Pesquisa TransOdara analisou a prevalência de HIV entre mulheres transexuais e travestis de capitais das cinco regiões brasileiras
Mulheres trans que atuam como trabalhadoras sexuais são, usualmente, mais expostas a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e ao HIV, o vírus da Aids. A prevalência geral deste vírus na população em mulheres transexuais, em cinco capitais de diferentes regiões brasileiras, é de 34%, segundo pesquisa de diversas instituições, entre elas, a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os dados estão publicados na edição de segunda (19) da “Revista Brasileira de Epidemiologia”.
O número é muito superior à prevalência do HIV na população geral de mulheres brasileiras, que, em 2015, registrou 0,4%, segundo dados do Ministério da Saúde.
O trabalho analisa os resultados relativos ao HIV da pesquisa TransOdara. Liderada por pesquisadores do Núcleo de Pesquisa em Direitos Humanos e Saúde da População LGBT+, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, ela contou com a colaboração de diversos núcleos de pesquisa multidisciplinares em diferentes capitais do país.
Realizado entre dezembro de 2019 e julho de 2021, o estudo levantou dados sobre IST entre uma população de 1.317 mulheres travestis e transexuais de Campo Grande (MS), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Salvador (BA) e São Paulo (SP), representando cinco macrorregiões brasileiras. Para avaliar a prevalência do HIV, foi pedido às entrevistadas que realizassem um teste rápido, 97% consentiu.
Entre essas capitais, Porto Alegre teve a maior prevalência de HIV na população estudada, de 56%. Manaus (37%), Salvador (31%), Campo Grande (27%) e São Paulo (26%) apresentaram prevalências menores. Segundo o trabalho, as características da epidemia de HIV/Aids no Rio Grande do Sul (RS) podem explicar o número alto da capital gaúcha. Em 2022, a taxa de detecção da doença no RS foi uma vez e meia maior do que a do país (24 por 100 mil habitantes, contra 16 por 100 mil habitantes).
A maioria das entrevistadas se definiu como mulher ou mulher transexual, heterossexual e tinha até 30 anos. Quase metade da amostra foi de mulheres negras (45%). Pouco mais da metade completou o ensino médio (52%) e exercia trabalho informal (78%). A maior parte referiu o trabalho sexual como principal atividade laboral ao longo da vida (74%).
“A prevalência de HIV, infelizmente, é esperada que seja alta, porque essas mulheres se encontram em um contexto de vulnerabilidade”, afirma Inês Dourado, epidemiologista e professora titular do programa de pós-graduação do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e autora principal do estudo. “E é uma vulnerabilidade estrutural, que engloba questões socioeconômicas, de acesso a emprego estável e a serviços de prevenção e cuidado de IST, além das questões de estigma, discriminação e violência enfrentadas no cotidiano das mulheres trans”, complementa.
De acordo com a pesquisadora, estudos quantitativos sobre a população trans e travesti brasileira são ainda pouco executados na academia, mas muito importantes para auxiliar na implementação de políticas públicas e levar informação às pessoas e aos tomadores de decisão. “Estudos epidemiológicos eram raros e não existiam fora das regiões Sul e Sudeste. O TransOdara tem uma abrangência maior e podemos ter um retrato melhor do Brasil com relação a estes dados”, diz Dourado.
Fonte: Agência Bori
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