um ambiente ambulatorial público e a possibilidade de realizar ensaios maiores de terapia assistida por psilocibina para esse transtorno.
Embora o estudo tenha uma amostra pequena e outras limitações—como o desequilíbrio de gênero e a exclusão de pessoas com psicose induzida por estimulantes e hipertensão—os pesquisadores concluem que ele fornece sinais iniciais de que a terapia assistida por psilocibina é viável e segura para ser administrada em um ambiente ambulatorial.
Décadas após as primeiras pesquisas sobre como a terapia assistida por psicodélicos poderia beneficiar pessoas com transtornos relacionados ao uso de substâncias, o interesse por novas investigações tem crescido.
No ano passado, por exemplo, dois estudos, incluindo um com contribuições de um importante oficial federal de drogas, analisaram os psicodélicos no tratamento de transtornos relacionados ao álcool. Um deles encontrou que uma única dose de psilocibina “foi segura e eficaz na redução do consumo de álcool em pacientes com transtorno de uso de álcool”.
Além disso, o National Institutes of Health (NIH) anunciou recentemente o investimento de US$ 2,4 milhões para financiar estudos sobre o uso de psicodélicos no tratamento de transtornos do uso de metanfetamina, diante do aumento alarmante de mortes causadas por metanfetamina e outras substâncias psicoestimulantes nos últimos anos.
Fora dos psicodélicos, pesquisas também indicam que o canabidiol (CBD) pode ter o potencial de tratar transtornos de uso de substâncias, incluindo cocaína, anfetamina e metanfetamina, complementando pesquisas anteriores que mostraram que o CBD pode ajudar no tratamento de dependências de álcool e opioides.
Esses estudos refletem uma tendência crescente de explorar terapias inovadoras para o tratamento de dependências, especialmente diante dos desafios de saúde pública associados ao abuso de substâncias.
Fonte: Cannabis Medicinal
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