As atividades são realizadas simultaneamente em espaços culturais do município.
“Minha negritude caminha nos sobejos/ nos opacos por onde sua luz não anda/ e a linha se impõe poderosa/oprimindo minha alma negra, crespa de dobras”. Estes versos do poema Negritude da escritora e doutora em teorias e crítica da literatura e da cultura (Ufba), Lívia Natália, retratam muito bem o espírito da diversidade cultural e afro-brasileira, que o município está vivenciando com a realização da VI Festa Literária Internacional de Barreiras- Flib 2023.
Realizada simultaneamente em espaços culturais, a Flib que acontece até esta quinta-feira (25), oferece uma extensa programação dividida entre o Centro Cultural Rivelino Silva de Carvalho, Clube ABCD, Escola Municipal de Teatro, Praça Duque de Caxias, Praça Amphilófio Lopes e Academia Barreirense de Letras, com exposições, mostras, rodas de conversa, lançamento de livros, apresentações musicais e danças.
No primeiro dia, o Centro Cultural Rivelino Silva de Carvalho foi palco de discussões e interações sobre o tema central “As Literaturas Afro-brasileiras e Africanas: conectando mundos”. Com a presença da subsecretária de Cultura e Turismo, Emilia Moreno e a Curadora da Flib, Marilde Guedes, a Roda de Diálogo 1 apresentou “O trabalho pedagógico com a literatura negra na sala de aula” mediada pela literata e doutora em teorias e crítica da literatura e da cultura (Ufba), Lívia Natália e o professor Nelson de Jesus Júnior (Uneb). Ancorando história do povo preto, racismo e experiências de vida, a literata Lívia Natália chamou atenção para a avaliação de comportamentos dentro e fora do mundo escolar.
“Estou encantada com a Flib e principalmente com a percepção da Prefeitura de Barreiras e todas instituições da Curadoria, que prepararam esse encontro de ideias, atitudes, história e contexto social com a afrobrasilidade. Trazer, mostrar e reverenciar toda experiência da literatura do povo preto, sua anatomia, sua dor, suas limitações dentro da escola e na sociedade é essencial. Isso abre fronteiras e muda comportamentos”, destacou Lívia.
Logo após, os professores da Uneb, Gildeci Leite, Joabson Figueiredo e Edson Carvalho trouxeram à tona a “Religiosidade de Matrizes Africanas”, desmitificando o Candomblé e Umbanda, apontando os saberes ancestrais, sincretismo, os Orixás e Exus na literatura, música e arte brasileira. “Nos dias de hoje, ainda a intolerância religiosa, demonização e a visão estereotipada a respeito das religiões negras são comuns. O objetivo é trazer a literatura como um dispositivo de desconstrução de preconceitos”, disse Gildeci, ao apresentar sua obra literária “Casa do Mistério ou Casa do Renascimento”.
Fechando o ciclo de palestras, a Conferência de Abertura apresentou o escritor brasileiro radicado na costa africana, Roberto Leal que acompanhado da professora Nelma Arônio (Uneb), tratou sobre a “África e Literatura hoje na Globalização”. Ele compartilhou as dificuldades, suas iniciativas e cursos literários em Angola e Luanda. O escritor apresentou algumas de suas obras, a exemplo da coletânea poética “Com Amor e Luta”.
“Eu aprendi a ser muito mais brasileiro vivendo na África. Foram muitas experiências, mas o crescimento cultural, preservação da história, os valores regionais, folclore e artes africanas, caminham junto com o Brasil, e a passos largos países africanos vem se destacando e avançando rumo a um lugar de destaque. E tenho orgulho de participar dessa luta pela valorização da literatura afrobrasileira”, apontou Roberto Leal.
Na última quarta-feira (24), a Flib apresentou as mesas e rodas de diálogo sobre “Literatura e resistência: poéticas insurgentes”; Mulheres Negras na Oralitura: saberes ancestrais e outras águas e Roda de Conversa de Roberto Leal, escritores e membros da ABL.
Fonte / Foto: DIRCOM/PMB