Por Fulvio Bahia
“As pessoas são tão pobres que às vezes não conseguem nem enxergar que a sua pobreza está diretamente relacionada ao fato do racismo estruturar as relações de poder, estruturar as relações sociais”.
Visto no meio político como um nome de grande representatividade pelas ruas da cidade, o Vereador Sílvio Humberto (PSB) vem tendo seu nome ventilado para uma possível candidatura à Prefeitura Municipal de Salvador nas eleições de 2024.
Para Sílvio, a cidade necessita de uma maior expressão e chegou a hora de Salvador ter um governante do povo e que fale para o povo.
“É chegada a hora. Se imaginarmos que em 1798 ocorreu a Revolta dos Búzios, luta que naquela época era por liberdade, igualdade e fraternidade, onde nós fomos eliminados fisicamente, mas o espírito permaneceu, né? E agora pra 2024 nós temos a chance de fazer valer essas adjetivações que são dadas a cidade de Salvador, a capital da negritude, a Roma Negra, a Meca Negra. “
Segundo o Edil, o momento desta mudança chegou e é preciso da força do povo para que isso aconteça. “É chegado o momento que é mais do que uma mudança de cor. Eu tenho insistido com isso, mas é uma concepção onde entende que as políticas públicas, que o pensar a cidade precisa ser pautado na dignidade do seu povo. Não dá pra ter essas adjetivações que ficam tão somente na retórica que só servem pra reforçar um lugar de desigualdade, um lugar de vulnerabilidade social como se fosse algo natural que as pessoas estejam nesse lugar”.
“Então, isso é mais do que um simbolismo, a chegada da minha candidatura. Tô nesse caso aqui da pré-candidatura com essa cara da cidade, é muito mais do que cor. É uma reparação histórica, é uma reparação que vai além dessas adjetivações, dessa ideia que termina culminando em afro conveniência e tem um significado, né? Pra além do simbólico, que é também assim a dimensão cidadã disso, a dimensão econômica, porque você movimenta a cena econômica quando você reposiciona a cidade de Salvador nesse Atlântico, na diáspora. Porque o que se testa na cidade de Salvador serve para o mundo, sobretudo o mundo da diáspora. Imagine você transformar Salvador na capital da igualdade pra valer. Você vai atrair gente e gente atrai as coisas. Gente muda as coisas. O nosso principal investimento será na dignidade da nossa população. Chega de nos oferecer pouco e achar que está nos dando muito”.
Ainda segundo Silvio, mudar a herança escravista que perpetua nos dias de hoje não é uma tarefa fácil, mas com trabalho a cidade conseguirá mudar esse cenário. “Quebrar o patrimonialismo que é reforçado pelo racismo, pela herança escravista não é algo que você muda de uma hora pra outra. Eu aprendi que revolução não é um evento, revolução é um processo. Então nós vamos conversar com as pessoas, ampliar um diálogo porque nós sabemos que uma das armadilhas do racismo, uma das estratégias que o racismo fez sobretudo em Salvador foi se transmutar na pobreza”.
“As pessoas são tão pobres que às vezes não conseguem nem enxergar que a sua pobreza está diretamente relacionada ao fato do racismo estruturar as relações de poder, estruturar as relações sociais, o fato do racismo estar presente no seu cotidiano. Nós vamos precisar, diria assim, de todo mundo que entende estrategicamente o que é que significa para o futuro de uma cidade como Salvador e sua e seus desdobramentos não só para a Bahia, mas para o Brasil né? O valor estratégico da diversidade para combater as mazelas sociais e tirar o Brasil por exemplo dessa final da Copa do Mundo das desigualdades. É assim que vai ser, com muita fé”.
Para finalizar, o vereador deixou um questionamento aos leitores: “Se pensarmos que há 200 anos isso foi tentado com a Revolta dos Búzios, imagine se a Revolta dos Búzios tivesse alcançado seus objetivos, certamente esse país teria uma outra cara? “
Foto: Priscila Chagas
