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Cannabis medicinal: evidências científicas para tratar autismo e epilepsia

Reunimos evidências científicas e relatos de pacientes que afirmam que o uso da Cannabis é eficaz e seguro para tratar epilepsia e autismo

Seguimos com a nossa série de evidências científicas que comprovam a eficácia do uso medicinal da Cannabis, desta vez vamos apresentar estudos e relatos de pacientes com epilepsia e transtorno do espectro do autismo.

Esse é o terceiro capítulo da série. Você pode conferir os episódios anteriores:

Como de costume, reforçamos que o nosso objetivo com essa série é contribuir com um debate mais maduro sobre o uso medicinal da planta, destacando conhecimento obtido por cientistas de universidades e centros de pesquisa de várias partes do mundo.

Consideramos evidência científica os dados coletados por meio de pesquisas rigorosas, como ensaios clínicos, estudos observacionais, revisões sistemáticas e meta-análises. Esse é o tipo de conhecimento que pode orientar decisões relacionadas a cuidados de saúde e políticas públicas.

O legado de Elisaldo Carlini

O transtorno do espectro autista e a epilepsia são condições neurológicas complexas que, frequentemente, coexistem. A relação entre essas duas condições tem sido objeto de estudo de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, que buscam formas de proporcionar qualidade de vida e bem-estar para pacientes e suas famílias.

Se o canabidiol (CBD) ganhou reconhecimento global como uma abordagem eficaz e segura para pessoas com epilepsia, devemos isso a um cientista brasileiro: Elisaldo Carlini. Nos anos 1970, Carlini e sua equipe conduziram pesquisas que demonstraram o potencial do CBD como anticonvulsivante. Suas pesquisas abriram caminho para o reconhecimento deste canabinoide como opção de tratamento e o seu legado está vivo até hoje.

Graças aos fenômenos que ele observou naquela época, hoje temos tratamentos mais seguros e eficientes para esse tipo de paciente.

Evidências científicas da eficácia da Cannabis no tratamento da epilepsia e transtorno do espectro do autismo

A abordagem colaborativa reuniu especialistas de diversos campos e proporcionou uma perspectiva ampla e abrangente para a condução da pesquisa sobre os efeitos do CBD em condições neurológicas e psiquiátricas.

A seguir, apresentamos cinco evidências científicas que sugerem o uso medicinal da Cannabis para o tratamento da epilepsia e transtorno do espectro do autismo.

1. Revisão sistemática sobre a Cannabis no tratamento do transtorno do espectro do autismo

Como mencionamos um grande cientista brasileiro anteriormente, vamos começar citando um estudo realizado por outros pesquisadores daqui do Brasil. Uma equipe formada por cientistas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis Sativa fez uma revisão sistemática sobre o uso de CBD e outros componentes da planta para o tratamento do transtorno do espectro do autismo.

O estudo Cannabis and cannabinoid use in autism spectrum disorder: a systematic review foi publicado no periódico Trends in Psychiatric Psychotherapy em 2021. Uma revisão sistemática é um tipo de análise que busca estudos realizados anteriormente sobre um tema específico e analisa esses resultados. Eles selecionaram nove artigos que atendiam os critérios para concluir que:

“A Cannabis e os canabinoides têm efeitos muito promissores no tratamento de sintomas autistas e podem ser usados no futuro como uma importante alternativa terapêutica para aliviar esses sintomas, especialmente crises de automutilação e raiva, hiperatividade, problemas de sono, ansiedade, inquietação, agitação psicomotora, irritabilidade e agressividade; bem como melhorar a sensibilidade sensorial, cognição, atenção, interação social, linguagem, perseverança e depressão.”

2. Revisão sistemática sobre a Cannabis no tratamento de epilepsia infantil

Uma equipe de cientistas canadenses realizou uma revisão sistemática da literatura científica sobre o uso de produtos à base de Cannabis para tratar a epilepsia em crianças e jovens. Essa pesquisa selecionou quatro estudos clínicos randomizados e 17 não randomizados.

O estudo Cannabis-based products for pediatric epilepsy: A systematic review foi publicado no periódico da Liga Internacional Contra a Epilepsia em 2018. Nessa análise, eles observaram diversas formas de epilepsia e destacaram melhoras em pacientes com doenças graves que encontraram alívio nas convulsões.

“Evidências de estudos clínicos randomizados recentes de alta qualidade sugerem que o CBD é eficaz na redução da carga convulsiva entre crianças com síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut resistentes a medicamentos; no entanto, poucas crianças experimentaram liberdade completa de convulsões.”

3. Revisão sistemática de evidências da Cannabis no tratamento da epilepsia

Outra revisão sistemática que buscou dados obtidos através de estudos clínicos, dessa vez do uso dos componentes da Cannabis para tratar a epilepsia em adultos. Pesquisadores da Austrália observaram resultados positivos com o uso do CBD e chegaram a uma média de redução de 50% no número de crises.

O artigo Evidence for cannabis and cannabinoids for epilepsy: a systematic review of controlled and observational evidence foi publicado no Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry em 2018 e obteve resultados em formas graves de epilepsia.

4. Revisão sistemática sobre o uso do CBD para crianças e jovens com epilepsia refratária

Essa revisão sistemática se concentrou no uso do CBD para o tratamento de pacientes com epilepsia resistente a medicamentos. O estudo foi realizado por pesquisadores da Colômbia e observou que a redução nas crises varia de pessoa para pessoa, indo de uma diminuição de 50 até 100% na frequência de convulsões. Ou seja, é possível que alguns indivíduos se vejam livres de crises com o uso do canabidiol.

O estudo Use of cannabidiol in the treatment of drug-refractory epilepsy in children and young adults: A systematic review foi publicado no Journal of Neurosciences in Rural Practice em 2024. Os autores concluíram que pacientes com vários tipos de epilepsia refratária podem se beneficiar do tratamento com CBD.

“Os benefícios da crise são claros, na redução e até mesmo na eliminação ou bloqueio das crises, impactando positivamente sua qualidade de vida, como sono, comportamento e funções cognitivas. Há grande eficácia contra diferentes tipos de crises epilépticas, como tônicas, tônico-clônicas, encefalopatia epiléptica, crises focais e crises generalizadas, tornando seu uso aconselhável para os pacientes, sem esquecer que ainda são necessárias mais informações sobre seu uso a longo prazo.”

5. Revisão de ensaios clínicos sobre o uso do CBD para a síndrome de Dravet

Fechamos nossa lista com uma revisão da literatura científica que privilegiou estudos clínicos utilizando CBD para tratar a síndrome de Dravet. Esta é uma doença rara que se manifesta ainda na infância e causa epilepsia de difícil controle.

O estudo The efficacy and safety of cannabidiol (CBD) in pediatric patients with Dravet Syndrome: a narrative review of clinical trials foi publicado no European Journal of Medical Research, apesar de ter sido realizado por pesquisadores nigerianos. Eles observaram que além da redução na frequência e intensidade das crises, a qualidade de vida dos pacientes melhorou de uma forma mais ampla.

“O CBD reduz a frequência das convulsões e melhora a qualidade de vida geral dos pacientes afetados. Uma das descobertas mais intrigantes é a eficácia consistente do CBD em vários estudos, independentemente da dosagem administrada. Isso sugere que o CBD é promissor como um tratamento que pode fornecer resultados confiáveis para um amplo espectro de pacientes com síndrome de Dravet.”

Pacientes que trataram epilepsia e/ou transtorno do espectro do autismo com Cannabis

Agora que você já conheceu cinco evidências científicas que apoiam o uso medicinal da Cannabis no tratamento de epilepsia e transtorno do espectro do autismo com Cannabis, vamos conhecer pessoas que fizeram essa escolha. Esses e outros depoimentos você pode ler na nossa sessão “Histórias de pacientes”.

Davi – autismo severo

O jovem Davi tem uma forma severa do transtorno do espectro do autismo e experimentou uma transformação marcante no seu bem-estar após incluir a Cannabis no tratamento. Por conta da hiperatividade e dificuldade de concentração, era difícil acompanhar as atividades escolares. Atualmente, a mãe dele, Erika, observa melhoras significativas na rotina do filho.

Ela nos contou que no caso deles, a melhora foi rápida e veio em poucas semanas.

“Eu já pesquisava sobre Cannabis, mas ainda tinha um certo receio. Porém, a médica sugeriu que tentássemos, pois Davi estava com doses muito altas dos medicamentos alopáticos. Eu estava preocupada com a possibilidade de a Cannabis deixar a criança agitada ou causar problemas estomacais. No entanto, após as primeiras semanas de uso, vi uma grande diferença. Davi se deu muito bem com a medicação”

Leia aqui a história completa de Davi e Erika.

Emanuelly – autismo

Os primeiros meses de vida da Emanuelly foram muito difíceis para a mãe, Mayra. A bebê se irritava com extrema facilidade e não aceitou o peito da mãe. Esses eram sinais de que a criança está no espectro do autismo.

A inclusão de produtos com Cannabis no tratamento da menina transformou completamente a rotina da família. Com os sintomas controlados, o amor voltou a circular com facilidade dentro da casa delas.

“A minha menina é a prova viva de que a Cannabis pode ajudar muito! Graças a esta planta, hoje eu posso abraçar a minha filha quantas vezes eu quiser. O contato não é mais uma barreira. E eu sou muito agradecida, a Cannabis marcou um antes e depois na qualidade das nossas vidas!”

Leia aqui a história completa de Emannuelly e Mayra.

Rafaela – epilepsia

A jovem Rafaela chegou a ter 120 convulsões por dia e a Cannabis ajudou esse número a chegar a zero. Posteriormente, os pais descobriram que a causa dessas crises seria a síndrome de West, uma doença que causa epilepsia, além de espasmos e dificuldades no desenvolvimento.

Ela demorou mais para fazer coisas que crianças da idade dela já faziam, como dar os primeiros passos e arriscar as primeiras palavras. A inclusão da Cannabis no tratamento da menina mudou totalmente a rotina da família e a mãe dela, Lilian, nos contou como foi marcante essa época.

“Logo depois do início do tratamento, eu precisei colocar um tapete de borracha e almofada na casa. Ela nem queria engatinhar, queria começar a andar direto. Caía e levantava, persistente”

Leia aqui a história completa de Rafaela e Lilian.

Luana – epilepsia refratária

A jovem Luana recebeu o diagnóstico de epilepsia refratária nos primeiros anos de vida. Ela tinha várias crises por dia e passou pelo consultório de muitos médicos. Insatisfeita com os efeitos colaterais que a medicação tinha na Luana, a mãe dela, Renata, seguiu as recomendações de uma amiga e buscou apoio médico para incluir o CBD no tratamento da filha.

Após iniciar o uso do canabidiol, Renata percebeu alguns avanços na qualidade de vida da filha. Luana ficou mais calma, comunicativa e experimentou menos dores e melhores noites de sono com o uso da planta. Depois de ver esse progresso, a mãe se tornou uma defensora do uso medicinal da Cannabis.

“É inadmissível que em pleno século XXI uma mãe seja desencorajada a considerar o uso da Cannabis para tratar a epilepsia de seu filho, especialmente quando há evidências de sua eficácia. É necessário desafiar e transformar essas mentalidades”

Leia aqui a história completa de Luana e Renata.

Renan – autismo

Além de estar no espectro do autismo, o jovem Renan recebeu o diagnóstico de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Assim, começou cedo a fazer terapias com medicamentos convencionais.

O tratamento com CBD começou e os resultados vieram rapidamente. Em uma família já habituada aos tratamentos com a planta, o jovem Davi tinha um ambiente acolhedor e sem preconceitos com a Cannabis, como nos contou o seu pai, Murilo.

autismo

“A gente sempre foi favorável a uma medicação mais natural e, além disso, a minha sogra já usou e passou a dormir melhor. Minha esposa, com fibromialgia, melhorou das dores. Não faz o menor sentido quem tem preconceito.”

Fonte: Cannabis e Saúde
Foto: Reprodução

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