Cientistas desenvolveram o composto VIP36, que interage com receptores CB1 e alivia a dor sem causar efeitos psicoativos ou dependência
Um novo estudo pode representar um avanço no tratamento da dor. Pesquisadores dos EUA desenvolveram um composto que interage com os receptores CB1 do sistema endocanabinoide com potencial para superar a eficácia e a segurança dos medicamentos convencionais.
Pesquisadores dos EUA desenvolveram uma forma de ativar os receptores CB1 — que ajudam no controle da dor — sem que essa molécula chegue ao cérebro. Isso permitiria aliviar a dor sem causar dependência ou efeitos psicoativos.
THC, CB1 e o controle da dor
O ∆9-tetrahidrocanabinol (THC), um dos compostos mais abundantes na planta Cannabis, é conhecido principalmente pelos seus efeitos psicoativos, como euforia e mudanças na percepção. Além disso, ele também proporciona benefícios terapêuticos para diversas condições de saúde atuando sozinho ou em combinação com o canabidiol (CBD).
As principais condições tratadas com THC são:
- Dor crônica;
- Náuseas e vômitos (induzidos pela quimioterapia);
- Espasmos musculares (em doenças como a esclerose múltipla);
- Problemas do sono.

Esses efeitos ocorrem porque o THC interage com os receptores do sistema endocanabinoide, principalmente o CB1. Esses receptores estão presentes em diversas partes do corpo, como pulmões, rins e intestinos, além do cérebro, onde o canabinoide causa os efeitos psicoativos.
Envolvido na regulação de diversos processos fisiológicos, como apetite, humor, memória e percepção da dor, o receptor CB1 é o principal alvo da molécula desenvolvida pelos pesquisadores norte-americanos.
VIP36: uma molécula especial
A equipe de cientistas desenvolveu a molécula VIP36, que age especificamente nos receptores CB1. A diferença crucial é que essa molécula não chega ao cérebro, agindo apenas em regiões periféricas, reduzindo drasticamente a possibilidade de efeitos colaterais.
Os pesquisadores, vinculados às universidades Stanford e do estado de Washington, projetaram a molécula com uma carga positiva, impedindo que ela cruzasse a barreira hematoencefálica — estrutura que impede a entrada de substâncias nocivas para o tecido cerebral.
Além disso, a VIP36 foi desenvolvida para evitar a ativação excessiva de uma proteína chamada arrestina, associada à dependência e diminuição dos efeitos com o uso prolongado.
Eles testaram esse composto em animais para avaliar seu poder analgésico e os possíveis efeitos colaterais.
Os efeitos terapêuticos do VIP36 na dor
No estudo, os pesquisadores administraram o VIP36 em animais duas vezes ao dia, por nove dias. O composto proporcionou alívio prolongado da dor em três modelos diferentes de dor: inflamatória, neuropática e enxaqueca. A dose necessária para o alívio da dor não desencadeou efeitos psicoativos e, além disso, os animais não desenvolveram tolerância ao analgésico.
Os resultados abrem caminho para a criação de novos medicamentos contra a dor, assim como pode transformar o desenvolvimento de produtos que atuam nos receptores do sistema endocanabinoide e em outros receptores do corpo.
Enquanto novos testes são necessários para confirmar a segurança em humanos, o estudo traz esperança para milhões de pessoas que vivem com dores crônicas e precisam de alternativas aos analgésicos convencionais.

Benefícios de tratar a dor com Cannabis
Estudos anteriores já destacavam que o tratamento de dores com Cannabis pode ser transformador em alguns casos. Os medicamentos à base de canabinoides podem ser mais eficazes do que muitos analgésicos convencionais, inclusive os opioides. Nos EUA, a crise de overdoses por opioides, como a morfina e o fentanil, instigou pesquisadores a buscarem alternativas a esses analgésicos.
É comum que, além do alívio da dor, os medicamentos com Cannabis proporcionem melhoras mais amplas na qualidade de vida dos pacientes, como:
- Melhoras na qualidade do sono;
- Alívio da ansiedade e do estresse;
- Melhoras no humor.
Com a orientação de um profissional de saúde, é possível utilizar medicamentos ricos em THC sem que os efeitos psicoativos prejudiquem as atividades diárias. É fundamental também que o médico avalie interações com outros medicamentos e a concentração adequada.
Fonte: Cannabis & Saúde
Molecules Stock photos by Vecteezy