Pesquisadores investigaram como seria a tolerância à Cannabis em pessoas com diferentes padrões de consumo da planta
Uma equipe de pesquisadores das universidades do Colorado e de Iowa, nos EUA, fizeram um estudo para investigar se os consumidores desenvolvem ou não tolerância à Cannabis. Os resultados foram publicados no periódico científico Journal of Cannabis Research.
Os cientistas recrutaram participantes adultos e dividiram em três grupos, pessoas que fazem uso todo dia, de vez em quando e que não usam a planta, como grupo controle. Os dois primeiros grupos passaram por uma bateria de testes antes e aproximadamente uma hora após o consumo de um produto rico em delta-9-tetrahidrocanabinol (THC).
O desempenho psicomotor e cognitivo foi medido com testes feitos em um tablet com tarefas que mediam o tempo de reação, velocidade de processamento de informações e função executiva.
A tolerância à Cannabis
Nesse estudo, a tolerância diz respeito à diminuição da resposta aos efeitos do THC na pessoa. Se, com o uso contínuo, os consumidores precisariam de uma dose mais alta para sentir os mesmos efeitos percebidos anteriormente. Exemplos de substâncias que desenvolvem tolerância são os opioides e bebidas alcoólicas.
Desse modo, a solução que os pesquisadores encontraram foi comparar pessoas que utilizam a planta todos os dias com pessoas que fazem uso menos frequentemente.
O grupo que fazia uso ocasional de produtos com Cannabis teve um desempenho pior nos testes, indicando que eles era menos resistentes aos efeitos do THC. De acordo com o artigo, o tempo de reação diminuiu e o processamento da memória de curto prazo foi pior.
Nesse sentido, o grupo que fazia uso diário da planta precisou de mais tempo para realizar a tarefa que media o tempo de reação, porém, diferente do outro grupo, sem afetar tanto a memória de curto prazo.
O grupo de uso diário desenvolveu certa tolerância ao efeito agudo do THC que afeta a memória, a cognição e o tempo de resposta. Assim, os cientistas mencionaram na conclusão do estudo.
“Tomados em conjunto, os resultados são consistentes com a tolerância adquirida a certos efeitos agudos de drogas. O aumento do tempo necessário para o grupo de uso diário completar a tarefa de aceitação da lacuna pode, no entanto, indicar um efeito agudo da Cannabis entre aqueles do grupo de uso diário, que priorizaram a precisão em detrimento do tempo de resposta. Baterias de avaliação psicomotora e cognitiva, como a utilizada neste estudo, são promissoras para fornecer uma medida objetiva do comprometimento da Cannabis.”
Diferenças entre THC e CBD
Como o estudo aconteceu em estados com a Cannabis legal, os participantes tinham acesso a produtos com concentração de THC entre 15 e 30%. O foco foi nesse canabinoide, que causa os efeitos psicoativos típicos da planta e geralmente desperta mais preocupação em pacientes e profissionais da saúde.
A principal razão para os consumidores desenvolverem certa tolerância ao THC é a sua interação com o sistema endocanabinoide. O delta-9 é um agonista parcial do receptor CB1, assim o uso prolongado reduz a expressão desse receptor.
Por outro lado, o canabidiol (CBD), outro canabinoide produzido em grandes quantidades pela planta Cannabis, não causaria nenhum tipo de tolerância graças à forma como interage com o sistema endocanabinoide. Ele é um agonista alostérico do CB1, interagindo indiretamente com o receptor.
Portanto, acredita-se que produtos que contenham ambos os canabinoides causariam menos tolerância nos consumidores.
Evitando a tolerância à Cannabis
É importante destacar que os pesquisadores optaram por não avaliar a tolerância aos efeitos terapêuticos dos produtos ricos em THC. A melhor forma de lidar com a tolerância aos efeitos da Cannabis é seguindo as orientações do profissional da saúde sobre dosagem, além de considerar produtos que tenham algum teor de CBD.
Fonte: Cannabis e Saúde
Imagem: Divulgação