Estudo lançado na última segunda-feira (4) pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) avalia se a recuperação das economias em períodos pós-crise econômica tem relação com o desempenho do mercado de crédito bancário. A partir dos dados apresentados, concluiu-se que há, na maior parte das vezes, uma correlação positiva entre o impulso do crédito e o crescimento da atividade econômica.
O impulso de crédito é a variação das concessões líquidas de crédito em proporção do PIB (novos empréstimos líquidos dos pagamentos de juros, amortizações e renegociações) e a variação da atividade econômica (crescimento do PIB). A partir dessa métrica, a análise, divulgada na quinta edição da série Estudos especiais do BNDES, busca responder qual é a evolução do impulso do crédito no Brasil e se há relação deste com o crescimento da atividade econômica.
Com exceção de 2003, o impulso do crédito foi positivo no Brasil entre os anos de 2002 e 2008. Nesse período, tiveram vital importância a ampliação dos níveis de emprego formal e de renda – viabilizados pelo crescimento da economia com estabilidade de preços e pelas políticas de redistribuição de renda –, uma tendência de queda da taxa de juros básica da economia e mudanças institucionais – como a regulamentação do crédito consignado e a nova lei de falências de 2005, entre outros – que reforçaram o ciclo expansionista ao tornar o mercado de crédito mais seguro para o emprestador de recursos.
Entre setembro de 2008 e 2009, com a crise econômica global, o impulso do crédito tornou-se bastante negativo, com restrição de liquidez no mercado bancário brasileiro. Medidas creditícias anticíclicas reverteram este quadro e, entre 2009 e 2010, o impulso do crédito voltou ao terreno positivo. Entre 2011 e 2013, o impulso do crédito foi mais próximo da neutralidade, mas com valores ligeiramente negativos e com tendência declinante, seguindo o padrão dos recursos livres, enquanto os recursos direcionados tiveram contribuição levemente positiva.
Em 2014, com a desaceleração da economia, e entre 2015 e 2016, período de recessão, o impulso do crédito entrou em terreno contracionista, voltando ao positivo entre 2017 e 2019, com o bom desempenho dos recursos livres, apesar de perda de dinamismo em 2019. Em 2020, o impulso do crédito atingiu o maior valor da série devido às políticas adotadas para garantir liquidez às empresas durante a crise decorrente da pandemia de Covid-19, com grande contribuição do segmento direcionado. Entre o fim de 2021 e junho de 2023, o impulso do crédito mostra tendência declinante, entrando em terreno negativo e com comportamentos díspares entre recursos livres e direcionados.
Embora conclua que o impulso do crédito geralmente apresenta correlação positiva com o crescimento da atividade econômica, o estudo aponta a exceção ocorrida durante o período de parada súbita e reabertura da economia causada pela pandemia de Covid-19, quando a correlação se tornou claramente negativa. Com o fim da transição para o período de normalidade econômica, a associação positiva deve voltar a vigorar.
Fonte: BNDES