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Estudo propõe abordagem integrada para combater desnutrição, obesidade e crise climática

A alimentação está profundamente conectada a três desafios globais: obesidade, desnutrição e mudanças climáticas. Apesar de frequentemente tratados de forma separada, esses problemas estão interligados e formam a chamada sindemia global. Publicado na revista científica International Journal of Environmental Research and Public Health na quinta (5), um estudo propõe um modelo conceitual inédito que ilustra as conexões dos elementos da sindemia desde o nível individual, como hábitos e condições de saúde, até questões estruturais, como renda e acesso a alimentos, além de impactos ambientais, como a emissão de gases de efeito estufa na produção de alimentos.

A pesquisa foi conduzida por cientistas das universidades de São Paulo (USP), Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), de Michigan (EUA) e Técnica da Dinamarca. Para entender as relações entre os temas, a equipe realizou uma revisão de escopo, com consulta a pesquisas científicas já existentes sobre os temas, a partir de 11 mil artigos. Porém, apenas 12 preencheram os critérios de abordar pelo menos dois dos três componentes da sindemia (obesidade, desnutrição e clima) em relação ao consumo alimentar. A partir deles, foi possível mapear as relações mais exploradas e revelar limitações de conhecimento na área. Nenhum artigo, por exemplo, tratou simultaneamente de desnutrição e mudanças climáticas no âmbito da alimentação.

Porém, conforme o artigo, é fundamental entender o impacto das mudanças climáticas no consumo de alimentos. Com a escassez de alimentos naturais provocada por efeitos das mudanças climáticas, como inundações ou secas, cresce a procura por ultraprocessados, produtos como macarrão instantâneo e biscoitos recheados, que têm a data de validade estendida e podem ser armazenados por mais tempo. Esses itens contribuem com o impacto ambiental, além de estarem associados ao risco aumentado da obesidade e de outras doenças crônicas.

A pesquisa também ressalta evidências de que o aumento de gás carbônico na atmosfera reduz nutrientes essenciais em alimentos básicos como arroz e trigo. E que o impacto das mudanças climáticas na segurança alimentar é mais acentuado em regiões tropicais e entre populações economicamente desfavorecidas, mais impactadas pelo aumento de preços diante de efeitos do clima na produção de alimentos.

O modelo conceitual pode contribuir, por exemplo, para a reavaliação de programas de combate à desnutrição infantil em regiões com insegurança alimentar crônica. “Com base nas conexões, uma política pública poderia ir além da tradicional distribuição de cestas básicas e passar a combinar a identificação de áreas onde a vulnerabilidade nutricional se cruza com eventos climáticos extremos”, explica Giovanna Garrido, mestranda na USP e uma das pesquisadoras responsáveis pelo trabalho.

O modelo também pode apoiar ações que incentivem o consumo de alimentos frescos por meio da agricultura familiar local e promover campanhas educativas voltadas a hábitos alimentares mais saudáveis. Além disso, permite identificar os gargalos reais de cada situação. Por exemplo, se o problema não está na oferta, mas no acesso, talvez o foco precise estar no transporte, nos preços ou nas escolhas alimentares moldadas pela publicidade e pelo hábito. “Essa visão sistêmica é o que o modelo oferece: ele ajuda a transformar políticas fragmentadas em respostas integradas, que não tratam só os sintomas, mas as causas profundas da má nutrição”, conta Garrido.

O artigo também revela a escassez de estudos nacionais e pesquisas que abordem simultaneamente os três componentes em diálogo com o consumo alimentar. Para Garrido, o artigo marca o começo de uma discussão importante. As lacunas identificadas também podem direcionar futuras pesquisas aprofundando o conhecimento da área e fornecendo bases mais sólidas para políticas públicas sistêmicas.

Fonte: Agência Bori
Foto: Leonardo Henrique / Fotos Públicas

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