A tradicional Festa de Iemanjá, uma das expressões culturais mais marcantes de Salvador, será celebrada no próximo domingo (2). Para reforçar a importância dessa festa e celebrar os cinco anos do reconhecimento do festejo como patrimônio imaterial, a Prefeitura de Salvador, por meio da Fundação Gregório de Mattos (FGM), está organizando um evento que reúne uma série de iniciativas voltadas à valorização e salvaguarda do bem cultural. O encontro acontece nesta quinta-feira (30), às 16h, na Colônia Z1, no Rio Vermelho, reunindo autoridades, especialistas, gestores culturais, detentores, devotos e interessados.
A programação busca destacar o valor cultural e espiritual da Festa de Iemanjá e fortalecer as estratégias para a preservação dessa tradição, incluindo a inauguração do restauro da escultura da Rainha do Mar, realizada por professor José Dirson e equipe do Estúdio Argolo. Os pescadores esperam que as intervenções devolvam as características originais da escultura. “Esperamos que ela volte a ser como era antes, sem aquela tinta cobrindo as conchas”, ressaltou Nilo Garrido, presidente da Colônia de Pescadores Z1.
Além disso, será realizada a entrega da requalificação de seis embarcações que conduzem as oferendas, viabilizada por meio de convênio entre a FGM e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), executada por meio de parceria com a Associação dos Terreiros da Bahia Egbé Axé. O valor total do investimento foi de R$109 mil.
Também através de parceria com a Egbé Axé, o Prêmio Salvador Cidade Patrimônio, lançado em 2023, destinou R$1 milhão para projetos voltados à proteção do patrimônio material e imaterial da capital baiana, sendo R$450 mil investidos na premiação. A iniciativa contemplou agentes culturais e cidadãos que se destacam na preservação das tradições locais, incluindo os pescadores da Colônia Z1, principais detentores da Festa de Iemanjá.
Patrimônio É – Nesta quinta (30), ocorrerá também o primeiro encontro do “Patrimônio É…” de 2025, com o tema central voltado à Festa de Iemanjá. Esse projeto mensal reúne especialistas, acadêmicos, artistas e agentes culturais para debater aspectos diversos do patrimônio cultural de Salvador, abordando história, memória, arquitetura, espaço público, educação e economia criativa. Os diálogos desta edição serão conduzidos por Cleidiana Ramos e Mércia Queiroz.
Cleidiana Ramos é formada em Jornalismo, com doutorado em Antropologia e pesquisadora em áreas como Antropologia da Festa, Antropologia das Religiões, Cibercultura, Jornalismo-Memória e Memória Social. É autora de Os Caminhos da Água Grande e Cibervida, Cibermorte, Cibersorte.
Mércia Queiroz é mestre e doutora em Cultura e Sociedade pela Ufba, pesquisadora no Observatório de Economia Criativa da Bahia (Obec) e especialista em Economia Criativa, Produção e Gestão Cultural. Com experiência em diversas instituições públicas, atuou na FGM, TVE Bahia, Fundação Cultural Palmares e Ministério da Cultura. Desde 2024, é coordenadora do Escritório Bahia Criativa na Secretaria de Cultura do Estado.
Salvaguarda – Os pescadores da Colônia Z1 simbolizam esse cuidado histórico. Desde 2020, a Festa de Iemanjá é reconhecida como Patrimônio Imaterial pela FGM, com os pescadores sendo considerados detentores dessa manifestação, que remonta à década de 1920, quando foi introduzida por pescadores do bairro do Rio Vermelho. Além de organizar a entrega das oferendas à Mãe das Águas, eles desempenham um papel central na celebração.
Com o objetivo de preservar e fortalecer a tradição, a FGM, em parceria com a Associação de Terreiros da Bahia Egbé Axé, promoveu oficinas para elaboração do Plano de Salvaguarda da Festa de Iemanjá, que será apresentado durante o evento. O documento foi elaborado em parceria com pescadores da Colônia Z1.
Ainda dentro das comemorações dos 5 anos do reconhecimento da Festa de Iemanjá como Patrimônio Imaterial de Salvador, será realizada na sexta-feira (31) a 15ª Lavagem da Escultura de Odoya, do artista plástico Ray Vianna. A ação, que tem o apoio da FGM, acontecerá a partir das 16h, na praia da Paciência, no Rio Vermelho.
Para o diretor de Patrimônio e Equipamentos Culturais da FGM, Chicco Assis, a Festa de Iemanjá é uma das mais importantes do calendário de festas populares de Salvador, tanto pela sua grande capacidade de atrair soteropolitanos e turistas, mas especialmente por ser a única a ter o nome de uma divindade das religiões de matriz africana. “Portanto, essa manifestação contribui para o fortalecimento da identidade afrodiaspórica da cidade e para o combate ao racismo, intolerância, ódio e desrespeito religioso que ainda hoje tenta atacar a religiosidade afrobrasileira e seus adeptos”, afirma.
Tradição – A Festa de Iemanjá é uma tradicional celebração que acontece todo dia 2 de fevereiro no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. A data é marcada por grande devoção e reverência à imagem de Iemanjá, a orixá das águas salgadas, dos mares e oceanos, sendo considerada a mãe de todos os orixás e uma divindade protetora das mulheres e dos pescadores.
A tradição partiu de pescadores da capital baiana, em 1923, que resolveram oferecer presentes para a divindade das águas na expectativa de que ela pudesse resolver o problema da escassez de peixes. Desde então, ao longo de todo o dia 2, centenas de pessoas depositam presentes, a exemplo de flores e perfumes, diretamente no mar e também em balaios do barracão na Colônia de Pescadores Z1.
Fonte: Secom PMS
Foto: Valter Pontes