Melhorias na estrutura das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e na disponibilidade de imunobiológicos estão associadas a maiores coberturas vacinais nos municípios brasileiros. É o que indica estudo realizado pela UFMG, publicado recentemente na Revista de Saúde Pública.
A pesquisa analisou dados de 3.977 municípios e as informações foram extraídas de duas bases públicas: o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) e o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ).
Entre os itens avaliados na estrutura das UBS estavam: existência de sala de vacinação, geladeira exclusiva, caixas térmicas, cartão de vacinação e serviço de vacinação. Já a disponibilidade de imunobiológicos considerou a presença contínua de oito vacinas: BCG, hepatite B, meningocócica C, poliomielite, pneumocócica 10, tríplice viral, tetravalente/pentavalente e rotavírus oral.
A estrutura das UBS e a oferta de vacinas foram classificadas como “boas”, “regulares” ou “ruins” com base em critérios padronizados. Unidades com seis ou sete dos itens avaliados foram consideradas de boa estrutura. Já aquelas com sete ou oito vacinas sempre disponíveis foram classificadas com boa disponibilidade de imunobiológicos. A cobertura vacinal foi pontuada a partir do número de vacinas com metas atingidas em cada município.
Quando a disponibilidade de imunobiológicos é tida como boa, municípios com estrutura também considerada boa têm 86% mais chances de alcançar cobertura vacinal adequada, em comparação aos que têm estrutura ruim. Já com a estrutura fixada como boa, a chance de cobertura adequada é 48% maior quando a disponibilidade de vacinas também é boa. “É indispensável que a rede de frio funcione bem e que as vacinas estejam disponíveis nas unidades”, afirma Guilherme de Andrade Ruela, autor do estudo. “Mas é igualmente essencial que as UBS contem com o espaço, os equipamentos e insumos necessários para garantir a conservação e a aplicação eficaz e segura dos imunizantes”, diz.
O estudo também apontou oscilações na cobertura vacinal ao longo do tempo. Entre 2011 e 2015, a proporção de municípios com cobertura adequada subiu de 32,5% para 55,1%, mas caiu para 42,1% entre 2016 e 2019. A disseminação de notícias falsas, o avanço do movimento antivacina, o enfraquecimento de políticas preventivas e fatores socioeconômicos podem estar entre os principais motivos. “Sugere-se que essa queda ocorra de forma ainda mais visível dependendo da gestão vigente, ou seja, quando não há ações que fortaleçam o Programa Nacional de Imunizações (PNI), por parte, sobretudo, do Governo Federal”, alerta Ruela.
Segundo o pesquisador, a queda na cobertura vacinal provavelmente se manteve mesmo após o período analisado, agravada pela desinformação, avanço dos movimentos antivacina e maior hesitação vacinal. Ele destaca ainda o impacto da pandemia de Covid-19. “A pandemia alterou todo o funcionamento dos serviços de saúde e é possível observar uma redução das coberturas vacinais também nesse período”, diz, recordando que a situação emergencial vivida entre 2020 e 2023 alterou o fluxo de atendimentos nas UBS e afetou a organização dos serviços de saúde.
A pesquisa reforça que unir melhorias na infraestrutura das UBS à oferta adequada de imunizantes é essencial para atingir as metas do PNI. “Houve uma preocupação recente por parte do Governo Federal; o Ministério da Saúde propôs ações para reverter o quadro de quedas e colocar o Brasil, novamente, como destaque no que diz respeito ao programa de imunização”, afirma o autor. Para ele, monitoramentos contínuos são fundamentais para embasar novas políticas e intervenções.
Fonte: Agência Bori
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