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Para pesquisador, dinheiro das big techs compromete independência de veículos e entidades jornalísticas

Baseada em dados do acadêmico Charis Papaevangelou, pós-doutor na Universidade de Amsterdã, onde pesquisa legislação, plataformas e jornalismo, uma reportagem de Tatiana Dias publicada semana passada no Intercepct revelou que, atrás apenas dos EUA, o Brasil é o segundo país do mundo que mais recebeu recursos do Google e do Facebook destinados a financiamento de projetos jornalísticos.

De acordo com o trabalho, pelo menos 424 veículos e organizações jornalísticas, de todas as regiões do Brasil, já receberam algum tipo de financiamento das duas gigantes de internet. A pesquisa também mostrou que, entre 2017 e 2022, Google e Facebook apoiaram financeiramente mais de 6,7 mil veículos de notícias e entidades representativas de jornalistas no cenário internacional. O total investido nesses programas chegaria a 900 milhões de dólares. 

Crédito: Reprodução The Intercept Brasil

Charis Papaevangelou: Brasil é o segundo país do mundo que mais recebeu dinheiro de big techs para projetos jornalísticos

Para o pesquisador, tamanhos incentivos estão relacionados às discussões sobre a regulação das plataformas. Ou seja, haveria uma correlação entre os programas de financiamento das plataformas e a possibilidade de serem aprovadas legislações que irão afetá-las. A pesquisa de Charis usa justamente o exemplo do Brasil para ilustrar essa relação de interesses, lembrando que por aqui, após muito lobby, as big tech conseguiram barrar o PL 2630, conhecido como PL das Fake News. 

Privacidade e liberdade de expressão

Destinado a aumentar a responsabilidade das plataformas sobre determinados conteúdos, o projeto foi criticado por entidades jornalísticas, que alegaram que ele ameaçava a privacidade e a liberdade de expressão. Mesmo após mudanças no texto final, a votação do projeto foi derrubada no ano passado. 

Outros países que o pesquisador usa como exemplo da correlação entre financiamento das big techs a projetos jornalísticos e lobby antirregulação das plataformas são Austrália, Canadá e França.

A França teria sido o estopim do problema para as gigantes de internet, quando, em 2013, o governo local iniciou as discussões para uma lei que obrigasse o Google a compensar financeiramente veículos jornalísticos pela indexação de seus conteúdos nos serviços de busca online da empresa. 

A resposta do Google teria sido criar um fundo milionário para pagar os veículos, iniciativa que acabou replicada em outros países, inclusive pelo Facebook. 

Para o pesquisador da Universidade de Amsterdã, as crises financeiras dos órgãos de imprensa deram o sinal verde para que as plataformas de internet agissem sem a devida transparência e responsabilização, num processo que acabou “moldando o jornalismo” e comprometendo a independência de muitos veículos e entidades representativas. 

Ainda segundo o pesquisador, para receber dinheito das big techs os projetos jornalísticos precisam “mostrar inovação”. Tal critério, ao incentivar determinados modelos de negócio, beneficiaria o próprio Google e sua oferta de serviços. 

Charis também aponta uma suposta falta de transparência nas políticas das big techs de incentivo ao jornalismo. Segundo ele, grande parte do dinheiro não vai para os veículos propriamente, mas sim para associações. Para o pesquisador, a tática é “capturar e plataformizar a indústria do jornalismo o máximo de níveis possível”. 

Charis cita em sua pesquisa a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), lembrando que ela oferece cursos e treinamentos em parceria com Google e Facebook. 

Fonte: Portal Imprensa
Foto: Divulgação

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