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Cannabis e videogame: uma dupla que nem sempre joga no mesmo time

Revisão científica questiona a relação entre videogames e o uso recreativo da cannabis, revelando dados contraditórios e caminhos ainda em aberto

Há quem diga que os videogames e a cannabis formam um refúgio ou uma espécie de abrigo sensorial em tempos acelerados. Mas quando a ciência se debruça sobre esse encontro, o que encontra é mais perguntas do que respostas. Uma nova revisão de estudos aponta: essa relação é real, mas bem mais complexa do que parece.

Segundo uma nova revisão publicada no Journal of Behavioral Addictions, a relação entre o uso de videogames e a cannabis está longe de ser simples ou automática.


Foram analisados 25 estudos, publicados entre 2000 e 2025, e o que se descobriu foi uma sinfonia de resultados diversos: alguns estudos mostraram uma relação positiva entre jogar e consumir cannabis, outros não encontraram ligação alguma, e há ainda quem tenha percebido uma relação inversa.


O que há, de fato, é uma neblina de inconsistências, tanto na forma de medir o uso de jogos quanto no consumo da planta. Afinal, o que é jogar videogame? Contam os jogos no celular? Os casuais? Só os de console? E o uso de cannabis: vale uma vez na vida? Uma vez por mês? Um uso problemático?


“A incapacidade de tirar conclusões claras se deve, em parte, à falta de consistência”, alertam os autores da revisão. E completam: há um longo caminho até entender, com mais nitidez, como essas duas práticas dialogam, ou não, no cotidiano de jovens e adolescentes.


Mas se a ciência ainda pisa com cautela, o imaginário coletivo já corre solto. Em abril, o jogo Schedule I, alusão direta à política de drogas nos EUA, se tornou o mais vendido da Steam. Uma linha que liga, por exemplo, o clássico Drug Wars dos anos 80 à polêmica franquia GTA, onde o tráfico ilegal é parte do enredo.


Enquanto isso, uma pesquisa com jogadores da NHL publicada pelo New York Times revelou que a preferência entre atletas de elite tem mudado: menos álcool, mais maconha e videogame. Um refúgio moderno, talvez, onde o corpo descansa e a mente se perde – ou se encontra, no virtual.


O uso recreativo da cannabis e os games compartilham mais do que o sofá e os fones de ouvido. Ambos podem ser portos de descanso em um mundo que exige demais. Ambos convidam ao silêncio, ao riso solto, à fuga do relógio. Não é de se estranhar, então, que coexistam em tantas rotinas. Mas coexistir não é o mesmo que estar ligado por um fio direto de causa e efeito.


É por isso que os pesquisadores pedem cuidado. Mais rigor nos métodos, mais diversidade nas amostras, mais escuta qualitativa. Afinal, cada jogador carrega seu próprio universo. Entre teorias e botões, permanece a dúvida: será que essa dupla joga no mesmo time? A resposta, por ora, continua em construção. O que sabemos é que nem todo game é fuga, nem toda brisa é vício. E que, às vezes, o que parece par é só coincidência.

Fonte: Sechat
Foto: Reprodução Sechat

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