Uma equipe da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) anunciou uma descoberta promissora: uma planta nativa do Brasil, chamada Trema micrantha Blume, produz canabidiol (CBD) em suas flores e frutos sem conter tetrahidrocanabinol (THC) — o composto psicoativo da Cannabis sativa.
A identificação do CBD em uma espécie não psicotrópica e de livre cultivo no Brasil representa um potencial divisor de águas para o acesso aos tratamentos com canabinoides e para o desenvolvimento de uma cadeia produtiva nacional de medicamentos à base de cannabis.
Ao contrário da planta de onde o CBD tradicionalmente é extraído — a Cannabis sativa, ainda proibida para cultivo no país —, a Trema micrantha não é considerada entorpecente e cresce espontaneamente em diversas regiões do território nacional.
Atualmente, a Anvisa autoriza o uso medicinal de produtos com CBD desde que contenham, no máximo, 0,2% de THC. Essa exigência tem limitado a produção nacional, uma vez que o cultivo da cannabis para fins medicinais ainda não é regulamentado. Com a nova descoberta, essa barreira regulatória poderia ser contornada, viabilizando o cultivo livre de uma fonte natural de canabidiol.
“A Trema micrantha já está presente na flora brasileira e pode ser cultivada sem restrições legais. Isso abre uma possibilidade real de produzir CBD em território nacional com menores custos e maior acessibilidade”, afirmam os pesquisadores.
Impacto na saúde pública e na indústria de canabinoides
A descoberta da UFRJ chega em um momento crucial para o debate sobre a regulamentação da cannabis medicinal no Brasil. Com milhares de pacientes em busca de tratamentos baseados em CBD — para epilepsia, autismo, dor crônica, doenças neurodegenerativas, entre outras —, a possibilidade de uma produção nacional, legal e mais barata pode impactar positivamente o Sistema Único de Saúde (SUS) e os custos das importações, atualmente elevados.
Pesquisas adicionais ainda são necessárias para avaliar a viabilidade da extração em escala, a concentração de CBD, e a eficácia clínica do composto derivado da Trema micrantha. Mas especialistas já apontam a descoberta como um marco científico com grande potencial terapêutico e econômico.
“Estamos diante de uma oportunidade de ouro para ampliar o acesso à cannabis medicinal no Brasil com segurança, legalidade e soberania científica”, resumem os pesquisadores da UFRJ.
Fonte: Cannabis Medicinal
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