Às 7h42 de 2 de junho de 2024, a enfermeira Carina Aguiar Pitanga Suares, de 27 anos, ouviu pela primeira vez o choro da pequena Clarice. Um sentimento de alívio e felicidade tomou conta daquele momento único, após mais de 24h de um trabalho de parto intenso, que teve início ainda em casa, com o rompimento da bolsa. Ainda sem contrações efetivas, Carina deu entrada na Maternidade Maria da Conceição de Jesus (MMCJ), no bairro de Coutos, Subúrbio Ferroviário de Salvador, onde foi acompanhada por uma equipe médica acolhedora e interdisciplinar.
“Como eu tive risco de infecção, fui imediatamente atendida. Precisei fazer indução do parto, tomar antibióticos e ficar em observação. Poderia ter ficado apreensiva, mas os profissionais foram tão atenciosos e cuidadosos que eu me senti absolutamente segura. Em cada troca de plantão, fui muito acolhida. Foi um momento lindo, maravilhoso. A minha pequena nasceu super saudável, com 3,495 kg e 49 cm”, contou emocionada.
O papai Paulo Suares, 28, técnico em automação industrial, acompanhou de pertinho o nascimento da filha e não desgrudou da bebê. Para ele, o momento se resumiu em gratidão a toda a equipe.
“Inimaginável. Não tenho palavras para explicar o que senti. Ao olhar para a minha mulher, vi o quanto ela é forte. Trabalhamos juntos durante toda a madrugada até a hora de conhecer a nossa princesinha. A experiência com o hospital foi incrível, desde a admissão até este momento no quarto. Agradeço a todos por esse atendimento maravilhoso”, comemorou.
Inaugurada em maio de 2021, pelo Governo da Bahia, para atender às mulheres do 11º Distrito Sanitário, no Subúrbio Ferroviário e áreas circunvizinhas, a Maternidade Maria da Conceição de Jesus, completou três anos. O nome é uma homenagem à enfermeira obstétrica que se dedicou por 30 anos à assistência ao parto na rede estadual de saúde e, em julho de 2020, faleceu, vítima da Covid-19.
Conhecida por um atendimento humanizado e estar localizada de frente para o mar, a unidade de saúde tem 107 leitos e já realizou, até o momento, mais de 11 mil partos naturais e cesáreas, incluindo os de alto risco. Desde a inauguração, não registrou nenhuma morte materna. No local, também já foram realizadas 958 inserções de dispositivos intrauterinos (DIU), 265 laqueaduras, 805 curetagens, 342 mamoplastias, 786 cirurgias pediátricas, 48.058 atendimentos ambulatoriais e aplicação de 18.360 vacinas.
“A maternidade é relativamente nova e vem cumprindo uma assistência muito integral à população do Subúrbio e parte de Itapagipe. Atingimos uma média mensal de 15 mil atendimentos gerais, sendo 330 partos e 660 internamentos. O espírito da unidade é de acolhimento com humanização, dentro daquilo que propõe a Rede Cegonha do SUS [Sistema Único de Saúde], tratar o outro como gostaríamos de ser tratados. Aqui, prezamos por partos normais e temos o menor índice de cesariana do estado. Também realizamos cirurgias em bebês e temos UTI [unidade de terapia intensiva] pediátrica”, descreveu o diretor e médico obstetra da maternidade, Amado Nizarala.
Na MMCJ, são oferecidos serviços de urgência e emergência. É referência para as situações de maior complexidade obstétrica; internação obstétrica destinada ao atendimento do parto de risco habitual, tratamento das intercorrências clínicas da gestação e do puerpério; serviço de referência à gestação de alto risco, constituído por ambulatório especializado em pré-natal de alto risco, consultas especializadas em obstetrícia, cardiologia, enfermagem, nutrição e psicologia; e serviço de apoio diagnóstico e terapêutica, organizado para ofertar ações em regime ambulatorial e de internação hospitalar, em patologia clínica, anatomia patológica, eletrocardiografia, radiologia convencional, ultrassonografia obstétrica com doppler, ecocardiograma adulto e neonatal e tococardiografia.
A nova maternidade conta, ainda, com banco de leite humano e um centro de parto normal peri-hospitalar, unidade destinada a garantir a condução da assistência ao parto de baixo risco, puerpério fisiológico e cuidados com recém-nascido sadio, da admissão à alta, por obstetriz ou enfermeiro obstétrico. Sala de exames, área de deambulação, posto de enfermagem e sala de serviços também compõe o espaço.
Atendimento humanizado
Entre os serviços humanizados oferecidos pela maternidade está o pré-natal de alto risco agendado eletronicamente sem que a mulher precise marcar, com acompanhamento médico e multiprofissional, incluindo consultas, exames e ultrassons, além de orientações em salas de espera.
Na MMCJ, as equipes também se movem com iniciativas como: mesversários de bebês, aniversários de pacientes, banho de sol para mães e bebês, exercícios de fisioterapia no terraço, música ao vivo, arteterapia e visita das mulheres internadas ao mar.
Diagnosticada com pré-diabetes, a gestante Fernanda Cruz Ribeiro, 32, é uma paciente considerada de alto-risco pela maternidade. No oitavo mês de gestação, ela está sendo acompanhada há dois meses por especialistas da unidade.
“Fui até o posto de saúde de Periperi e me enviaram para esta maternidade por conta da minha gravidez de risco. Estou gostando muito do atendimento e quero ter o meu Levi aqui. Hoje, vou saber se vou conseguir parir normal. Espero que dê tudo certo”, vibrou.
A unidade também é referência em mamoplastia redutora, cirurgia plástica em mulheres com mamas gigantes. São 22 procedimentos por mês e já há projeto de ampliação.
Na maternidade, padroniza-se o parto normal humanizado, com o protagonismo da mulher e presença de familiar escolhido por ela. Esta é a primeira unidade na rede a realizar um curso para doulas (assistentes de parto), com edital que privilegia o critério raça-cor e a comunidade local como critério de seleção para vagas. Chancelada pela Escola Estadual de Saúde Pública, a iniciativa, que começou em 2023, vive, agora, o momento prático da segunda turma.
O puerpério acolhedor é também um destaque, com apoio à amamentação e orientação sobre os cuidados com o bebê. Para a mamãe Deisiane Santos, 23 anos, as orientações são essenciais para garantir o melhor cuidado a Antony Gabriel, nascido na maternidade às 5h25 do dia 31 de maio, data em que a MMCJ fez aniversário.
“Esse parto foi muito rápido. Entrei na sala às 2h45 da manhã e, três horas depois, o meu bebê nasceu. O atendimento foi perfeito. O meu pós-parto está muito tranquilo. Já tive aula de amamentação e as enfermeiras me ajudaram muito com massagens nos seios para aliviar a dor. Aqui, elas ensinam tudo, do banho à troca de fraldas”, pontuou.
A maternidade também atende a mulheres em casos de aborto legal ou espontâneo. “Ofertamos para vítimas de agressão sexual tratamento e acompanhamento da sua problemática, incluindo o aborto legal, se ele for necessário. Fazemos todo o acompanhamento com total sigilo e humanização, no sentido de tratar essas mulheres com o cuidado que cada caso requer”, esclareceu Amado Nizarala.
As mães que precisam acompanhar os filhos em tratamento mais longo também têm hospedagem na maternidade, mantendo, assim, o vínculo afetivo e aumentando o contato físico e emocional, além da maior disponibilidade para o aleitamento materno. Há, ainda, suporte com a parceria das secretarias estaduais da Justiça e Direitos Humanos (SJDH) e da Saúde (Sesab) para o registro civil de crianças.
“O Governo do Estado, nos últimos anos, investiu quase R$ 260 milhões somente na assistência materno-infantil em toda Bahia. E, dentro desse investimento, se destaca a Maternidade Maria da Conceição de Jesus, que inauguramos numa localização bastante estratégica e que veio suprir um vazio assistencial nessa área de muitos anos. Hoje, nós comemoramos a Maternidade Maria da Conceição com um dos melhores indicadores de boas práticas da humanização do parto em relação ao país. Nós somos destaque nacional na maioria dos indicadores de qualidade, dentre eles o número de partos”, avaliou o diretor-geral de Gestão das Unidades Próprias da Sesab, Michael Carmo.
Homenagem à Maria da Conceição de Jesus
Maria da Conceição Santos de Jesus formou-se em ciências biológicas no ano de 1972 e enfermagem, pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), em 1984, profissão com a qual se encantou. Ao concluir a segunda graduação, realizou o sonho de se tornar servidora pública do Governo do Estado na Sesab.
Ao todo, a enfermeira dedicou três décadas ao serviço público, ocupando, por último, o cargo de diretora na Maternidade Albert Sabin, localizada em Cajazeiras. Era defensora do SUS e deixou um legado de comprometimento e empenho no cuidado com as vidas baianas, principalmente na atenção à saúde da mulher e do recém-nascido.
Fonte: SECOM GOVBA
Foto: Fernando Vivas