Cientistas brasileiros testam uma forma revolucionária de aplicar vacinas: o uso de um adesivo com microagulhas que substituiu a agulha única da injeção. Ainda em fase de testes pré-clínicos, o invento pode ser a “salvação” para pessoas com aicmofobia, condição também conhecida como fobia a procedimentos médicos que envolvam injeções ou agulhas. Através da nova técnica, dados preliminares indicam que o imunizante é aplicado de forma indolor.
O adesivo para aplicação de vacinas é desenvolvido por um amplo grupo de instituições de pesquisa, incluindo a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O projeto também conta com a startup Microneeds.
Adesivo de pele que facilita vacinação
Com o adesivo colado e carregado com o imunizante, o conteúdo da vacina não precisará mais ser aplicado através de uma única e grande agulha. Na verdade, são pequenos pontos (ou minúsculas agulhas) que entregarão o conteúdo do imunizante, de forma mais descentralizada e indolor.
Os adesivos contêm microagulhas, que são compostas de moléculas muito pequenas, os polímeros. Cada ponto tem apenas 700 micrômetros de altura e 200 micrômetros de largura de base. Para dimensionar o quão pequenos são, vale lembrar que 1 milímetro equivale a 1.000 micrômetros.
“Na microscopia de fluorescência, percebemos que as microagulhas foram capazes de liberar, muito rapidamente, todo o conteúdo que carregavam”, afirma Lídia Maria Andrade, pesquisadora do Laboratório de Biologia Celular do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, em nota. Em outras palavras, esta parece ser uma forma promissora para aplicação de vacinas.
Em que fase estão os testes com o adesivo?
No momento, os pesquisadores brasileiros avaliam questões de segurança envolvendo o adesivo de pele que pode substituir as injeções tradicionais de agulhas. Para isso, recorrem a experimentos in vitro (em laboratório) com células humanas e testes com modelos animais.
“Um dos testes in vitro é o de citotoxidade. Nele, expomos um grupo de células às microagulhas e avaliamos se essas células estarão viáveis ou se vão parar de crescer”, explica a pesquisadora Andrade. Inclusive, parte dos testes são feitos células de pele humana, de fígado de camundongo e de rins de macaco.
“Em outra experiência, agora in vivo, avaliamos se a pele do camundongo fica irritada, se há inflamação no local e se há alteração morfológica em decorrência da aplicação da microagulha”, acrescenta a cientista.
Nesta etapa, a equipe identificou que a pele animal não ficou irritada, indicando a inexistência de toxicidade capaz de provocar reações adversas. “Os testes devem ocorrer até 2025, mas já sugerem que o método proposto para imunização é promissor”, adianta Andrade. Por enquanto, os estudos não foram publicados em uma revista científica.
Sem a picada da vacina que pode ser dolorida, é possível aumentar o nível de interesse da população, ampliando a cobertura vacinal para a maioria dos imunizantes. Hoje, o Brasil enfrenta uma queda generalizada no número de pessoas que se vacinam, e novas soluções precisam ser planejadas.
Fonte: Canaltech | Foto: Natali_Khimich/Envato