Participantes debateram políticas públicas, transfobia e direitos, bem como os desafios de ser uma mulher trans no país que mais mata LGBT+ no mundo
Janeiro é o mês da visibilidade trans. Para celebrar a data e marcar a luta contra a transfobia, a Defensoria Pública da Bahia (DPE-BA) promoveu roda de conversa com diversos(as) convidados(as), na manhã desta quinta-feira (25). Esse foi o primeiro evento público da DPE-BA na Casa da Mulher Brasileira, nova sede do Nudem (Núcleo Especial de Defesa dos Direitos da Mulher). Com o auditório cheio, os(as) participantes debateram políticas públicas, preconceitos e direitos, bem como os desafios de ser uma mulher trans no país que mais mata LGBT+ no mundo.
A coordenadora do Nudem e da Especializada de Proteção aos Direitos Humanos da Defensoria, Lívia Almeida, afirmou que a Casa da Mulher Brasileira atende as mulheres vítimas de violência e que a equipe precisa estar capacitada para receber as mulheres trans, sem que elas saiam do espaço humilhadas, constrangidas e desrespeitadas. “Transfobia é crime, que pode ser cometido de diversas formas, inclusive sutis, como a utilização equivocada do pronome de tratamento. Não é favor tratá-las com dignidade, mas sim direito”, reforçou.
O coordenador do Ambulatório Multidisciplinar em Saúde de Travestis e Transexuais (Cedap/Sesab), Ailton da Silva Santos, afirmou que está na hora da sociedade brasileira avançar e ressignificar a noção de gênero, superando o pensamento binário e a heterossexualidade compulsória. “O pensamento binário divide as pessoas e causa muita opressão. A interseccionalidade é fundamental para ver quem é mais vulnerável entre os mais vulneráveis e agir de forma mais rápida e eficiente com essas pessoas. Espero que essa casa assuma um olhar mais humanizado sobre essas pessoas”, comentou.
A cantora e pesquisadora em diversidade sexual e de gênero, Yuna Vitória, pontuou as tantas dificuldades enfrentadas por uma mulher trans, desde a construção de afetos – inclusive com a família – até o respeito ao nome social, formação profissional e empregabilidade. Servidora da Defensoria, Yuna destacou ainda a importância de a instituição estar apta a atender as mulheres em suas multiplicidades. “É extremamente importante e urgente que a gente discuta em todos os espaços questões de gênero e sexualidade, porque hoje em dia não existe mais aquele local setorizado e especializado em pessoas trans. As pessoas trans estão em todos os lugares e é um dever de todo mundo saber pelo menos o básico sobre isso”, afirmou.
A coordenadora do Núcleo LGBT+ do governo da Bahia, Tiffany Conceição, falou da importância de se intensificar as pautas e as demandas trans, de forma a transformá-las em políticas públicas. “Nós queremos ser lembradas e ser visíveis. Nós estamos vivendo no país que mais mata pessoas transexuais, 90% dos nossos corpos estão em situação de rua ou no mercado informal da prostituição. Só 0,02% das mulheres trans têm acesso ao Ensino Superior. Então a tão falada igualdade não foi atingida”, protestou.
Diversas pessoas que trabalham na Casa da Mulher Brasileira participaram do debate, inclusive representantes da Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher), da Polícia Militar, secretarias municipais e estaduais que atendem no espaço. Os atendimentos pelo Nudem não precisam ser agendados, basta chegar na Casa e procurar a DPE/BA. Os horários de funcionamento são de segunda a quinta, das 8h às 17h e às sextas das 8 às 14h. Na Casa da Mulher Brasileira também estão presentes outros nove serviços de atenção e combate à violência de gênero.
Fonte: DP/BA
Foto: Divulgação