Medicamento com CBD e THC pode preservar tecido nervoso e facilitar a recuperação após lesão na medula espinhal, segundo estudo
Uma pesquisa realizada por cientistas argentinos sugere uma possibilidade promissora para pessoas com lesão medular: o uso de extratos de Cannabis. Em testes em animais, um medicamento com proporções iguais de canabidiol (CBD) e ∆9-tetrahidrocanabinol (THC) demonstrou resultados animadores, como redução da inflamação no sistema nervoso e melhora na recuperação de movimentos após a lesão.
Os pesquisadores destacam que os bons resultados estão ligados à combinação de canabinoides e à presença de outros compostos da planta no extrato, como flavonoides e terpenos, que potencializam os efeitos terapêuticos.
O que é uma lesão medular
A medula espinhal é uma estrutura vital do sistema nervoso que passa dentro da coluna vertebral. Ela atua como um “canal de comunicação” entre o cérebro e o corpo, transmitindo comandos e recebendo informações sensoriais.
Quando há danos nesse canal — seja por acidentes, quedas ou doenças — as consequências podem ser graves. Algumas pessoas podem perder movimentos e a sensibilidade abaixo do local da lesão. Dependendo da região afetada, a pessoa pode ficar paraplégica (perda do movimento das pernas) ou tetraplégica (perda do movimento de braços e pernas).
Além disso, muitas pessoas enfrentam dores crônicas, espasmos musculares e outros sintomas que comprometem a qualidade de vida.

Como a Cannabis pode ajudar quem sofreu uma lesão medular
Atualmente, não existe um tratamento capaz de reverter os danos da lesão na medula espinhal. As terapias atuais tentam evitar que a lesão piore, reduzir a dor e ajudar na reabilitação. O estudo argentino, porém, indica que os compostos da Cannabis podem agir precocemente, controlando a inflamação logo após a lesão medular e favorecendo a recuperação do movimento.
Nos últimos anos, os canabinoides, especialmente o CBD e o THC, vêm sendo recomendados para complementar tratamentos para a saúde por seus efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores. Em condições como a esclerose múltipla, epilepsia, Parkinson e Alzheimer, eles ajudam a proteger as células do sistema nervoso, aliviando diferentes sintomas.
Nesse contexto, os pesquisadores analisaram um extrato padronizado com proporções bem definidas de compostos da Cannabis (CBD e THC) em ratos que sofreram lesão medular espinhal. Eles avaliaram a eficácia do medicamento para reduzir a neuroinflamação e ajudar na recuperação locomotora.
Menos danos secundários e preservação de funções motoras
Os resultados foram animadores: o tratamento diminuiu a inflamação no local da lesão, evitou a progressão do dano e aumentou a quantidade de tecido nervoso que conseguiu ser preservado. Além disso, os animais que receberam o extrato apresentaram melhor desempenho em testes de locomoção.
Embora o estudo tenha sido feito em animais, ele abre caminho para novas pesquisas em humanos. Se esses benefícios forem confirmados em ensaios clínicos, o uso de produtos à base de Cannabis pode se tornar uma ferramenta terapêutica para ajudar milhares de pessoas que vivem com os impactos de uma lesão medular.
Outros estudos sobre o uso da Cannabis e lesão medular
O estudo argentino explorou os efeitos dos compostos da Cannabis nos momentos após a lesão medular. No entanto, os canabinoides também podem oferecer benefícios a longo prazo, como o alívio de dores crônicas e espasmos musculares.
Uma pesquisa anterior, realizada nos EUA, mostrou que 87% dos pacientes com lesão medular relataram uma redução significativa na dor após iniciar o uso de medicamentos à base de Cannabis. Nesse sentido, os canabinoides se apresentaram como uma alternativa a outros remédios analgésicos, como opioides.
Considerando que cerca de 60% das pessoas com lesão na medula sofrem com dores intensas, os canabinoides surgem como um potencial adjuvante no tratamento.
Depoimento de uma paciente
Mara Gabrilli, senadora por São Paulo e defensora dos direitos das pessoas com deficiência, é um exemplo inspirador de uso de medicamentos à base de Cannabis para tratar as complicações após uma lesão medular. Em entrevista à Denise Tamer, a parlamentar disse que, na década de 1990, precisou buscar tratamento nos EUA para ter acesso ao uso medicinal dos canabinoides, já que no Brasil a opção não existia.

“Desde que sofri o acidente, enfrento desafios diários para cuidar de um corpo que não se move, mas que sente dor, espasmos, insônia e tantas outras consequências da lesão medular. Naquela época, a reabilitação no Brasil era praticamente inexistente. Tive o privilégio de ir aos EUA, onde descobri que a Cannabis poderia ser uma grande aliada para lidar com esses sintomas. Os médicos de lá me prescreviam o óleo de Cannabis, e os resultados eram incríveis”
Fonte: Cannabis & Saúde
Foto: Reprodução cannabis & Saúde