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O que eu não consigo dizer | Pela Terapeuta Angélica Bessa

A estrada que percorro como psicanalista é uma jornada repleta de aprendizados e descobertas profundas, mas, nos últimos tempos, tenho encontrado adversidades que me pegaram de surpresa. Enquanto me dedico a auxiliar meus pacientes a navegarem por suas próprias angústias e ansiedades, me deparo com uma peculiaridade inesperada: enfrentar minhas próprias crises de ansiedade, em relação à forma como as pessoas frequentemente presumem que, como psicanalista, estou imune à essas mesmas dores.

A sociedade muitas vezes projeta uma imagem de psicanalistas como indivíduos inabaláveis, como alguém que possui um conhecimento profundo e uma compreensão superior das emoções humanas. No entanto, essa projeção não leva em consideração a realidade da experiência humana compartilhada: que todos enfrentamos lutas emocionais e desafios internos. A ideia de que os psicanalistas estão isentos dessas dificuldades não apenas é imprecisa, mas também pode criar um conflito interno quando confrontamos nossas próprias ansiedades.

Lidar com crises de ansiedade enquanto atuo como psicanalista tem sido uma tarefa tentadora. Afinal, meu trabalho exige um profundo entendimento das emoções, pensamentos e comportamentos humanos de maneira que possam entender e gerenciar suas próprias emoções. No entanto, a teoria e a prática que aplico com tanta dedicação aos meus pacientes às vezes me parecem escapar quando se trata de entender e gerenciar minhas próprias crises de ansiedade. Essa desconexão é desconcertante e amplifica a sensação de estar desconectada do próprio conhecimento que transmito.

É importante legitimar que minha experiência com crises de ansiedade não invalida minha habilidade como psicanalista. Pelo contrário, essa vivência me torna mais empática e mais capaz de compreender as lutas emocionais dos meus pacientes. Enfrentar minhas próprias crises de ansiedade não me torna menos competente, mas sim mais humana e mais conectada à experiência proporcional de enfrentar adversidades emocionais.

Ao enfrentar minhas próprias crises de ansiedade como psicanalista, estou em uma jornada de autodescoberta e crescimento emocional. Estou desafiando a narrativa de que os psicanalistas são imunes à suas próprias dores, lembrando a todos nós que, independente de nossa profissão, todos enfrentamos batalhas internas que merecem compreensão e apoio.

Minha vulnerabilidade é um testemunho de que somos todos seres humanos em constante evolução, buscando encontrar significado e equilíbrio, em meio aos desafios da vida.

Angélica Bessa | @angelicaabessa

Foto: Canva

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