A decisão da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados em aprovar o projeto de lei 4941/2009 que endurece as penas para o uso e transporte de drogas é um retrocesso preocupante. Ao invés de buscar soluções mais efetivas e humanas para lidar com o problema do uso de drogas, a comissão optou por uma abordagem punitiva que perpetua a guerra às drogas, uma política falida que tem se mostrado ineficaz em diversos países ao redor do mundo.
A proposta de autoria do deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE) de prisão de dois a quatro anos para quem adquirir, guardar, ter em depósito ou transportar drogas é uma medida extremamente dura, que pode ter consequências graves para milhares de pessoas que são vítimas do vício e da dependência química.
Ao invés de oferecer tratamento e suporte para aqueles que enfrentam problemas com o uso de drogas, o projeto apenas reforça a criminalização e a estigmatização dessas pessoas, contribuindo para o agravamento do problema.
Além disso, a proposta também prevê o pagamento de multas exorbitantes no valor de cinco a sete salários-mínimos. Em caso de reincidência, o projeto também estabelece o aumento de um sexto da pena, uma abordagem que pode afetar desproporcionalmente as populações mais vulneráveis e marginalizadas.
Em vez de oferecer alternativas de tratamento e recuperação, o projeto apenas agrava as punições, ignorando as raízes complexas do uso de drogas e suas conexões com a desigualdade social e econômica.
Ainda mais preocupante é o fato de que essa decisão ocorre em meio ao debate sobre a descriminalização do porte de drogas pelo Supremo Tribunal Federal. Enquanto alguns países estão avançando em direção a políticas de redução de danos e tratamento, o Brasil parece caminhar no sentido oposto, endurecendo ainda mais as leis e penalizando ainda mais aqueles que precisam de ajuda.
Retrocesso
O relator da matéria na comissão, deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB), afirmou que o uso de drogas “tem sido um dos grandes problemas da nossa sociedade. Os jovens são os que mais sofrem”.O projeto foi aprovado e deverá ser enviado à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
Segundo os especialistas em políticas públicas de drogas, a hora é de repensar a abordagem em relação às drogas. É preciso investir em políticas de saúde pública que enfoquem na prevenção, tratamento e redução de danos, ao invés de ações repressivas que apenas perpetuam o ciclo de violência e marginalização.
Fonte / Foto: Cannabismedicinal