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Participação de mercado de tokens DeFi cai 58% e atinge mínima histórica, apesar de inovações e eficiência do setor

As inovações e a eficiência dos protocolos DeFi não se refletem no preço dos ativos em um mercado onde narrativas e liquidez estão em constante rotação, afirmam especialistas

Os protocolos de finanças descentralizadas (DeFi) atravessaram o período de turbulência que afetou o mercado de criptomoedas sem problemas ou interrupções, ao contrário de plataformas centralizadas, reafirmando a capacidade do setor de resistir a condições extremas sem interferência externa.

O protocolo de empréstimos Aave (AAVE) executou US$ 300 milhões em liquidações; os tokens de restaking líquido (LRTs) perderam brevemente a paridade com o Ether – ETH R$ 14.242,21 mas retomaram a cotação normal após algumas horas; e o USDe, stablecoin da Ethena que enfrenta desconfiança do mercado, oscilou apenas 0,5%, apesar de ter registrado aproximadamente US$ 100 milhões em resgates em decorrência da correção.

No entanto, a participação de mercado dos tokens do setor de DeFi sofreu um abalo maior, atingindo mínimas históricas em 9 de agosto, após uma queda de 3,82% para 2,84% em apenas uma semana, de acordo com dados do The Block.

Trata-se do menor nível de participação dos tokens DeFi sobre a capitalização total do mercado de criptomoedas desde janeiro de 2021. O crescimento impulsionado pelo “DeFi Summer“, que teve início em julho de 2020, elevou a participação de mercado do setor a uma máxima histórica de 6,87% em janeiro de 2022.

Desde então, o declínio tem sido constante, com uma forte queda observada por decorrência do colapso da stablecoin algorítmica Terra USD (UST) do protocolo Terra (LUNA). Somente em 2024, a participação de mercado dos tokens DeFi caiu 29%. A queda chega a 58% em relação ao topo registrado há pouco mais de dois anos.

Razões para queda dos tokens DeFi

Em depoimento ao Cointelegraph Brasil, Felipe Medeiros, analista e fundador do Boteco Cripto, associou o recuo dos tokens do setor à queda mais ampla do mercado de altcoins:

“As altcoins estão entre 50% e 80% abaixo das máximas registradas em março deste ano, mas mesmo antes disso as altcoins vinham mostrando grande dificuldade para acompanhar o desempenho do Bitcoin.”

À queda na participação de mercado dos tokens DeFi corresponde o aumento da dominância do Bitcoin – BTC R$ 324.250,43. Atualmente, a criptomoeda líder responde por mais de 57% da capitalização total do mercado de criptomoedas. Esse patamar não era alcançado desde março de 2021, durante a fase ascendente do ciclo de alta anterior, iniciado em 2020, de acordo com dados da TradingView.

Medeiros afirma também que parte da liquidez do mercado de criptomoedas foi sugada pelas ações de Nvidia. Em alta de 188% no acumulado do ano, as ações da gigante do setor de tecnologia são o ativo de melhor desempenho em 2024.

Outra explicação para o declínio da participação de mercado de DeFi é a natureza volátil e especulativa das narrativas que movimentam o mercado de criptomoedas. Destaques no ciclo de alta de 2020-2021, os tokens DeFi baseados no ecossistema da Ethereum não dispõem do fator novidade para atrair capital e atenção, destaca João Ferreira, cofundador da plataforma de negociação de criptomoedas e carteira autocustodial PicNic:

“A atenção e as principais narrativas não estão centradas em protocolos DeFi da Ethereum nesse ciclo. Migraram para Solana, memecoins, infraestrutura, ou se diluíram em diversas soluções de camada 2, atraindo usuários menos sofisticados.”

O foco dos investidores está muito voltado para setores que, em tese, têm potencial para lucros maiores e mais imediatos, acrescenta Medeiros:

“DeFi não conseguiu criar uma narrativa nova para capturar parte da liquidez disponível no mercado, ao contrário dos setores de RWA (ativos do mundo real) e inteligência artificial (IA), que são tendências novas.”

Além de serem parte de uma narrativa antiga, os tokens DeFi requerem um entendimento mais profundo sobre suas propostas de valor e se enquadram em uma estratégia de investimento de longo prazo.

“Por um lado, existe muito mais gente trabalhando em DeFi do que há alguns anos, mas acho que os desenvolvedores estão se dedicando ao acabamento e ao aperfeiçoamento dos produtos e da experiência do usuário do que em criar coisas completamente novas”, afirma Ferreira. “Isso é super importante e eventualmente vai gerar dividendos, mas não é algo que atrai atenção e capital novos.”

Com produtos funcionais e eficientes, os desenvolvedores dedicados a finanças descentralizadas estão concentrados no aprimoramento dos produtos e da experiência de usuário. Isso, por si só, não é suficiente para atrair capital em um cenário macroeconômico de liquidez restrita, completa Medeiros:

“DeFi, por ser um produto antigo, que dificilmente vai trazer algo muito disruptivo daqui para frente, visto que a base da tecnologia já foi construída, acaba ficando preterido no atual cenário de liquidez escassa que fica girando no mercado de altcoins.”

Declínio da Ethereum

Ferreira identifica ainda um sentimento predominantemente negativo do mercado em relação ao ecossistema de DeFi da Ethereum. “A comunidade está achando que, no longo prazo, esse setor não vai ter tanto crescimento”, afirmou.

O declínio da capitalização de mercado e do preço dos ativos do setor, no entanto, não se limita aos tokens DeFi. O próprio Ether está apresentando um declínio em sua participação de mercado enquanto registra um desempenho inferior ao do Bitcoin e ao de concorrentes diretos como a Solana – SOL R$ 764,00.

Isso tem se refletido igualmente no desempenho dos tokens de ambos os ecossistemas, afirma o fundador do PicNic:

“Se a gente olhar para DeFi na Solana, a tendência é a oposta. Os protocolos da Solana estão relativamente super valorizados na comparação com suas contrapartes na Ethereum. Seja por receita, valor total bloqueado (TVL) ou capitalização de mercado totalmente diluída (FDV)”, afirmou Ferreira, citando como exemplos a exchange descentralizada Jupiter (JUP) e o protocolo de staking líquido Jito (JTO).

Preço dos tokens DeFi não está correlacionado à eficiência ou inovação

Medeiros conclui sua reflexão chamando a atenção para o paradoxo entre as narrativas em voga no mercado e a inovação. Não fosse a infraestrutura e as aplicações desenvolvidas em protocolos DeFi, novos segmentos de mercado como ativos do mundo real (RWA)staking líquido e restaking não teriam surgido.

Outro ponto a ser observado, segundo o analista, é que a adoção da tecnologia e da infraestrutura de finanças descentralizadas por instituições financeiras tradicionais validam o potencial disruptivo das soluções de DeFi:

“Essa infraestrutura tem sido cada vez mais adotada pelo sistema financeiro tradicional em projetos de tokenização e de desintermediação. Bancos, grandes corretoras e grandes gestoras estão adotando e testando a tecnologia.”

Para Medeiros, uma das principais evidências da real utilidade real das finanças descentralizadas é o BUIDL, fundo RWA da BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, com mais de US$ 10 trilhões em ativos sob gestão.

Por fim, o analista afirma que é um equívoco correlacionar o preço dos tokens de DeFi a inovações ou a eficiência dos protocolos:

“A tecnologia tem se desenvolvido, mas os preços dos tokens são 100% especulativos. Se todos os tokens DeFi fossem a zero, Uniswap, Aave, Jupiter, o ecossistema continuaria funcionando, a máquina continuaria girando, os contratos inteligentes continuariam funcionando e as inovações continuariam surgindo.”

Fonte: Cointelegraph
Imagem: Freepik

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