Depoimentos reunidos no 3º Encontro com Artistas de Rua vão auxiliar na construção do edital de convocação da audiência pública que vai discutir o fomento e a não-marginalização da arte de rua
Hip hop, poesia, literatura, teatro. Será que a arte deve ficar confinada a algum espaço? Ou deve tomar as ruas, as mentes e formar laços? Para discutir o cenário da arte livre na Bahia, a Ouvidoria Cidadã da Defensoria Pública da Bahia (DPE/BA) realizou o 3° Encontro de Artistas de Rua nesta terça-feira (20).
Com a temática “direito a ocupar o seu espaço”, o evento reuniu poetas, MCs, rappers, slammers de batalhas de rima e artistas que fazem da arte sua vida, que tiram o seu ganha pão expressando-as em espaços públicos como metrô, ônibus e ruas. O objetivo foi levantar informações para a construção do edital da audiência pública que vai convocar a população e autoridades de diversas instituições para discutir o fomento e a não-marginalização da arte de rua.
Na ocasião, artistas relataram a diminuição de espaços e do tempo que têm para organizar eventos culturais como batalhas de rimas, slams, saraus, e que a falta de incentivo vem desestimulando artistas e “sufocando a cena”. Também relataram episódios de violência na abordagem de seguranças particulares e de agentes públicos quando tentam mostrar seu trabalho nos espaços da cidade.
“Na favela, se não tiver cultura, ensino e trabalho, é tráfico, infelizmente. Eu poderia ser um bandido, um cara morto, mas o hip hop salvou a minha vida. Não tive muito retorno ainda, mas faço com amor, pois a arte para mim é libertação, paz de espírito”, declarou Oxóssi de la Rua, MC poeta, arte educador e mobilizador cultural do território do subúrbio.
Oxóssi – que se considera um “poeta histórico”, por trazer em suas poesias o viés popular da história do Brasil – explica que o trabalho de rua é levar reflexão, senso crítico e emoção para as pessoas, que muitas vezes estão vivendo as vidas sem qualquer estímulo, apenas pegando seu transporte e trabalhando, sem nunca se conectar com o real, com a luta, a resistência, a beleza e a arte da vida que paira ao seu redor.
“A gente espera melhoria, mais legitimidade para o nosso trabalho, que é educacional. Mas nas ruas, nos lugares públicos, a gente não é bem aceito. Se é no metrô, a gente não pode fazer arte. No ferryboat, a gente paga e não pode. Arte não é coisa de vagabundo”, desabafa.
De acordo com a ouvidora-geral da DPE/BA, Naira Gomes, a ideia é fazer da Defensoria uma grande rede de apoio para artistas de rua, e o encontro visou a defesa do direitos destes artistas ocuparem o espaço público e de fazerem a cidade ter acesso a arte e cultura.
“O próximo passo é trazer o esboço do edital para eles e elas lerem junto com a gente, aprovarem e a gente convocar a audiência. Foi importante ouvir essa diversidade de experiências de uma Bahia inteira e uma Salvador que quer fazer arte e cultura na rua, mas que é negligenciada e subestimada pelo poder público. Fomentar espaços culturais impede mortes, pois a arte liberta mentes e é emancipadora para quem a faz e quem a consome”, alertou Naira.
O encontro aconteceu no Sindicato dos Trabalhadores de Água e Esgoto (Sindae) e contou com a presença de representantes de diversos movimentos culturais, como o Educa Rap da UFRB, a Construção Nacional Hip Hop Bahia, Batalha da Lord, Slam da Resistência, Coletivo Cultural Fábrica de Rimas, CUT, entre outros. Além disso, contou com a participação online de defensoras e defensores públicos e artistas e apoiadores.
Fonte / Fotos: DPE/BA