O Supremo Tribunal Federal (STF) realizou em Brasília, na última sexta-feira (15), em parceria com universidades públicas, o seminário Combate à Desinformação e Defesa da Democracia. Focando temas como educação digital, checagem de fatos e regulação dos meios de comunicação, o evento também contou com a participação da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e do Colégio de Gestores de Comunicação das Universidades Federais (Cogecom).
Professor da Universidade Estadual de Santa Catarina (Unesc), Gustavo Borges destacou a necessidade de diferenciar desinformação de informação errônea. “A Unesco aponta sobre a necessidade do estabelecimento claro entre a desinformação, que é quando se tem uma estratégia, com o objetivo de causar um dano, da informação errônea”, disse.
Borges também abordou o uso de robôs nos processos de propagação de desinformação, lembrando que tal estratégia confere “aparência de credibilidade que diminui a resistência dos leitores”.
Educação midiática
Para ele, o Brasil deve contar com um código de conduta sobre desinformação semelhante ao adotado na Europa, que prevê iniciativas como desmonetização de sites que propagam fake news, transparência da propaganda política, além de capacitação de usuários, pesquisadores e da comunidade de verificação de fatos. “Não adianta só legislar. Precisamos de políticas públicas de educação digital.”
Cofundadora do Sleeping Giants Brasil, Mayara Stelle falou sobre o estudo Global de Desinformação (GDI), divulgado em 2020, informando que, segundo o levantamento, a indústria desinformativa movimentou em 2019 US$ 235 milhões em publicidade online. Ela observou que há empresas que patrocinam de forma consciente a desinformação, mas muitas desconhecem o perfil dos sites que recebem suas verbas publicitárias.
“Hoje em dia, as empresas preferem confiar nas gigantes da internet para fazer a distribuição automática da publicidade. Assim, grandes empresas acabam parando em sites desinformativos, com comportamentos nocivos e odiosos. Essa é uma situação muito comum, deixando claro que se trata de um problema sistêmico.”
Professor de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Edgar Rebouças criticou o que chamou de “extinção por completo da Lei de Imprensa, por decisão do próprio STF”. Para ele, a decisão causou uma “queda abrupta na qualidade do jornalismo”.
“Nesta casa aqui, participei de discussões e embates nos quais eu sempre defendi o lado da defesa da liberdade de expressão. Mas a liberdade de expressão para a sociedade, com controle social. Não a liberdade de expressão defendida pelo lado das empresas de mídia. Foram vários embates no STF, no Senado e na Câmara. Invariavelmente, perdi todas as vezes”, lamentou o professor.
Por outro lado, Rebouças comemorou o que chamou de mudança de posição dos ministros do STF, que hoje seriam mais abertos à “regulação de todo o processo midiático.
Rebouças criticou ainda o fim, em 2009, da obrigatoriedade do diploma para jornalistas, que também ocorreu por decisão do STF. “Desde então, qualquer pessoa que tenha mais de 14 anos e seja brasileiro pode ter o registro profissional de jornalista. Não precisa nem saber ler e escrever.”
Fonte: Portal Imprensa
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom