Na manhã da última quinta-feira, dia 14 de setembro, o Centro de Cultura da Câmara Municipal de Salvador foi palco de uma Audiência Pública de grande relevância para a comunidade soteropolitana. O encontro teve como objetivo discutir o fechamento iminente do Centro de Parto Normal Marieta de Souza Pereira, mais conhecido como CPN Mansão do Caminho.
A Audiência Pública foi conduzida pela Procuradoria Parlamentar da Mulher na Câmara, coordenada pela mandata coletiva Pretas Por Salvador (PSOL/BA), em parceria com movimentos sociais e profissionais da área da saúde. Essa iniciativa surgiu em caráter de urgência, após uma reunião realizada com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB) na última terça-feira (12). O objetivo principal foi ouvir os órgãos responsáveis pela manutenção do serviço e buscar coletivamente através dos depoimentos das usuárias, alternativas que garantam a preservação do CPN Mansão do Caminho.
“Nós queremos mostrar realmente o quanto o fechamento de uma CPN, de um espaço humanizado traz um debate que é sobre o que todos os dias a gente combate, que é sobre a violência obstétrica. A CPN pode não ter números, porque as pessoas consideram a quantidade de partos mensais, mas tem um número que é fundamental para nós que pensamos saúde pública que é zero de mortalidade materna em doze anos”, salientou a co-vereadora Laina Crisóstomo.
Com o fechamento do centro anunciado para o próximo dia 20 de setembro, profissionais de saúde e usuárias expressaram preocupações quanto à falta de transparência e diálogo sobre os motivos dessa decisão abrupta. Além disso, há inquietações sobre como será realizada a transferência dos serviços e da equipe profissional, uma vez que o CPN se destaca por oferecer um modelo de assistência não hospitalar que é referência em todo o Brasil.
Em um relato emocionante, Verenizia Miranda, assistente social e mãe de Morena Miranda contou um pouco da sua experiência enquanto mulher negra em um atendimento completamente humanizado.
“Quando eu contei para as minhas vizinhas que eu ia parir na mansão do caminho, até hoje muita gente não acredita nem que existe essa possibilidade, até hoje muitas mulheres pobres não acreditam que existe a possibilidade de um parto humanizado. Não estou falando de fora de Salvador não, estou falando aqui dentro de Salvador. Quando você fala que você pariu em um quarto só sua vizinha olha para sua cara e dá risada. Só acreditam por quê peguei a foto e vídeo e mostro” disse ela.
O CPN Mansão do Caminho foi concebido como um espaço de assistência pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para partos de risco habitual, contando com uma equipe qualificada e multiprofissional. Ele oferece atendimento respeitoso e uma estrutura completa para assistência ao parto e realização de exames. Nos últimos doze anos, o centro viu o nascimento de mais de 7.000 crianças, deixando um impacto profundamente positivo nas vidas de inúmeras famílias e profissionais de saúde em Salvador e arredores.
“O CPN sempre foi pensado em ser um modelo totalmente SUS, que atendesse basicamente e primordialmente as mulheres da periferia, no bairro de Pau da Lima, mas como foi um modelo de muito sucesso onde as pessoas buscam um parto normal mais respeitoso, com mais dignidade. Hoje, ele atende mulheres de todos os lugares, então existe sim mulheres de todas as classes sociais que buscam um parto normal, só por conta do modelo, mas a grande maioria são mulheres do SUS, da periferia e que não tinham um outro espaço que lhes oferece um modelo naquele nível de dignidade”, reforçou a médica obstétrica, e ex coordenadora do CPN Marilena Pereira.
A Audiência Pública evidenciou a necessidade de preservar o CPN Mansão do Caminho como um espaço de referência em parto humanizado e respeitoso. Reforçando com os mais diversos relatos, que o espaço é de suma importância para a saúde pública, e precisa da atuação do poder público para manter o CPN funcionando.
Fonte / Foto: ASCOM Mandata Coletiva Pretas Por Salvador