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Circo Picolino retoma atividades públicas com espetáculo dias 16 e 17 de dezembro

Apresentação é resultado de residência artística com 10 artistas baianos e nacionais através do edital Bicentenário da Independência, do Governo do Estado

Vida, Morte e Renascimento. 38 anos de produção e formação circense. Dos ventos em brisa-mar, muitos foram os artistas que deste porto desbravaram potências artísticas e aportaram em outras picadeiros pelo mundo. O Circo e Escola Picolino, que hoje encontra-se ilha em meio à um canteiro de obras em Pituaçu, permanece sendo um celeiro para as artes circenses, muitos cresceram nele e alguns que se aproximaram nos últimos anos. É a partir destes que o Picolino resiste, reinventa-se e que poderemos assistir nos próximos dias 16 e 17 de dezembro, 17h, a um espetáculo circense contemporâneo, que traz uma diversidade de técnicas circenses, incluindo aéreos, acrobacias, equilibrismo e outras expressões artísticas. A entrada é gratuita e pague quanto puder.

O espetáculo, resultado de uma residência artística contemplada pelo edital Diálogos Artísticos –Bicentenário da Independência na Bahia e tem apoio financeiro da Fundação Cultural do Estado da Bahia, unidade vinculada à Secretaria de Cultura (Funceb/SecultBa), conta com um elenco de linguagens artísticas diversas – Alice Cunha, Any Gonçalves, Ed Carlos, Felipe Cerqueira, Lara Boker, Luana Tamaoki Serrat, Marcelo Galvão, Nina Porto, Pedro Silva e Yerko Haupt.

A obra tem como mote os atuais processos do circo e as desafiantes convivências, existências e resistências diante das obras de requalificação da Orla de Pituaçu, que podem vir a deslocar o picadeiro para outro espaço. O Picolino está aterrado há mais de 20 anos no mesmo local. A fonte de inspiração é a palavra “mudança” e toda a sua complexidade social.

“O Picolino está prestes a mudar de local, uma transformação que ecoa como uma jornada de vida, morte e renascimento. É uma despedida emocionada de um circo que deixou sua marca ao longo de 38 anos, uma celebração aos ancestrais mais próximos, como Anselmo Serrat e Clóvis Gonçalves. Cada artista residente traz consigo a mudança pessoal como bagagem para a cena”, pontua a artista circense Nina Porto, também publicitária.

O espetáculo é o resultado do encontro de 10 artistas de várias gerações e formações circenses diversas, sendo notável que 90% deles foram formados ou passaram pela Picolino. A dança e a música irão desempenhar papéis fundamentais, enquanto o público testemunhará uma diversidade de técnicas circenses, incluindo aéreos, acrobacias, equilibrismo e outras expressões artísticas.

O espetáculo é uma obra coletiva que tem como provocação dramatúrgica a certeza que o Circo, através do Picolino, continua a cumprir sua missão. “Com este projeto queremos defender a ideia de que sejam implementadas políticas públicas mais efetivas para apoiar os circos na Bahia”, realça o coletivo, ao recordar que, em 2007, o Picolino recebeu da Presidência da República a Ordem do Mérito Cultural em reconhecimento ao conjunto do seu trabalho.

Residência
De acordo com Marcelo Galvão, um dos idealizadores do projeto ao lado de Luana Tamaoki Serrat, Nina Porto, Felipe Cerqueira, o principal objetivo da residência é o de oportunizar um espaço de criação e troca artística com a diversidade de artistas de circo, dança, teatro e outras artes, para aprimorarem suas habilidades técnicas e expandirem a criatividade.

Em meio às práticas e experimentações cotidianas, Luana, Nina, Felipe e Marcelo – que vêm acompanhado todo o processo de reforma do canteiro central da orla de Pituaçu -, começaram no início de 2023 a se reunirem com o propósito de refletir sobre as necessidades emergentes de corpos pós-pandêmicos e a ocupação artística no Picolino.

“O projeto nasceu da urgência compartilhada pelos artistas em relação à lona, à cidade e à necessidade de facilitar o encontro entre artistas para a coletiva reflexão e produção circense”, destaca Galvão, ao acrescentar que o projeto é uma das possibilidades de permanência das ações educacionais e artísticas do Circo Picolino, que pode vir a ser deslocado para outra área devido a obra.

O Picolino é esse grande imaginário incomum quando se pensa Circo em Salvador, na sua maior potencialidade. Sempre encantado pelas artes circenses, Marcelo Galvão comenta que o “circo sempre esteve muito presente em minha vida, sempre fui um espectador amante das lonas. O Picolino surge adentrando meu eu-corpo a cinco anos, quando comecei a fazer aulas de Circo com Felipe, Luana e Binho e é massa hoje poder dividir a cena, eu que venho da dança e venho namorando o circo num caso de amor interessante”, declara o bailarino e coreógrafo.

Já o artista circense há 5 anos, Felipe Cerqueira enfatiza que a residência e, consequentemente o espetáculo, evidenciam a representatividade histórica da escola Picolino, “lona em que tive a honra de ser aluno há 15 anos”, assim como colegas como Ed Carlos, que cresceu e se profissionalizou aqui, viajou pelo Brasil. “Retornar pra casa, pra minha cidade e propor este projeto é uma honra”.

Felipe pontua que todo o projeto é uma forma de gerar mais oportunidades para os nossos e de tornar acessível as as artes circense. “Por isso, convidamos todos a fazer parte desse movimento de renovação do Picolino e de levantar a bandeira do direito de termos um espaço puramente dedicado às artes circenses para nossa cidade, espaço esse que é nosso. Que é sagrado. Alê rei!”, enfatiza Cerqueira.

Nesse contexto, a importância do projeto da Escola Picolino se torna evidente. Ao longo de seus 38 anos de fomento, a Escola Picolino desempenhou um papel vital na Bahia, oferecendo uma formação de excelência nas artes circenses. Não apenas isso, mas também exportou talentosos artistas para renomadas companhias em todo o mundo, incluindo o Cirque du Soleil.

A Bahia é um verdadeiro berço das artes. No entanto, é lamentável que, até o momento, o circo brasileiro – principalmente, o baiano – ainda não tenha encontrado espaços para formação técnica e universitária a nível federal, estadual ou municipal. E, nas últimas quase três décadas, graças ao empenho de Anselmo Serrat e Clóvis dos Santos (ambos já falecidos), e tantos outros, o Picolino preencheu uma lacuna crítica no panorama educacional e artístico em Salvador, garantindo que as artes circenses, com toda a sua riqueza e diversidade, tenham um espaço para crescer e prosperar.

Prosperar, é desenvolver-se em comunidade. Foi desta forma que Ed Carlos – conhecido como Binho – chega ao Picolino, aos oito anos. Cresceu, profissionalizou-se e é um dos artistas convidados do projeto. “Há 33 anos quando chego a Escola Picolino, estava saindo de uma situação de rua. Espaço que tem uma representatividade enorme na minha vida, que me permitiu comprar uma casa aos 18 anos, me ensinou o que é ser pai. Principalmente, Anselmo, que me abraçou e foi um pai para mim”.

Binho exclama que, após esses 33 anos, a Picolino infelizmente ainda não recebe da população o reconhecimento necessário diante da sua intervenção política, educacional e artística. “Hoje, temos poucas pessoas que conhecem a nossa história Mas, sinto-me esperançoso ao perceber a vontade deste coletivo de movimentar o espaço e de resgate”, reforça o artista, que aproveita para parabenizar Any Gonçalves, “que nos últimos anos tem se dedicado a cuidar e manter o espaço físico erguido”.

Herança
Se o Picolino é hoje a ancestralidade circense para muitos artistas. Este picadeiro nasce dentro de outro circo, o Troca de Segredos. O casal Anselmo Serrat e Verônica Tamaoki recém chegados em Salvador, com o grupo Tapete Mágico, em 1985, criam a Escola Picolino. Com eles, a filha Luana Tamaoki Serrat – que em comunhão com um grande coletivo de artistas administram o espaço, entre elas Nina Porto e Any Gonçalves, ambas filhas de artistas também circenses e que fazem parte da história de resistência que é o Picolino, uma herança e patrimônio material e imaterial do circo na Bahia.

“O Circo Picolino é como um irmão mais velho. Cresci brincando neste quintal. Foi onde aprendi a fazer circo. A artista que estou hoje veio deste lugar, onde os experimentos eram possíveis. Foi e sempre será minha principal escola de vida. Quando meu pai faleceu em 2020, demos continuidade ao sonho dele, que também e nosso, de manter a história do Picolino. Com a pandemia, passamos por muitas situações, Cambaleamos, mas a brisa do mar trouxe uma nova galera cheia de planos e projetos. Continuar a pisar neste picadeiro como artista, ter um ombro pra subir, ter alguém pra te arremessar para cima, é um momento muito feliz”.

Fonte: Assessoria de Imprensa
Foto: Maiana Oliveira

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