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Adolescentes com cárie já apresentam sinais de colapso da saúde, aponta estudo

Adolescentes com cárie não sofrem apenas de um problema bucal: esse pode ser um sinal precoce de que sua saúde como um todo está em risco. Um novo estudo brasileiro, publicado nesta quinta (24) na revista Caries Research, mostra que a presença de cáries em jovens está associada não apenas ao consumo excessivo de açúcar, mas também a padrões alimentares não saudáveis, tabagismo e risco de dependência alcoólica — todos fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e doenças cardiovasculares.

A pesquisa analisou dados de 2.515 adolescentes de 18 e 19 anos da cidade de São Luís (MA), participantes de uma coorte populacional acompanhada desde o nascimento. Utilizando um modelo estatístico robusto, os pesquisadores avaliaram o impacto de variáveis latentes, como “padrão alimentar não saudável” e “comportamentos aditivos”, sobre o número de dentes com cárie ativa. A análise também considerou o biofilme dental como mediador e o status socioeconômico como determinante distal.

Os resultados mostraram que o padrão alimentar não saudável, caracterizado pelo alto consumo de açúcares, fast food e salgadinhos, teve  associação direta com o número de dentes cariados. Já comportamentos como fumar e consumir bebidas alcoólicas se associaram indiretamente à cárie por meio do biofilme dental.

“A cárie não é uma simples lesão no dente — ela é um sinal de colapso da saúde do adolescente”, afirma a professora Cecilia Ribeiro, autora do estudo e docente da UFMA (Universidade Federal do Maranhão). “O colapso do tecido mineralizado é um marcador precoce de que algo mais grave pode estar por vir, como a hipertensão, o diabetes e até doenças cardiovasculares.”

Mais da metade dos adolescentes avaliados (53%) apresentavam ao menos uma lesão de cárie não tratada, e 76,8% tinham histórico de cárie na dentição permanente. O consumo médio de açúcar entre eles era de 71,5 gramas por dia — quase o triplo do limite diário máximo estabelecido pela Organização Mundial da Saúde. “Ninguém acorda com cárie da noite para o dia, assim como ninguém desenvolve diabetes ou enfarta de repente”, afirma Ribeiro. “Essas doenças não transmissíveis têm uma evolução em forma de continuum , com sinais cumulativos até o colapso do órgão-alvo. E a cárie é, muitas vezes, o primeiro deles.”

Segundo os autores, a cárie deve ser vista como uma sentinela de risco, especialmente em populações socialmente vulneráveis. O estudo ainda aponta que adolescentes com melhores condições socioeconômicas tendem a consumir menos alimentos ultraprocessados, ter menos biofilme dental e, consequentemente, menor número de dentes com cárie.

“A sociedade precisa enxergar a cárie como um sinal de alerta e não como algo normal. Adotar hábitos saudáveis na juventude é uma forma de prevenir doenças muito mais graves no futuro”, alerta a pesquisadora. Para ela, as políticas públicas precisam ir além das ações individuais. “A educação em saúde é fundamental, mas sozinha não basta. Precisamos de políticas de taxação de ultraprocessados e subsídios para dietas saudáveis, especialmente para as populações mais vulneráveis”, defende.

Apesar de ser um estudo transversal — que avalia exposições e desfechos ao mesmo tempo, sem uma associação temporal do tipo antes/depois  —, os pesquisadores destacam a robustez metodológica, o uso de instrumentos validados e a representatividade populacional da amostra. Como próximos passos, o grupo investiga a relação entre doenças crônicas em redes complexas, demonstrando como a cárie pode se interconectar com outras condições como obesidade e resistência insulínica. “Nada acontece isoladamente no corpo humano. Um adolescente com cárie muitas vezes já apresenta obesidade e os primeiros sinais de diabetes. Isso precisa ser levado a sério”, conclui Ribeiro.

Fonte: Agência Bori
Foto: Reprodução Agência Bori

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