Pesquisadores divulgaram esta semana o que descrevem como a “maior meta-análise já realizada sobre cannabis medicinal e seus efeitos nos sintomas relacionados ao câncer”, encontrando um “consenso científico esmagador” sobre os benefícios terapêuticos da maconha.
O estudo, publicado na revista Frontiers in Oncology, analisou dados de 10.641 estudos revisados por pares, número que, segundo os autores, é mais de dez vezes superior ao da segunda maior análise sobre o tema. Os resultados indicam um forte e crescente consenso dentro da comunidade científica sobre os benefícios terapêuticos da cannabis, especialmente no contexto do tratamento de câncer.
De acordo com os pesquisadores, a análise foi realizada com o objetivo de “avaliar sistematicamente a literatura existente sobre a cannabis medicinal, focando em seu potencial terapêutico, perfis de segurança e papel no tratamento do câncer.” Dada a variedade e a dispersão dos estudos sobre o potencial terapêutico da maconha, os autores buscaram reunir e avaliar as evidências científicas de forma rigorosa.
Ryan Castle, autor principal do estudo e chefe de pesquisa no Whole Health Oncology Institute, destacou: “Esperávamos controvérsias, mas o que encontramos foi um consenso científico esmagador. Este é um dos mais claros e dramáticos endossos do uso de cannabis medicinal no tratamento do câncer que a comunidade científica já viu.”
A meta-análise revelou que para cada estudo que mostrou a ineficácia da cannabis, três estudos apontaram seus benefícios terapêuticos, conforme o Whole Health Oncology Institute. Este alto índice de concordância (3:1) é notável, especialmente em um campo tão rigoroso quanto a pesquisa biomédica.
Cannabis no Tratamento de Sintomas de Câncer
O estudo revelou que a cannabis pode reduzir a proliferação das células cancerígenas, limitar a disseminação do câncer ao inibir a metástase e aumentar a morte natural das células tumorais. Além disso, foi observada uma forte ação anti-inflamatória da cannabis, um fator crucial, já que a inflamação está relacionada a mais de 80% das doenças crônicas mais debilitantes do mundo.
Outros resultados da pesquisa destacaram que a cannabis tem um papel bem estabelecido no manejo de sintomas relacionados ao câncer, como dor, náusea e perda de apetite, e que ela pode possuir tanto propriedades anticancerígenas diretas quanto indiretas.
Os pesquisadores ressaltaram que os resultados obtidos sugerem um apoio substancial para a reavaliação do status legal da cannabis e sua classificação como substância controlada de Classe I. Eles afirmaram: “O forte consenso em torno do uso terapêutico da cannabis, especialmente no contexto do câncer, sugere que há uma base científica substancial para reexaminar sua classificação legal.”
O estudo também sugere que a cannabis tem um potencial significativo no manejo de sintomas relacionados ao câncer e poderia desempenhar um papel relevante no tratamento, particularmente na melhoria da qualidade de vida dos pacientes oncológicos.
Embora a pesquisa tenha encontrado um apoio considerável ao uso de cannabis no tratamento de câncer, os pesquisadores reconheceram algumas limitações, como a análise de sentimentos baseada em algoritmos computacionais, que podem enfrentar dificuldades em interpretar nuances de contexto na literatura médica.
A pesquisa enfatiza a importância de métodos adicionais de validação e incentiva a transparência dos pesquisadores ao interpretar esses dados.
Os autores do estudo afirmam que seus achados têm implicações significativas para a pesquisa em saúde pública, práticas clínicas e discussões sobre a legalidade da cannabis medicinal. O estudo destaca que a consistência das evidências positivas em diversas áreas de pesquisa sugere que a cannabis deve ser reavaliada pela comunidade médica como uma opção de tratamento viável.
Pesquisas Relacionadas e Desafios Regulatórios
Em fevereiro de 2025, uma pesquisa realizada com pacientes de cannabis medicinal no estado de Minnesota também encontrou melhorias significativas nos sintomas relacionados ao câncer, como dor e insônia. Contudo, o estudo destacou que o custo elevado da maconha pode ser um obstáculo para pacientes com menos recursos financeiros, levantando questões sobre a acessibilidade e a viabilidade econômica dessa terapia.
Além disso, a National Cancer Institute (NCI) dos EUA estimou que entre 20% a 40% dos pacientes com câncer estão utilizando produtos de cannabis para gerenciar os efeitos colaterais do tratamento. No entanto, a pesquisa ainda está atrasada em relação à investigação dos produtos de cannabis que são mais seguros ou eficazes para o tratamento de sintomas de câncer e efeitos colaterais associados.
Os resultados desta meta-análise oferecem uma base sólida para o uso de cannabis medicinal no tratamento de câncer, não apenas para o alívio de sintomas, mas também como um potencial agente anticancerígeno. À medida que mais estados brasileiros discutem a legalização da cannabis medicinal, esses achados reforçam a necessidade urgente de mais pesquisas e políticas públicas que considerem os benefícios comprovados da maconha no tratamento de pacientes com câncer.
Fonte: Cannabis Medicinal
Image by jcomp on Freepik