Especialista explica como a Cannabis medicinal pode beneficiar condições como glaucoma e degeneração macular, destacando os avanços e desafios na aplicação clínica
Para destacar a importância dos cuidados com os olhos, o dia 10 de julho é a data designada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o Dia Mundial da Saúde Ocular. O objetivo é conscientizar a população e os profissionais de saúde sobre a necessidade da prevenção e do diagnóstico precoce de doenças oculares.
Nos últimos anos, a Cannabis medicinal tem ganhado destaque como uma potencial aliada no tratamento de diversas condições de saúde. Na oftalmologia, não é diferente. Para falar mais sobre o tema, conversamos com o oftalmologista e especialista em Cannabis medicinal, Dr. Tiago Di Girolamo Vita.
Tratamentos com Cannabis medicinal na oftalmologia
Principais condições tratáveis
“As mais estudadas e que já possuem algum nível de evidência científica são o glaucoma, degeneração macular relacionada à idade, além de efeitos analgésicos e anti-inflamatórios na córnea. Há também possíveis efeitos indiretos nas alterações vasculares causadas pela diabetes, conhecida como retinopatia diabética, e em inflamações intraoculares, conhecidas como uveíte”, explica.
Evidência científica
A eficácia da Cannabis medicinal no tratamento de doenças oculares é um campo em crescimento. “A maioria das evidências publicadas são estudos em animais ou in vitro, demonstrando efeitos nos mecanismos de ação, com efeito antioxidante, anti-inflamatório, vasodilatador e regulador da pressão intraocular. Já é amplamente descrita a presença de receptores canabinoides em diversas estruturas oculares, como a retina, córnea, corpo ciliar, íris e malha trabecular,” explica o Dr. Tiago.
O Dr. Tiago detalha que, em modelos animais, “foi descrito que a monoacilglicerolipase (MAGL), expressa no epitélio do corpo ciliar, reduz de forma efetiva a pressão intraocular no local de entrada do humor aquoso. Estudos em ratos mostraram que tanto a 2-AG (2-araquidonoilglicerol) quanto a MAGL são enzimas reguladoras de pressão ocular. Os efeitos dos canabinoides na PIO podem ser explicados pela interação destes com o músculo ciliar e o canal de Schlemm, além da modulação da COX-2 (Ciclo-oxigenase-2).”
Além dos efeitos na pressão ocular, os fitocanabinoides atuam na redução da produção do glutamato e do estresse oxidativo, levando a um efeito neuroprotetor. “O THC demonstrou em vários estudos um potencial na redução da pressão ocular, apesar do efeito de curta duração (2 a 4 horas). Outros fitocanabinoides naturais como o CBD (canabidiol), CBG (canabigerol) e o CBN (canabinol), e também sintéticos, já vêm sendo estudados e também demonstrando efeitos de neuroproteção, anti-inflamatórios e antioxidantes, desejados para controle e proteção contra diversas enfermidades oculares,” destaca o Dr. Tiago.
Riscos e efeitos colaterais
É importante ponderar os riscos associados ao uso de Cannabis medicinal para tratamentos oculares. “Apesar das evidências disponíveis, o uso clínico dos canabinoides na prática clínica ainda não faz parte de protocolos das principais sociedades oftalmológicas do mundo, carecendo ainda de estudos de ensaio clínico com humanos. O uso na nossa prática clínica se restringe a casos refratários e compassivos, onde o tratamento convencional não tem dado resultado. Assim como qualquer tratamento, há riscos no uso indiscriminado e não orientado por um profissional habilitado,” alerta o Dr. Tiago.
Cannabis medicinal e saúde ocular: perspectivas futuras
O Dr. Tiago acredita que novos estudos são publicados a cada dia e, em um futuro próximo, “a Cannabis fará parte do nosso arsenal terapêutico para diversas doenças oculares.” Ele finaliza dizendo que é fundamental que a comunidade médica e os pacientes permaneçam atentos às novas descobertas e evidências científicas, visando sempre o bem-estar e a saúde ocular.
Fonte: Cannabis e Saúde
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