Parlamentares do PT em Salvador avaliam que o percentual alcançado pelo candidato do PSOL, Kleber Rosa, no primeiro levantamento eleitoral do ano, divulgado pela Atlas Intel, é uma amostra de que fração da esquerda já começou a se movimentar para base do candidato ao governo da Bahia, em 2022, após o anúncio da candidatura do vice-governador Geraldo Júnior (MDB) como nome de Jerônimo para disputa ao comando do executivo de Salvador.
“O percentual de Kleber Rosa chamou a nossa atenção. Ele aparece empatado com Geraldo, antes o candidato do PSOL não saia dos 5%… e sem uma candidatura de esquerda, estamos pensando em algumas estratégias para manter pelo menos os 20 mil votos de 2020… 18% do total foi voto de legenda e uma das estratégias debatidas na federação é usar parte do tempo eleitoral para convidar o eleitor para o voto legenda. Isso pode nos dar um equilíbrio agora que estamos federados e sem candidatura”, avalia o petista.
“O PV não sabemos como vai estar. Hoje o PV está mais com Bruno que conosco. A pesquisa mostrou que uma base do eleitorado deve ir para o PSOl. Quando o PSOL teve 10% em Salvador? A gente cantava essa tese antes eleição. Quem vota na esquerda não vai sentir representado com Geraldo e Kleber Rosa é um bom candidato. Ele teve uma boa desenvoltura em 2022, diferente do que Hilton Coelho vinha apresentando. É possível que com ele a bancada do PSOL aumente na Casa”, aponta o político que preferiu não se identificar.
O petista não crê que a indicação da vice de Geraldo Júnior dará força para o partido manter ou ampliar sua bancada e aponta que o caminho será um aporte do governador Jerônimo Rodrigues, via máquina do estado, para ‘salvar’ ou vereadores e fazer a bancada crescer.
“Não acho que a vice muda o quadro, a vice do PT não bota militância na rua. O que pode colocar é o programa do candidato. Se não for construído com um apelo para militância dificilmente entrará no coração. Deixamos bem claro que nosso objetivo sempre foi atuar para manutenção e ampliação da bancada da federação na CMS. Sem uma candidatura, esse movimento está prejudicado. Para sanar o problema da falta do 13 na urna, que nos daria condições de ter entre 8 e 9 vereadores, a federação pode cair para cinco ou seis, dificilmente faremos 7 sem um suporte do governador”, avalia o político.
“Os vereadores vão precisar mais do que nunca de condições para fazer obras, e isso passa pela Conder. Se a Conder estiver travando, a gente se quebra. Tem vereadores que tem boa relação com Bruno, caso de de Suíca, e a situação que se criou é de cada um procurar resolver a vida onde der. Precisamos que o governador sente conosco para estabelecer uma agenda de entrega junto à Conder, para que possamos fazer frente aos benefícios que os vereadores aliados de Bruno Reis terão neste ano”, destacou o parlamentar.
O petista acredita que o desafio de Geraldo passa se viabilizar junto à esquerda será grande, apesar dos seus acenos através de elogios a Lula, ao PT e ao MST: “o pessoal vê Geraldinho como o genérico de Bruno, e se é genérico, eles vão logo no original. Para mim foi um equívoco uma única candidatura, era melhor ter duas candidaturas. Fui uma decisão da cúpula, e ela às vezes toma atitude e esquece de quem está no dia a dia nos bairros. Se cá embaixo não tiver amarrado, fica lá em cima sem a base e a candidatura tende a cair”.
Projeto
Ao OFF News, outra fonte do PT que não quis se identificar avaliou que faltou um debate sobre a cidade e a construção de um projeto que deveria ter ocorrido antes da escolha do nome.
“Qual o projeto político em Salvador que de algum modo encarna essa agenda que vai tratar de uma espécie de como materializar o projeto nacional de Lula, que atua em defesa da educação publica, da mobilidade, do direito das mulheres, de uma agenda igualdade, uma agenda que possa lidar com a crise climática, reivindicar uma agenda de desmatamento zero em Salvador? Primeiro era para ter deixado claro qual o projeto político. A Oposição hoje trabalha para um projeto que seja da maioria, que seja de todos. Tem muita importância essa agenda do direito de todos à cidade”, destacou a fonte.
“A oposição hoje sequer tem número e tamanho para fazer uma obstrução. Como não temos número, não somos capaz de reagir em número diante dessa agenda de tocar a boiada em curso na cidade por Bruno, e isso nos preocupa imensamente e é um dilema para federação e para Oposição como um todo, há uma necessidade de crescimento da bancada para fazer frente”, apontou o nome partidário.
A fonte do PT avalia que Geraldo Júnior precisa apresentar uma agenda diferente da que Bruno Reis está implantando caso espere ter o apoio da esquerda.
“As candidaturas hoje estão muito próxima, mesmo sendo de grupos distintos, eles se diferem em muito pouco, estão muito mais próximos do que a gente possa supor em termo de agenda. O governador colocou o nome, que veio de um consenso na base, mas não existe uma estratégia sobre candidaturas proporcionais. Não há debate neste termos. Acho que a cidade deve se preocupar em qual agenda política vai fazer a distinção. Falo isso não porque Geraldo tava na base de ACM Neto outro dia, é porque os interesses, quem dá as cartas estão nos dois projetos: a especulação imobiliária, os grupos do controle da gestão dos resíduos, os grupos que controlam o transporte público, e isso precisa estar na pauta de debate”, avaliou o integrante do PT.
A fonte do PT acredita que Geraldo Júnior terá dificuldade em convencer a esquerda, mas não vê a tarefa como impossível, apontando a necessidade de abraçar um projeto à esquerda, de transformação do modelo implantado em Salvador pelo carlismo.
“Eu não acho que não tá no DNA de Geraldo e muito menos MDB esse viés de esquerda, nem Geraldo~, personalidade, faz esse tipo debate, ele está muito longe. Obviamente que algumas agendas vão crescer no período eleitoral e o candidato terá que se posicionar. No debate ele precisará enfrentar, precisará se distinguir do projeto de Bruno, não que ele seja a figura que encarne o perfil da esquerda por sua tradição, seu histórico de alianças, mas não é impossível ele mostrar ao grupo uma agenda em defesa da cidade para todos”, avaliou o petista.
“Na eleição vence o melhor na disputa, a democracia é isso, mas não vejo nem de Geraldo e nem do seu grupo, partido, esse tipo de debate, de posição, de projeto. Se ele desejar fazer o enfrentamento, se apresentar espaço no espaço, é óbvio que ele vai ser demandando a defender pautas que não estão na ordem do dia do prefeito. Ele vai precisar apresentar alternativas com relação às questões históricas de Salvador, com relação ao transporte público por exemplo, que é o mais caro, de pior qualidade, inadequado, e excludente. Ele vem defendendo um subsídio que é importante, mas o que defendemos se trata da mudança concepção no transporte, a tarifa zero é uma tendência”, apontou o integrante partidário.
Ele admite que Kleber Rosa, candidato do PSOL, leva de cara fração da esquerda, na esteira do fato do PT não ter apresentado um nome para encabeçar o debate em Salvador.
“Com certeza a candidatura de Kleber, do PSOL, que desempenhou por anos e conseguiu crescer isso no pós-jornada de junho de 2013, em um momento difícil para o país, conseguir encarnar o mal estar colocado sobre um projeto de desenvolvimento do país. Faz tempo que o PSOL, como partido, diferente do PT por força da relações, tem conseguido colocar seu DNA na rua, PSOL tem conseguido fazer uma demonstração de força. É natural que quando PT decida abrir mão desta posição, o PSOL apareça como a encarnação desse projeto, do imaginário, da agenda de esquerda, é natural que parte dos movimentos sociais, dos setores mais ideológico migrem de algum modo dentro do campo, do PT para o PSOL, é um risco se corre ao escolher um nome de centro. Acredito que é muito importante para Salvador ter essa candidatura de Kleber”, avaliou a petista.
O integrante do PT aponta que a bancada terá o desafio de promover um debate de projeto e ideias para “uma outra Salvador”, para enfrentar o que classifica como uma política construída com “base no melhorismo”, que “não resolve de fato os problemas da população”.
“Sobre essa questão da redução ou não da bancada e do aporte de obras e ações do governo para manter os vereadores, é o seguinte, eu venho de uma perspectiva de defender um projeto e o eleitor precisa lhe reconhecer pelo projeto. É óbvio que sabemos que a relação mais imediata de resolução do problema, da escadaria, do corrimão, o que chamo de ‘melhorismo’ é importante, se trata da zeladoria da cidade… a questão da iluminação, dos passeios, escadas, óbvio que isso é obrigação dos poder público, seja ao nível municipal ou estadual. Agora o poder público precisa criar condições para melhorar a vida das pessoas, independente de qualquer cenário. Precisamos defender melhoria nas condições de vida em qualquer situação”, avaliou o integrante do partido.
“É preciso cria uma política capaz de distinguir os projetos. Não podemos ser identificados por fazemos o mínimo, comum a todas experiências. Acho que tem que nos definir pelo projeto: estamos investindo em escola pública ou na educação privada? Fazendo cidade para um transporte público eficiente ou só para quem possa andar de carro? Estamos construindo uma cidade para as pessoas ou para o donos do capital? Me recusar imaginar que a iluminação pública, por exemplo, que é uma obrigatoriedade, vá nos distinguir, eu me recuso a tratar o básico, o mínimo, como o diferencial; precisamos nos distinguir enquanto projeto, é isso que precisa nos distinguir, que estamos no projeto que defende os trabalhadores, os servidores públicos e os excluídos”, concluiu o petista.
Fonte: Raul Aguilar / OffNews
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