O quarto dia de Bienal do Livro Bahia recebeu atrações como Tiganá Santana, Babi Dewet, Tiago Valente, Hugo Canuto, Patrick Torres e outros nomes da literatura nacional, além de Vanderson Nascimento, Luana Oliveira e Muller Nunes, jornalistas da TV Bahia. Os temas de destaque desta segunda-feira (29) foram os hábitos de consumo de leitura, negritudes em ascensão na televisão e cosmologias afro diaspóricas em criações artísticas.
Na Arena Jovem, que é um dos espaços da Bienal, a autora Babi Dewet, e os criadores de conteúdo Tiago Valente e Patrick Torres participaram do painel “As @ que norteiam as nossas leituras”, no qual conversaram sobre estratégias para incentivar a leitura pelas redes sociais. Com 37 anos, Babi Dewet lembrou que, anos atrás, blogs e fóruns, como o Galera Record, eram algumas das principais plataformas de trocas de indicações e informações sobre livros na internet. Ela contou como tem recebido e se adaptado ao fenômeno Tik Tok.
“Hoje sei que os autores nacionais vendem muito mais quando são sucesso no Tiktok e até hoje eu não sei mexer no Tik Tok. Aprendi que preciso fazer, pelo menos, uns 200 vídeos sobre o meu próprio livro toda semana”, brincou ela.
Influenciador digital com mais de 500 mil seguidores, o ‘booktoker’ Tiago Valente conta que só aos 24 anos descobriu que o seu gênero literário favorito tem um nome: cozy mystery ou, em português, mistério aconchegante. “Tem morte, mas não tem sangue exatamente. Eu entrei num vórtex de só querer ler isso e minhas referências são nomes como a própria Agatha Christie, Raphael Montes”, disse.
Já no espaço Café Literário, na mesa “Negritudes em ascensão”, o jornalista Vanderson Nascimento recordou a sua trajetória até se tornar um dos primeiros homens negros a atuar como apresentador na TV Bahia. Ele contou que nunca chegou a pensar em trabalhar em televisão porque o racismo estrutural não possibilitou que se enxergasse nesse lugar antes.
“Estamos caminhando, mas é uma caminhada mais lenta do que eu gostaria. A redação da TV hoje também é diferente de oito anos atrás. A cor também está na redação porque não basta só colocar preto na tela. Quando olho a redação, penso: Agora, sim, essa redação tem a cara dessa cidade. O racismo é muito cruel com a gente. Tenho uma característica de fazer um jornalismo com leveza, mas com muita responsabilidade com a informação”, disse.
Luana Souza, por sua vez, defendeu que a representatividade racial é como uma espécie de combustível para que jovens se vejam nos locais que hoje eles ocupam na televisão. “O nosso tempo é agora e a gente precisa dar continuidade. Somos muitos dentro da emissora, mas ainda precisamos de mais para ter equidade”, completou.
Também no Café Literário, na mesa de encerramento do dia, voltada a culturas “Banto e Yorubá”, o compositor Tiganá Santana relatou como aconteceu o seu contato com línguas africanas e de que forma elas passaram a integrar o seu trabalho artístico. Santana relatou que aos cinco anos de idade acompanhava a mãe em aulas de kikongo no Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA.
“Quando fui fazer arte, a compor, havia uma coisa interna que solicitava a expressão destas palavras em línguas africanas que já estavam comigo desde os cinco anos. A criação a partir dessas línguas têm uma dimensão que é propriamente estética, que conjura um tipo de sonoridade, e tem uma dimensão política, no sentido de trazer ao público brasileiro canções em línguas cuja relação foi cortada devido ao colonialismo”, contou.
O artista argumentou ainda, que o lugar da identidade negra é importante, trata-se de uma disputa política fundamental. “Na medida em que não se deve corresponder esse lugar que nos colocam, fazer arte é reavivar a multiplicidade de possibilidades de ser”, completa.
Fonte: Via Press
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