Vamos comemorar o Dia da África refletindo sobre a herança cultural africana e seu papel no desenvolvimento do mercado de Cannabis
A África foi a ponte para a Cannabis chegar aqui no Brasil. Se a planta tem origem asiática, foram as pessoas escravizadas e trazidas forçadamente para nosso país que trouxeram as primeiras sementes dessa planta para a nossa terra.
A herança africana está profundamente enraizada na identidade brasileira, influenciando nossa música, culinária, costumes e etc. Nesse Dia da África, celebrado todos os anos no dia 25 de maio, vamos falar um pouco sobre a Cannabis no continente-mãe e sua influência nesse mercado que está se desenvolvendo.
Para nos acompanhar nessa jornada transatlântica, vamos contar com a ajuda do Humberto Nogueira, consultor para o cultivo de Cannabis e cânhamo com atuação em Portugal e alguns países na África, como Angola, Zimbábue e África do Sul.
Como a Cannabis chegou em África
Original da Ásia, a Cannabis começou a ser cultivada e utilizada primeiramente nessa região e depois foi levada para a África, assim como para outras partes do mundo. Humberto nos explicou como foi essa chegada da planta ao continente africano, que aconteceu muitos anos antes da chegada à América do Sul.
“A teoria mais aceita até o momento é de que o comércio com os árabes pela Península Arábica, na costa índica africana, acabou por ser o principal meio de introdução da Cannabis asiática no continente africano. Desde essa introdução até os nossos antepassados angolanos e do Congo levarem a Cannabis para a América do Sul, passam praticamente 1000 anos, ou seja, só mesmo com o comércio de escravos dos europeus é que a planta acaba forçosamente a chegar à América do Sul.”
Uma vez que a Cannabis chegou na África, as diversas culturas do continente incorporaram a nova planta à sua agricultura e costumes. Além disso, Humberto também destacou a importância da chegada do islã ao continente. A religião também trouxe uma maior proximidade com um produto derivado da Cannabis: os concentrados conhecidos como haxixe.
“Quando a religião islâmica começou a ganhar dimensão, uma das proibições foi sobre o consumo de álcool. Os profetas e os líderes religiosos perceberam que proibir uma coisa está bom, mas tentar proibir duas ou três poderia gerar uma reação negativa dos fiéis. Embora nunca largamente autorizado e legalizado, sempre houve uma tolerância em relação ao consumo de haxixe.”
O contato da planta com as diversas culturas do continente traria alguns avanços relacionados ao consumo e ao cultivo da Cannabis em todo o mundo.
Boi Vermelho e as genéticas africanas
A Cannabis é uma planta com um enorme poder de adaptação, desse modo é possível cultivá-la em várias partes do mundo, diferente de outras culturas que exigem um clima e solo específicos, como acontece com o trigo.
Em África, os agricultores adaptaram a Cannabis às condições diferentes da sua terra de origem. Mais próxima da linha do equador, as plantas tinham entre outros fatores que se adaptar a mais horas de luz.
Humberto indicou que a variedade de Cannabis conhecida como Boi Vermelho deixou um enorme legado entre cultivadores até os dias de hoje.
“Houve um estudo, creio que do Jorge Cervantes, que aponta que todas as variedades “Red” da América do Sul, Central e do Norte são descendentes do Boi Vermelho, de Angola, e da Congolesa Vermelha, que são praticamente similares.
Manga Rosa, do Brasil; a Santa Marta e a Punto Rojo, da Colômbia e a Panama Red são as três que confirmadamente são geneticamente descendentes do Boi Vermelho de Angola e da Congolesa Vermelha também.
São naturalmente plantas que se desenvolveram por estarem mais próximas da [linha do] Equador. Desenvolveram perfis fitoquímicos dos metabólitos secundários: os fitocanabinoides e os terpenos.”
Como a história da Cannabis mudou na África
Há pesquisas sobre a história da Cannabis em África que apontam uma revolução no consumo da planta para a época. O pesquisador norte-americano Chris S. Duvall, em seu livro The African Roots of Marijuana, defende que teriam sido os africanos os primeiros a fumar a planta. Antes disso, a forma mais comum de consumo seria pela ingestão junto a bebidas ou inalando a fumaça dela quando queimada em uma espécie de defumador.
Além disso, teria se desenvolvido na região da África Ocidental uma técnica para consumo utilizando uma cabaça com água, que evoluiu para o acessório que hoje é conhecido como “bong”. A água resfria a fumaça, que chega mais fria aos pulmões e evita o incômodo e as irritações. Essa foi uma tecnologia africana, como destacou o Humberto Nogueira.
“Por exemplo, o tradicional ‘bong’, o cachimbo de água, é uma invenção dos nossos antepassados angolanos, precisamente. Há aqui várias referências ao cachimbo de água utilizado pelas tribos africanas, neste caso mais especificamente, da região de Angola antigamente chamada de Reino Ndongo.”
Assim, com o passar das gerações, a planta teria vários usos nas diversas culturas do continente, com o principal uso sendo o terapêutico e ritualístico. A proibição da Cannabis nos meados do século XX levou muita insegurança para diversos cultivadores que já tinham contato tradicional com a planta, mas esse cenário está mudando na África e em outros países do mundo.
Cannabis na África hoje em dia
Se a proibição da Cannabis teve a liderança dos Estados Unidos, hoje em dia o país da América do Norte tem uma mercado bilionário envolvendo o uso medicinal e adulto da planta. Do mesmo modo, países europeus também estão flexibilizando suas regulamentações e surge a demanda por uma cadeia de suprimentos mais ampla.
Nesse sentido, em muitos países da África há um potencial para participar desse mercado aproveitando o conhecimento ancestral sobre o cultivo da Cannabis. Humberto apontou que hoje em dia países das duas extremidades do continente se sobressaem, mas ainda há espaço em outras regiões.
“Estamos a assistir, de facto, a uma abertura e uma regulação em um número crescente de países africanos. Marrocos, depois de milhares de anos com uma cultura do haxixe, acabou por ceder à regulação europeia e norte-americana e está agora a produzir tanto CBD como THC para fins medicinais. Já está a abastecer a Europa, Israel e Austrália também com Cannabis medicinal.
A África do Sul, que é o país economicamente e industrialmente mais evoluído ou mais avançado na África subsaariana, deu grandes espaços na legalização do consumo pessoal, na legalização do uso medicinal e na legalização e promoção do cânhamo industrial. A África do Sul está a ser um dos principais motores de investimentos em matéria de Cannabis.
Temos também esta evolução enorme de uma série de países da África Subsaariana que estão a corresponder à demanda global por Cannabis medicinal. Cada vez mais também o cânhamo industrial.”
Uma nova commodity
O cultivo da Cannabis em diversas partes da África seria consideravelmente mais sustentável, economizando energia e recursos, além de ter boa produtividade associando o clima favorável com as técnicas locais. Trouxemos anteriormente o caso de uma fazenda no Lesoto com práticas ESG, que você pode checar nesse link.
Humberto trabalha com os cultivos de cânhamo voltados para produzir medicamentos ou a fibra de uso industrial. Para ele, a Cannabis em breve terá o tratamento que damos hoje em dia para a soja, café, ferro e petróleo: uma commodity.
“Então no cânhamo e no canabidiol, já se está a tratar um pouco a cultura como uma commodity. Como é a soja brasileira, por exemplo, o maior produtor de soja do mundo. Aos poucos o cânhamo industrial começa a entrar também no rol das commodities.”
Herança africana
Houve uma época no Brasil em que o consumo de Cannabis era diretamente associado aos africanos e seus descendentes. Algumas políticas e legislações nasceram com o objetivo de reprimir essas pessoas e sua cultura nessa época. Além do consumo da planta, outras expressões culturais associadas aos descendentes dos africanos também foram perseguidas, como o samba, a capoeira e as religiões de matriz africana.
Que esse Dia da África nos ajude a renovar nosso vínculo com nossas raízes e almejar um futuro de prosperidade com a companhia dessa planta. Nossa regulamentação permite somente o uso medicinal orientado por um profissional de saúde. Portanto, se você deseja iniciar um tratamento com produtos derivados de canabinoides, marque uma consulta usando a nossa plataforma de agendamentos. Lá você encontra mais de 300 profissionais experientes nesse tipo de prescrição, todos preparados para avaliar o seu caso e recomenda o melhor caminho.
Fonte: Cannabis e Saúde
Imagem: Reprodução